Netflix - 1976 (Chile '76)

4/11/2023 11:46:00 PM |

Ultimamente o Chile e a Argentina andam dando aulas de como fazer bons filmes dramáticos de época, sejam eles biografias ou simplesmente ficções embasadas nos acontecimentos da época da ditadura em seus países, pois não criam apenas tramas simplesmente jogadas, mas acabam desenvolvendo situações que envolvem e causam com muita efetividade e passam para o público que vai assistir exatamente as sensações que as pessoas comuns tinham na época estando ou não a favor do que aconteciam por lá. E com o lançamento da Netflix, "1976", vemos bem essa essência marcada na casa de uma mulher bem rica que passa a sentir tudo o que apenas via e ouvia acontecer na TV e nos jornais, estando no meio de algo escondido aonde poderia estragar sua vida, mas que faz pelo seu interior e consegue passar comoção e muito envolvimento. Ou seja, é daquelas tramas que muitos se perguntariam o motivo de alguém ajudar os outros numa situação assim, mas que quando a pessoa é boa, ela sabe sua recompensa interior, valendo ser visto tanto pelo estilo bem retratado da época quanto pela ótima atuação e entrega da protagonista.

O longa nos situa no Chile, em 1976, um dos mais sangrentos anos da ditadura do general Augusto Pinochet. Carmen é uma dona de casa que vive a placidez da vida burguesa de classe média. Até o dia em que recebe o apelo do padre da família para que esconda, por piedade, um refugiado político em sua casa de praia.

Diria que a diretora e roteirista Manuela Martelli soube conduzir sua obra de uma maneira bem segura do que desejava expressar na tela, pois o filme causa a densidade do afeto da protagonista para com o homem debilitado, e mesmo ela não sendo alguém que tradicionalmente estaria no meio dos protestos, acaba ajudando ele não apenas como uma tratadora, mas também de formas investigativas, participando de conversas e indo em lugares tecnicamente proibidos, e isso facilmente causa muitas sensações para o público, assim como causa sensações na personagem principal, de tal forma que a cena do barco é daquelas icônicas do cinema, mostrando o que muitos deveriam sentir ao falar da ditadura. Ou seja, é um filme que muitos vão ter diversas opiniões e sensações, e que felizmente a diretora demonstrou de cara a sua própria opinião, mostrando que valeu o risco e principalmente soube como não fazer seu filme ficar artificial como algumas vezes ocorrem nesse tipo de trama.

Quanto das atuações, outro ponto certeiro foi focar quase que 100% em cima da protagonista Aline Küppenheim com sua Carmen, de forma que a atriz conseguiu transmitir sentimentos, fazer trejeitos fortes e diretos em cada ato, passando uma verdade sobre o tema, que é ter medo, ter compaixão, ter desespero e tudo mais, ou seja, se entregou por completo sem sair do ar de burguesia, mas sabendo se portar frente à tudo o que ocorre, e isso mostrou técnica e um ótimo preparo para convencer o público do que estava fazendo ali. Quanto aos demais, a maioria apenas dá os devidos encaixes, não indo nem muito além, nem entregando falsos personagens, apenas auxiliando para que a protagonista se destacasse muito no filme, valendo apenas ressaltar Nicolás Sepúlveda com seu Elias, Hugo Medina com seu Padre Sanches, e claro as empregadas Carmen Gloria Martínez e Vilma M. Verdetta pelos devidos atos simples, porém bem feitos.

Visualmente a trama traz alguns bons contrapontos, mostrando uma família bem de vida, que teoricamente passaria toda a ditadura curtindo suas férias na casa de praia, reformando com as cores de livros, fazendo festas, viajando de barcos e tudo mais, mas a protagonista se envolve com a Igreja local, resolve ajudar e vai para praias afastadas, meio que abandonadas, vê pessoas sumindo no meio da comunidade, feridas e tudo mais, ou seja, a equipe de arte quis mostrar muito dessa jogada e foi muito bem nas alegorias, carros e figurinos da época, acertando bastante em tudo.

Enfim, é daqueles filmes que você pode apenas assistir ou refletir sobre tudo o que é mostrado, e que é bem rapidinho, porém intenso de sentir cada situação que a protagonista se envolve para tentar ajudar, ou seja, vale a indicação e com certeza vai fazer quem assistir se ver em um mundo que ocorreu no passado e que alguns ainda desejam ver outras vezes, então fica a recomendação. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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