Diria que o diretor e roteirista Gregorio Graziosi conseguiu se expressar de uma forma tão intensa com todo o material de pesquisa e com as dinâmicas que foram rolando durante as gravações, que acaba nos transportando para o corpo da protagonista, pois auxiliado pelo zunido na tela, o barulho nos incomoda tanto quanto incomoda a protagonista, nos vemos desesperados com aquilo, vemos a vida dela despencar ainda mais alto do que as plataformas que salta, e junto de tudo ainda tendo os vários conflitos do relacionamento com o marido e otorrinolaringologista, com a amiga de infância que sempre competiu junto, e ainda ter uma amizade meio que estranha com a nova saltadora que parece uma versão alternativa sua. Ou seja, poderia ser até mais do que apenas um único filme, mas tudo tem um bom encaixe, as cenas trabalham momentos realistas com experimentos meio que abstratos, vemos a junção e a separação dos elementos na vida da protagonista e com todos os que se envolve, e dessa forma a trama acaba indo muito além, mostrando que o diretor soube usar de técnicas e ainda ter diálogos bem trabalhados, embora alguns pudessem ser menos artificiais, mas ainda assim perfeitos em conjunto com a narrativa.
Sobre as atuações, a jovem atriz luso-brasileira Joana de Verona conseguiu trabalhar sua Marina com muita imposição, fazendo movimentos perfeitos nos saltos (aliás fiquei até na dúvida se usou alguma dublê de corpo ou treinou realmente para fazer os saltos que aparece por inteira), e ainda dimensionando bem todos os atos dramáticos com bons olhares e envolvimentos, de tal forma que conseguimos nos conectar com ela, e o resultado acaba surpreendendo. Indira Nascimento também foi bem colocada com sua Luisa, trabalhando com um ar mais puxado para o esporte, e competindo realmente com a amiga após ser abandonada, e essa química de polos repulsivos acaba sendo bem importante para o resultado do filme, de modo que vemos ela explodindo e também ajudando com forças, o que deu estilo e chamou atenção. A atriz franco-brasileira Alli Willow também deu muita personalidade para sua Teresa, funcionando quase como um espelho da protagonista, desejando ser e ter tudo o que ela é/tem, fazendo dinâmicas e olhares fortes e intensos, quase como uma diaba mesmo como é chamada pela amiga, ou seja, foi impactante e chamou a responsabilidade para que seus atos funcionassem bem na tela também. Quanto aos demais tivemos tanto André Guerreiro com seu Dr. Santos, quanto Antonio Pitanga com seu Inácio e Thaia Perez com sua Sonia dando as devidas conexões para que as protagonistas se desenvolvessem, fossem além e simbolizassem algo a mais, de modo que alguns até podem os considerar como coadjuvantes de luxo, mas acabam sendo mais elos e encaixes para que tudo funcionasse bem. Ainda tivemos participações bem colocadas da atleta Jessica Messali como uma sereia de aquário parceira da protagonista, mostrando fôlego e beleza nos movimentos ajudando a protagonista a ter ar também para essas cenas.
Visualmente a trama tem alegorias bem encaixadas no plano real, mostrando muito dos saltos e treinamentos num clube bem desenvolvido para todas as cenas ali que deram vez tanto em campeonatos quanto nos atos mais soltos (com a ótima sacada do som da torcida para dar uma empolgação maior para as atletas), tivemos atos no apartamento da protagonista com alguns momentos marcantes como o vazamento da máquina ou do apartamento de cima, alguns atos em hospitais, e também no apartamento da antagonista no bairro da Liberdade em São Paulo para relacionar a competição que irá acontecer no Japão, vendo bons elementos alegóricos e simbólicos também, isso sem falar de algumas cenas no MASP aonde um dos personagens trabalha e traz seus medos com os barulhos dos aparelhos de ar-condicionado.
Enfim, é um longa que tem alguns problemas, principalmente nos atos mais abstratos, pois chega a ser difícil se conectar tanto ali, mas ao mesmo tempo isso também é algo que dá voz e som para a produção, que aliás falando em som, os zunidos entram em nossa mente e são perfeitas escolhas que o diretor soube colocar nos atos principais. Ou seja, é um filmaço que vale demais a recomendação para todos, e que espero que chegue na maioria dos cinemas, pois é uma doença que tem atingido muitas pessoas, e talvez não surtar igual a protagonista junto com o tratamento seja a melhor solução, mas como um bom filme de terror dramático, o resultado acaba indo para outros rumos, e isso vai surtar quem estiver assistindo realmente. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um longa que virá nas próximas semanas para os cinemas, então abraços e até logo mais.
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