Diria que o diretor, roteirista e protagonista Caetano Gotardo usou muito de sua experiência para criar os personagens e vivências que entrega aqui, de tal forma que você entende muito de memória afetiva, de dinâmicas, de sentimentos e principalmente de relacionamentos com a desenvoltura da trama, de forma que dá realmente para se envolver com os personagens entregues mesmo que por vezes você tem de entender um pouco daquilo que ele quer passar, pois senão corre o risco de achar tudo muito abstrato demais, porém o resultado da direção em si é notável, e diferente do que muitas vezes ocorre de um diretor se dirigir como protagonista, e acabar deixando o restante jogado não acaba ocorrendo aqui, de tal forma que ele dá voz para os que estão compartilhando a tela com ele, e até se livra por momentos, mas em seguida usa aquilo e volta no fluxo. Ou seja, é um bom resultado expressivo, que não tenho como enxergar ele de uma forma artística comercial, pois precisaria mudar o filme todo para ser algo para um público maior, mas que no nicho de festivais é o que o público que frequenta gosta de ver, e assim funciona.
Já no quesito das atuações, a trama entrega algumas falas e pegação, mais falas, mais pegação, ansiedade e movimentos, reflexão, ensaios e tudo de uma forma que tirando o diretor Caetano Gotardo com seu João, os demais parecem tão abstratos em cena que não conseguimos ver o que o diretor realmente desejava extrair deles, de forma que seu namorado Álvaro vivido por Vinicius Meloni tem um carinho e um relacionamento até aberto demais para ouvir o protagonista, repete algumas coisas dos ensaios de sua peça, e faz bem o que deveria de fazer, sem ir muito além. Já Malu Galli trabalha sua Irene de um modo forte e bem colocado, dá as vozes e dinâmicas para duas cenas iguaizinhas em locações diferentes, e consegue criar o ambiente ali para aonde o fluxo deveria seguir, sendo bem expressiva e conectada com tudo, ao ponto que chama atenção. E o jovem que ele conhece no metrô e depois passa a se relacionar, vivido por Carlos Escher até entrega uma sinceridade bem colocada em suas falas, mas não explode como poderia, e isso pega um pouco.
Visualmente a trama tem cenas em três apartamentos dos devidos protagonistas, alguns atos espaçados nas ruas aonde o protagonista fala suas memórias ao telefone desligado vendo as pessoas fazendo suas atividades, um ato numa pinacoteca aonde vemos a repetida cena da protagonista da primeira cena, muita pegação nos quartos e nas salas, e alguns atos num ensaio em uma sala vazia apenas com os personagens dialogando e contando algumas experiências, ou seja, um filme bem cru, claro para ser barato, que não usa muito de alegorias, funcionando mais pelas falas em si dos personagens.
Enfim, muitos vão ler e achar que não gostei do filme, mas pelo contrário, achei ele muito interessante e de impacto sobre esse envolvimento da memória pessoal, das vivências, dos relacionamentos, dos acontecimentos diários em si, porém para o meu gosto pessoal ao qual indico sempre por algo brilhante não colocaria ele para quase ninguém que conheço, salvo alguns amigos fãs de filmes de festivais, pois de resto garanto que muitos irão parar o filme ainda no primeiro ato e os que forem até o fim apenas chegarão lá sem muitas reflexões para fazer, ou até mesmo lembrar dele depois para dar voz a outros, e assim sendo, fico naquele meio do caminho com a nota, o que é uma pena. E é isso pessoal, ele estreia na próxima quinta, 22/06, em alguns cinemas e fica a dica para quem gosta do estilo, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até breve.
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