Diria que o diretor e roteirista Iberê Carvalho foi bem ousado na composição textual que fez com o uruguaio Pablo Stoll, pois além de mostrar uma crítica social bem forte em cima de um tema complexo que é a segurança pública misturada com racismo e doses homeopáticas de defesas em mídias sociais para ganhar curtidas, de tal forma que mesmo sendo uma ficção e não tendo embasamento em nenhum grande caso específico conseguimos enxergar muitos atos que pipocaram nos jornais e redes sociais nos últimos anos no país, afinal sabemos bem como foi complexo tudo o que rolou nesse meio com os "defensores do bem". E dessa forma o diretor não quis economizar em atos ousados e bem marcados, misturando um pouco de tudo o que já vimos com uma ideia original e bem trabalhada, que fecha bem cada ato sem precisar de explicações, deixando no ar exatamente o que aconteceu, e o peso das interpretações falando mais alto. Ou seja, diria que é um trabalho perfeito de indignação pessoal que funciona dentro das linhas que pode jogar, que talvez seja muito criticado por não seguir o padrão, mas que agradará muitos que andam indignados também.
Sobre as atuações, diria que sempre gostei mais de Paulo Miklos cantando do que atuando, porém aqui o papel caiu muito bem para ele, e o seu Aurélio lembrou muitos outros artistas polêmicos que se viram acuados, ameaçados e tudo mais ao defender algumas causas nos últimos anos, e ele soube expressar bem, dar a cara para bater, se impor e tudo mais para que ficasse bem realista sua interação, o que acabou marcando bastante suas cenas, ou seja, deu o nome para o papel. Thaíde também teve bons atos com seu Béstia, sendo meio como um personagem de conexão, mas dando bons pitacos e chamando atenção por ser direto como deve ser no papel que fez. Dandara de Morais fez bem sua jornalista-ninja Helena, tendo momentos chamativos, mas que ainda davam para serem mais explosivos, de modo que diria que faltou um pouco de atitude o que acabou compensado por Thales Cabral com seu Rudah mais direto e presente nas cenas mais tensas do final. Ainda tivemos bons momentos com Tamirys O'Hanna como Marina irmã do garoto envolvido no conflito, fazendo interações bem marcadas e diretas, e claro Murilo Grossi como o Sargento que vai causar muita indignação pelos atos finais, além claro de vermos depois todo o ato antes de acontecer a confusão com o garoto Felipe Kenji bem assustado com tudo, e trabalhando bem a expressão clara de muitos jovens numa situação desse estilo. Ou seja, diria que todos atores foram bem usados dentro da proposta, tendo alguns com maior intensidade e outros com atos menos diretos, mas todos bem dentro da proposta.
Visualmente o longa é bem urbano, cheio de interações, já começando com um show bem cheio revirado com o público tacando coisas nos cantores, vemos depois toda um conflito num restaurante com pessoas atrapalhando a noite dos músicos, algumas cenas em um hospital e já vamos direto para uma comunidade mais simples, caindo para uma boate, algumas cenas num escritório jornalístico bem escondido, e os atos mais fortes num depósito abandonado, além de mostrar também como foi a entrega de roupas que o garoto fez e acabou causando todo o conflito. Ou seja, a equipe foi bem enxuta, sem atos recheados de detalhes cênicos, mas bem explicativo para o público não ficar solto na proposta, de modo que tudo funciona bem, só teria um ponto a criticar: a fotografia bem escura, que embora funcione na proposta por seguir de perto o protagonista, acaba tendo alguns atos que quase não distinguimos bem os personagens, de modo que dava para dar uma compensada com luz falsa para melhorar um pouco e ainda continuar com toda a tensão, mas não é nada que atrapalhe.
Enfim, é um tremendo filmaço nacional, cheio de críticas e dinâmicas bem contextuais com o mundo atual, que não sei se chegará em todas as cidades nos cinemas, mas que muitos devem ver para saber que muitas vezes é melhor não se envolver em uma polêmica, pois nem sempre (ou melhor quase nunca) a justiça favorece o lado mais fraco da corda. E é isso pessoal, recomendo a todos que vejam assim que chegar nas suas cidades e/ou nos streamings mais para frente, e claro agradeço o pessoal da assessoria pela cabine de imprensa, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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