O diretor e roteirista Michel Hazanavicius, que a maioria conhece pelo filme "O Artista" aonde ganhou diversos prêmios, foi bem sagaz numa história mais tranquila e lúdica, mas que também entrega algumas dinâmicas cheias de nuances que podem levar muitos a refletir sobre o crescimento dos filhos, e com isso, mesmo não sendo uma obra-prima, o resultado acaba fluindo de uma forma gostosa e interessante, aonde vemos vários pontos chaves para cada momento, sendo claro ajudado bastante pela equipe de arte com mensagens nos pontos de ônibus, em placas nas ruas e até nos ônibus, que vão levando o público para as diversas partes da trama. Ou seja, mesmo que o filme tenha um ar meio que infantil, a dinâmica é bem mais pensada para os adultos, e com isso tudo flui muito bem e agrada bastante, mostrando que o diretor ainda está em forma para brincar com suas ideias.
Quanto das atuações é muito fácil falar de Omar Sy, pois o ator se joga no papel de pai solteiro, que já fez em outras produções, e brinca com o mundo dos sonhos ao mesmo tempo que trabalha o conflito da adolescência, criando boas dinâmicas com os demais personagens, fazendo trejeitos bem colocados para ir além na história, e principalmente deslancha com a trama quase que sozinho, já que os demais são mais colocações cênicas do que personagens com grandes nuances, então é quase um filme que ele necessita dar seu máximo e mais um pouco, e ele consegue. Bérénice Bejo trabalha alguns atos de conselhos ao mesmo tempo que tenta dar cantadas no protagonista como uma nova vizinha no prédio, e sem criar muito, mas fazendo o que é preciso para aparecer, ela consegue soar divertida e bem encaixada, o que funciona. Sarah Gaye fez uma Sofia meio que tímida demais para as nuances mais sérias da mudança corporal e de gostos pessoais, de modo que ficou um pouco seca demais em suas desenvolturas, mas como o papel pedia um pouco disso conseguiu ser bem colocada dentro da trama toda. O jovem Néotis Ronzon também não pareceu muito confortável com seu Max, parecendo por vezes até artificial de trejeitos, mas fez bons saltos, teve estilo como um adolescente bem fechado, e o resultado funciona dentro da proposta, porém dava para criar um ar mais galanteador para o rapazinho. Quanto aos demais, a maioria tem apenas situações encaixadas de leve, valendo então o destaque para François Damien com seu Sultantã, como um vilão dos sonhos, mas também aquele que complementa a saga do herói, e chamando bons atos para si no decorrer da trama acaba agradando bastante com o que faz.
Visualmente a trama foi bem interessante, pois ao misturar dois mundos, acabamos vendo um apartamento simples, mas aonde a garota faz os desenhos baseados nos seus sonhos que são frutos das histórias que o pai conta, vemos o apartamento vizinho todo em reforma, vemos a ida da garota para a escola nos ônibus, e todas as sacadas com as placas escritas dando as nuances de virada da trama, isso tudo com tons mais escuros para representar a mudança de fases, aonde no começo temos mais colorido pela garotinha e na adolescência já tudo mais em tons mais fechados, e já do lado lúdico, a equipe de arte brincou com muitas cores, com personagens animados, com muita cenografia, e com um mundo quase como um grande parque de diversões, ou melhor, como um grande estúdio de cinema aonde várias histórias se desenvolvem, ou seja, um trabalho minucioso que até dava para melhorar em texturas, mas que agrada bastante no resultado da proposta.
Enfim, é um filme que fui ver meio com receio, pois parecia bobinho demais, mas que tem um bom desenvolvimento e consegue envolver do começo ao fim, entregando atos bem colocados para reflexões familiares, e que certamente muitos vão aprender com tudo o que é entregue, claro que está bem longe de ser perfeito, tendo alguns traquejos que davam para serem melhorados, mas ainda assim é vale a dica para ver com os filhos e claro olhar para eles com um ar mais profundo. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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