Amazon Prime Video - Till: A Busca Por Justiça (Till)

6/19/2023 06:40:00 PM |

Costumo dizer que para uma mãe buscar por justiça pela morte de um filho é algo que não para nunca, e essa sensação quando bem trabalhada numa trama fica tão intensa e marcante que tudo acaba fluindo de uma forma tão densa que o resultado acaba indo até além. O longa "Till - A Busca Por Justiça" não chegou a passar nos cinemas por aqui, mas agora que entrou em cartaz na Amazon Prime Video acaba sendo algo que deixa os espectadores com um nó na garganta ao ver um jovem negro cheio de vida que foi passar as férias com os primos numa cidade longe da mãe, e acaba sendo morto por apenas ter assoviado para uma mulher branca, de uma forma intensa e bem dura vemos a mãe sofrendo para conseguir que levassem o corpo até ela, vemos um julgamento de cartas marcadas, e tudo de uma maneira tão forte que não tem como não se emocionar, e que sendo uma história real vemos que algumas leis surgiram logo após o assassinato, mas somente agora quase 70 anos depois que foi criada a lei anti-espancamento, ou seja, muita coisa mudou, mas muita coisa ainda segue mundo afora, e o filme mesmo tendo mais de duas horas passa tão rápido que tudo se sente na mente, ficando depois para a reflexão.

O longa é a biografia de Emmett Till e a luta judicial de sua mãe, Mamie Till. Em 1955, Emmett Till viajou de Chicago para o Mississippi para visitar seus primos. Antes disso, sua mãe lhe disse para tomar cuidado no estado do sul, já que lá ele seria tratado diferente do que em Chicago, por ser negro. No estado do sul, o garoto e seus parentes pararam em uma loja de conveniência, onde a frentista e dona da loja branca Carolyn Bryant alegou que ele lhe assobiou para ela, deixando-a desconfortável, mais tarde alegaria outras informações que nunca poderiam ser constatadas veridicamente. Mais tarde, dois homens brancos raptaram o menino de quatorze anos e matariam, linchariam, amarrariam seu pescoço com arame farpado e jogariam seu corpo fora por conta do que, supostamente, teria feito. Dias depois sua mãe receberia o corpo em Chicago, onde mostraria para todo mundo o estado mutilado e inchado do corpo. A morte de Emmett Till posteriormente ajudaria no Movimento dos Direitos Civis.

Diria que a diretora e roteirista Chinonye Chukwu foi bem direta no desenvolvimento de seu longa embasado na pesquise de mais de 15 anos de Keith Beauchamp sobre todo o desenrolar do crime, do julgamento, das leis, e claro do que acabou acontecendo com os culpados, com a família do garoto e tudo mais, de tal forma que antes Keith já havia feito um documentário sobre o caso, e agora de uma forma bem viva e desenvolvida a trama conseguiu passar bem todo o sofrimento da mãe com tudo o que acabou acontecendo. Ou seja, é um filme que tem um ar emocional que vai até além da proposta, mas que consegue comover e fazer com que o público reflita sobre os casos de racismo e segregação que muitos estados americanos faziam nos anos 50, e ainda alguns não explicitamente fazem, sendo algo intenso de ver, e que usando de muito simbolismo e cheio de boas dinâmicas conseguiu ganhar várias indicações e prêmios mundo afora.

Sobre as atuações, temos muitos bons personagens e expressões de cada um na tela, mas sem dúvidas o filme é de Danielle Deadwiller com sua Mamie, pois a atriz entregou com perfeição seus momentos mais duros, desenvolveu emoções e diálogos tão imponentes que nossos olhos ficam presos com ela desde a separação apenas do filho indo visitar os primos, e depois cada ato seu tem força e presença marcante com muita representatividade e desenvoltura que certamente irá ficar marcado na nossa mente o show que deu. Tivemos ainda Jalyn Hall bem gracioso e cheio de vida com seu Emmet/Bo, tendo atos singelos bem colocados, mostrando ser um garoto agitado que gostava do que fazia, e que certamente não fez todas as loucuras que a mulher representou no julgamento, pois seria impossível um jovem de 14 anos fazer tudo aquilo naquela época, ou seja, foi bem também. Kevin Carroll trabalhou bem seu Rayfield Mooty como um advogado imponente de causa e cheio de intensidade nas palavras. E claro Tosin Cole deu muita intensidade nos atos de seu Medgar Evers, mostrando como desenvolveu todo um projeto em busca da defesa das pessoas de cor no Mississipi. E para finalizar os destaques tivemos tanto Frankie Faison quanto Whoopi Goldberg bem diferentes com seus John e Alma Carthan, pais de Mamie, passando bem o simbolismo de tentar defender a filha de ir para a briga sozinha por algo impossível de ganhar.

Visualmente a trama foi bem representada, mostrando os casebres dos funcionários das plantações de algodão no estado, as mercearias simples administradas pelos donos das terras que ficavam com parte dos salários dos funcionários, vemos uma comunidade/cidade somente de negros no estado aonde todos se preparavam para os devidos julgamentos de classe, e vemos claro toda a diferença de vida deles em Chicago, numa casa bem decorada, vemos todas pessoas da imprensa com fotos para todos os lugares, e claro um julgamento predominantemente branco aonde apenas os negros eram revistados e deixados de pé durante todo o processo, ou seja, a equipe de arte fez muitos símbolos e acertou bem no que foi mostrado.

Enfim, é um filme denso, bem trabalhado, e com uma história imponente bem desenvolvida, que talvez pudesse ter sido até mais dimensionado para termos mais atos na tela usando a mesma duração, mas talvez diminuísse a dramaticidade entregue, e assim sendo vale a recomendação de conferida como foi feito realmente. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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