Canção ao Longe

6/27/2023 10:11:00 PM |

Tenho muitos amigos críticos que não gostam de dividir filmes comerciais e filmes de festivais, falando que ambos podem ser vistos das duas formas que muitos preferem chamar de arte como um elo só, mas é nítido isso quando vemos uma trama mais fechada, reflexiva e que muitas vezes permeia apenas o pensar do(a) protagonista, levando o público a usar o subjetivo da tela para algo menos comum, que recai para o lado de filmes de festivais, contrariando filmes aonde o público vai apenas para se entreter, que não precisa pensar em nada, que vai usar o tempo de tela para realmente sair do seu mundo real e vivenciar algo que nunca imaginaria acontecer. E eu comecei o texto do longa "Canção ao Longe", que estreia no próximo dia 06/07, falando sobre isso, por simplesmente não conseguir enxergar uma pessoa indo ao cinema pagando um ingresso caro apenas para refletir o se encontrar, o eu pessoal falando mais alto na tela, e dinâmicas que por vezes nos levam apenas para o nicho da personagem, que por mais que seja bonita a trama, não vai florear a vida de ninguém, mas sim apenas uma emoção passageira em saber que uma jovem se vê presa à família, e para tentar se encontrar precisa sair dali meio como demolir uma parte sua que não se enxerga mais. Ou seja, é daqueles filmes belíssimos que vemos e nos perguntamos se o diretor(a) quis passar algo ou quis apenas contar uma história, e essa sensação que ao meu ver distingue algo que alguém vai querer ver um filme ou não, e antes de mais nada, antes mesmo de ser crítico, eu sou produtor, e produzir algo introspectivo é lindo para a equipe, mas não para o público que irá ver, pois volto a falar de algo que brigo sempre que recebo um roteiro em mãos, alguém irá pagar para ver isso ou apenas vou ter de ficar correndo para arrumar patrocinadores para ver isso na tela apenas por fazer. Mas voltando para o filme, diria que é algo bonito o querer sair da concha, e a ideia da protagonista é muito bem passada na tela, então pode ser que alguns se identifiquem, e essa busca de um olhar para aonde sua vida está indo pode servir de reflexão ao conferir o longa.

O longa acompanha a busca de Jimena por sua identidade e por seu lugar no mundo. A jovem deseja mudar-se da casa que compartilha com a mãe e a avó e onde se sente deslocada. Ela também precisa romper com seu pai, com quem mantém uma troca de cartas à distância. Nesse movimento, Jimena lida com sua origem, seu corpo, suas escolhas e se depara com o silêncio de suas relações familiares. Através do seu olhar, o filme levanta questões sobre classe, família, tradição, raça e gênero.

Diria que a diretora e roteirista Clarissa Campolina também expressou no seu longa um desejo próprio, afinal aqui é o seu primeiro filme solo, e se vê pronta para uma mudança de ares e estilos, de tal forma que vemos essa essência na tela, vemos o ar de uma mulher que não se vê mais como parte daquele ambiente em si que vive, e isso é intenso de uma forma que faz refletir, ou seja, a trama tem uma boa base, não é algo cansativo de ver, só talvez pudesse já que está com mudança de ares explorar algo a mais, ter mais desenvolturas e desenvolvimentos, seja na nova família, seja no novo apartamento, e não apenas o mostrar, mas sim o agir, que aí sim veríamos sua mão com mais intensidade e o resultado talvez fosse para mais além. 

Sobre as atuações, o longa tem alguns personagens soltos na trama e a protagonista, de forma que todos se envolvem para a dinâmica funcionar ao redor dela, então é claro que os olhares caem todos para Mônica Maria e o que faz com sua Jimena, sendo emocional, mas bem centrada em seus objetivos, trabalhando muitos olhares vagos e reflexivos para passar sua mensagem, por várias vezes vemos o uso da narração para passar o seu pensamento e o que escreveu nas cartas para seu pai, e isso é algo que funciona, mas que também serve de muleta como costumamos chamar o uso de algo de segurança para o desenvolvimento do ator, ou seja, ela consegue fazer com que nossos olhos não saiam dela, e isso mostra a personalidade de uma boa atriz, o que é bem acertado na trama. Outra voz de narração muito usada é a de Jhon Narváez como o pai da garota que trabalhou bem o sentimental no tom da voz, e foi bem direto, ao ponto que funcionou bem dentro da proposta, mas talvez usar o ator mesmo em alguns atos daria um algo a mais para o filme. Dentre os demais, vale leves destaques para Margô Assis como a mãe da protagonista e Carlos Francisco como o motorista da família, mas mais como apoio mesmo para as cenas do que como expressividades mesmo.

Visualmente o longa é interessante, mostrando uma casa de família rica, porém bem antiga, mas sem grandes detalhes para não pesar o orçamento, vemos a jovem procurando apartamentos menores, mas com algo mais sua cara, indo num sebo para procurar ver mais coisas sobre o pai que ficou sabendo, mostra a obra que está trabalhando e em apresentações musicais, todas bem colocadas, mas sem dúvida seu sonho é o ato mais simbólico da trama, que é o de derrubar paredes, ruir toda a estrutura antiga para conseguir abrir espaço para o novo, e assim a direção de arte flerta com o mesmo pensamento e acaba sendo um grande acerto.

Enfim, é um filme bem feito, que certamente ganhou muitos aplausos nos festivais que passou, mas que para funcionar bem numa sessão comercial precisaria ir um pouco mais além, então recomendo ele mais como uma sessão reflexiva sobre mudanças de vida, sessões com debates e claro muitos festivais ainda para ele, pois aí sim o acerto mostra que a diretora está começando um novo mundo, e assim fez valer o que passou na tela. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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