Muitas vezes fico me perguntando o motivo de uma novela/série ter tantos capítulos e enrolações sem ser a motivação de dinheiro dos patrocinadores, pois dá tranquilamente para contar uma vida inteira em duas horas, sobrando espaço para vários desembaraços, e um cinema que sabe fazer isso bem é o italiano! No Festival Italiano que tivemos em Novembro do ano passado consegui ver vários filmes, e por incrível que pareça acabei perdendo três longas apenas, e eis que agora na próxima quinta-feira 13/04 irá estrear nos cinemas um deles, que no caso recebi via cabine de imprensa para conferir hoje, e posso dizer que "O Colibri" é uma dessas obras cheias de estilo que nas mãos de qualquer roteirista de novela transformaria fácil em uma trama de uns 80 capítulos, mas que felizmente virou um filme italiano bem feito, emocional e interessante de acompanhar pelas duas horas de projeção, e que quem gosta do estilo romance/drama vai gostar de ver a vida completa de um garoto que não crescia, seu pai lhe deu hormônios, gostava da vizinha que a família não se dava bem, cresceu, casou com outra, teve filha, neta, viveu jogando e dando lições até chegarmos no seu finalmente de despedida, ou seja, em resumo tudo acontece na trama com mortes inesperadas, sofrimentos, amores, ilusões e desilusões, que funciona, e até envolve. Não sou o maior adepto do estilo novelesco de cinema, mas diria que a trama aqui foi tão bem trabalhada que o resultado me convenceu a gostar do que vi, então acredito que para muitos vai agradar também.
Diria que a diretora e roteirista Francesca Archibugi soube conduzir o livro de Sandro Veronesi com uma pegada muito bem trabalhada e entrelaçada de detalhes, não fazendo quase que em nenhum momento algo sequencial, tendo quebras a todo momento para atos do passado que se misturam com presente, meio como se fossem as lembranças do protagonista vindo em sua mente nos seus últimos momentos que ele mesmo decide ter, ela nos permite ter esses encontros e desencontros amorosos e dramáticos que a vida pode nos pregar de uma maneira única e bem colocada que acaba agradando de certa forma, mas que brinca com nossa mente sem deixar que saibamos realmente o que está acontecendo ali. Ou seja, a diretora soube ousar para que seu filme tivesse uma vida maior e não ficasse tão amarrado aos detalhes, o que é bem interessante de ver, pois sem precisar exagerar nos atos conseguiu em duas horas algo que muitos entregariam em meses.
Sobre as atuações, outro fato interessante da trama foi trabalhar com poucos atores em foco, pois a trama dava aberturas gigantescas para tudo, e a equipe de maquiagem também trabalhou bastante para envelhecer os protagonistas nas várias fases que o longa entrega, usando somente alguns atores diferentes nos atos da infância/juventude do protagonista, ou seja, teve muito ganho de personalidade com tudo. E claro o destaque fica para o protagonista Pierfrancesco Favino que costumeiramente o vemos em personagens bem de cara fechada, trouxe aqui para seu Marco um olhar meio que vago, sempre em busca de algo, meio que sofrido, mas doce, meio que clássico de essência, mas se desenvolvendo com todas as intensidades, e assim deu tudo para que o personagem fosse muito além e agrada sem soar falso em nenhuma das épocas, o que é muito válido, pois poderia ir melhor em uma ou outra fase, e conseguiu não precisar mudar de atores. Tivemos também Bérénice Bejo muito bem encaixada com sua Luisa, trabalhando de maneira envolvente uma personagem ampla de ideais, solta e cheia de detalhes, que como sendo a grande paixão do protagonista poderia ir para outros rumos mais tórridos, mas que se desenvolve bem na estrutura, faz trejeitos e olhares marcantes e chama para si os atos sem apagar o protagonista. Já Kasia Smutniak trabalhou sua Marina de forma explosiva, e vi isso nela desde o ato que aparece na TV antes de se casar com o protagonista, sendo uma mulher forte e dinâmica, que não chegaria ao fim tão normal e calma como Marco, e assim desenrola bem todos seus pontos e chama atenção para si em suas cenas, o que é errado de certa forma, mas que não atrapalha. Ainda tivemos em cena vários outros bons atores nos devidos personagens e desenvolvimentos, mas não vou me alongar muito e darei destaque apenas para Benedetta Porcaroli com sua Adele bem direta nos pontos-chaves junto do pai, e também Nanni Moretti que começa como o psicanalista de Marina, mas que depois acaba sendo um grande amigo do personagem principal, e dá os devidos fechamentos que ele precisava.
Visualmente o longa passeia por Roma, Florença, Paris, mostra praias bonitas na beira das casas, e alguns poucos desenvolvimentos internos, trabalhando claro os figurinos e carros das épocas, e até bem poucos símbolos, deixando mais as desenvolturas para os protagonistas entregarem em seus atos, e como disse tudo acontece muito rápido sem grandes floreios, e isso é um grande acerto por parte da equipe, que talvez até acabasse enrolando muito se colocasse detalhes em tudo, e assim o resultado é correto dentro da proposta, mas que não ousa em marcar território, apenas não errando de forma alguma nos detalhes de época e assim funciona.
Enfim, é um filme interessante, bem feito e desenvolvido, que traz um lado emocional bem colocado para quem gosta do estilo, então se você gosta de novelas e romances dramáticos bem encaixados, o resultado vai agradar bastante valendo a recomendação para assistir ele na próxima semana, mas se não for seu estilo é melhor pular para outra sessão, pois mesmo gostando do que vi, sei que muitos acabam cansando com o estilo novelesco, então deixo essa ressalva aqui. E é isso meus amigos, eu fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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