Depois de Ser Cinza

7/27/2023 11:49:00 PM |

Costumo dizer que para gostar de um drama introspectivo você precisa se desligar completamente do seu dia e mergulhar na essência que o diretor tenta nos passar com sua trama, de tal forma que geralmente não me pegam muito por ser sempre agitado no dia a dia e quando vou ver um longa após o trabalho nem sempre que consigo me desligar, porém diria que hoje mesmo a trama de "Depois de Ser Cinza" ter essa estrutura mais fechada, mais densa, acabei ficando curioso com o desenrolar de tudo e embarquei na onda fluída que o longa entregou, de tal maneira que as mudanças da vida do rapaz, e principalmente das moças que passaram por sua vida no longa conseguem instigar e fazer com que você pense na sua própria estrutura também, e assim o resultado acaba sendo até que gostoso de acompanhar, só pontuaria mesmo que talvez um final mais fechado agradaria demais, mas aí eu queria demais também!

A sinopse nos conta que três mulheres, de histórias completamente distintas, têm uma coisa em comum: amaram e se relacionaram com o mesmo homem. Sob o ponto de vista destas mulheres, através de uma estrutura intrincada de idas e vindas no tempo, vem à tona a história de Raul.

A maioria dos diretores estreantes em longas gosta de trabalhar dramas mais introspectivos, primeiro por não ser algo tão caro, e segundo que não precisam se preocupar tanto em desenvolver personagens, pois a liberdade artística assume como se pudesse fazer tudo, e aqui o diretor Eduardo Wannmacher pegou um bom texto de Leo Garcia para iniciar sua carreira em longas metragens, e soube dosar bem as dinâmicas entre Porto Alegre e a Croácia de modo a que tudo fizesse um sentido maior na vida do protagonista, de tal forma que seu filme tem uma estrutura bem interessante, que foi quebrada em partes para abrir os personagens e desenvolver eles dentro de suas mentas fluidas, aonde vemos um jovem problemático, seu relacionamento sem muito retorno com a sua colega de faculdade, que lhe trata quase como um irmão, o desenvolvimento dele dentro das sessões de terapia e o relacionamento dele com a terapeuta, e também o vemos numa fuga para outro país se desenvolvendo também um relacionamento com uma mulher problemática brasileira que conhece por lá, ou seja, a trama é sobre pessoas problemáticas, relacionamentos e envolvimentos estruturais, que tem sua função bem encaixada, mas que dava para ir além também, transformando fácil o longa em algo digamos mais comercial com um simples fechamento melhor.

Sobre as atuações, diria que João Campos caiu bem na personalidade de Raul, pois deu ares bem diretos para os seus três momentos bem distintos dentro da produção, de forma que mesmo os momentos estando meio que entrelaçados durante toda a exibição, é notável que cada um ocorreu após o fechamento do outro, e isso é algo que o ator foi pegando para seu personagem, mudando as garotas, e também se modificando um pouco por dentro, o que acaba funcionando bem na tela. Já o estilo de Elisa Volpatto com sua Isabel é a mais solta e explosiva das três mulheres, trabalhando muito bem o idioma croata nas desenvolturas entregues, tem um algo que fica meio que solto de seu começo meio que desesperado, mas também entrega nuances bem emocionais e interessantes de ver com o protagonista, de tal forma que se conecta bem com ele. Com Branca Messina já vemos a tradicional mulher que tenta seguir os caminhos do pai, que se cobra demais, e que se droga demais no começo, tendo uma boa reviravolta em seu fechamento, mas tem um ar maluco e solto bem interessante dentro da pegada de sua Suzy, agradando de certa forma, porém um pouco explosiva demais para a personalidade que não precisava de tanto. E por fim Silvia Lourenço tem seus problemas familiares, mas é a mais centrada do trio que passa pelo rapaz, afinal sua Manuela é terapeuta e tenta não se envolver num primeiro momento com o paciente, mas muda toda essa estrutura por algo perigoso, o que acaba dando a sua impulsão e problematização para o rapaz, ou seja, tem uma virada bem ruim que o jovem passa para todas um pouco, e a atriz conseguiu mostrar bem isso.

Visualmente tirando as belíssimas cenas em praias, ruas e rodovias na Croácia, o restante do longa fica mais nos quartos dos protagonistas, em algumas festas e num consultório, sem grandes usos de elementos cênicos chamativos, de forma que o ambiente em si é apenas para contextualizar o espectador de onde está ocorrendo tudo, e o que está sendo passado, ou seja, funciona, mas nada que surpreenda e chame muita atenção, o que dava para ter trabalhado também um pouco mais.

Enfim, é um filme interessante, bem atuado pelos protagonistas, com uma edição bem densa e certeira que não cansa e não atrapalha, mas que com poucas mudanças dava para deixar o longa incrível, envolvente, sem mudar a nuance e o estilo, mas que levaria a trama para outros patamares, saindo do artístico total para algo comercial que facilmente se venderia sozinho, mas claro que perderia um pouco do que o público que gosta de algo mais introspectivo veria na tela, e assim sendo, recomendo o longa mais para esse público-alvo, que vai assistir e gostar bastante do que é mostrado na tela. O filme estreia no próximo dia 03 de agosto em alguns cinemas, então fica a dica para conferirem, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até breve com mais dicas.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...