Netflix - Bird Box: Barcelona

Passados quatro anos e meio desde que a campanha de marketing excessiva de "Bird Box" fez esse Coelho que só via filmes nos cinemas ingressar nesse mundo sem volta dos streamings aonde cada dia você vê mais um aplicativo instalado na sua TV, e não tenho que reclamar, afinal vi muitos longas bons, alguns horrendos, e também ganhei mais seguidores, mas isso é conversa para uma outra hora, pois eis que hoje a Netflix lançou sua nova obra que embora não seja baseada no livro que deu origem ao primeiro filme, segue a mesma base e teve até uma ajuda do autor do livro na concepção do roteiro de "Bird Box: Barcelona", aonde agora tudo toma rumos bem diferentes envolvendo um pouco mais de crença religiosa, ainda não mostrando o que realmente faz as pessoas se matarem, mas com muito mais violência e ação do que o longa original, e com isso toda a essência tensa se verte para algo mais forte e bem colocado em cima de um homem que durante o caos apocalíptico vai se infiltrando em grupos com sua ideologia e conflitos na mente, enquanto também vamos vendo seu passado para entender o que aconteceu com ele. Diria que o longa entrega rápido demais um detalhe crucial, que poderiam ter segurado mais, mas ainda assim causa bastante e funciona para quem gosta de um bom suspense/terror. Espero que deem sequência a esse e também ao original, afinal queremos um desfecho mais imponente para tudo, e isso nas mãos de um bom diretor iria ser sensacional.

A sinopse nos conta que depois que uma força misteriosa dizima a população do mundo, fazendo com que todos que a vejam tirem suas vidas, Sebastian e sua filha Anna precisam enfrentar uma jornada de sobrevivência pelas ruas desoladas de Barcelona. Mas, ao desenvolver uma aliança incômoda junto a outros sobreviventes em busca de um lugar seguro, eles descobrem uma ameaça ainda mais assustadora que não para de crescer. Sem esquecer de cobrir os olhos do mal que os persegue.

Os diretores e roteiristas Àlex e David Pastor trabalharam bem as dinâmicas de seu filme, ao ponto de não termos cenas de enrolação nem desenvolturas que façam você se cansar dos personagens, mas claro que dava para melhorar bem mais nas apresentações e não termos alguns momentos meio que jogados na tela apenas para causar, e com uma sagacidade bem trabalhada de estilos, o filme mostra que eles se preocuparam muito em trabalhar as cenas de ação com planos bem abertos para que ficasse claro a construção de ambientes, com boas perseguições e tudo mais, e ainda cadenciaram os personagens secundários para que fossem esquecíveis, focando somente mesmo nos protagonistas. Claro que isso é um risco imenso que correram, e valeria até um desenvolvimento melhor de alguns personagens para que a trama se intensificasse mais, principalmente o padre, mas ainda assim tudo acaba fluindo bem, não economizaram na violência dos atos, e trabalharam bem o lance da religiosidade cegar as pessoas como um risco que alguns preferem correr, e assim o tema vai acabar polemizando bem nas redes sociais. Ou seja, é um filme que alguns vão odiar, outros vão amar, mas que supri em velocidade o original e fica abaixo no desenvolvimento de personalidade dos personagens, pois amanhã lembraremos ainda do filme, mas talvez de mais ninguém sem ser o protagonista.

E falando no protagonista, Mario Casas está bem diferente dos seus últimos filmes na plataforma, e seu Sebastian tem um ar meio oculto bem interessante, se desenvolvendo por alguns vértices meio que abstratos, porém sendo intenso quando foi preciso, o que como disse acaba chamando a responsabilidade até que em demasia para si, mas como ele sabe dominar bem esse estilo de filme, não desapontou e trabalhou até o fim com muita imposição e determinação nas nuances de sua insanidade, o que acaba agradando demais. Georgina Campbell trabalhou sua Claire bem colocada, protegeu bem a garotinha e teve algumas desenvolturas até que exageradas demais (a cena do teleférico é algo que forçaram a amizade em nível máximo!), mas como a atriz soube dosar suas expressões, principalmente por ficar muito vendada, o seu resultado acaba agradando também. As garotinhas Naila Schuberth com sua Sofia e Alejandra Howard com sua Anna foram bem imponentes e seguraram suas cenas com tanta força expressiva que chega até surpreender, principalmente nos atos finais de Alejandra que ficaram mais intensos e a jovem chega a assustar o público, ou seja, pode esperar que logo mais muitos diretores de terror vão procurar seu agente, pois mandou muito bem. Agora foi um desperdício não usarem Leonardo Sbaraglia como deveria, pois as cenas de seu Padre Esteban são de arrepiar, e o ator é daqueles que sabem se impor e chamar o filme para si, porém só é usado mesmo em duas ou três cenas, e sem dar o devido foco para ele ir além, ou seja, faltou ousadia nesse sentido para que o filme mostrasse mais dos "videntes".

Visualmente a trama também foi bem interessante, mostrando uma Barcelona destruída nas cenas externas, mostra o conflito acontecendo com as pessoas saltando de prédios, navios e tudo mais, vemos carros abandonados e muitos prédios quebrados e saqueados, tivemos alguns esconderijos bem interessantes com a garagem dos ônibus aonde temos uma cena de ação gigantesca bem trabalhada, o bunker totalmente escuro e ainda conseguindo passar detalhes, o casarão/prédio abandonado cheio de detalhes cênicos, e claro todo o ato do teleférico começando desde a perseguição nas ruas até chegar do outro lado mostrando algo bem imponente para uma sequência, ou seja, a equipe de arte gastou bem o orçamento e conseguiu chamar atenção. Outro fator muito bem trabalhado ficou a cargo da maquiagem para as diversas cenas de mortes, não economizando nem em sangue nem no estilo violento de mostrar tudo na tela, sendo algo bem marcante e chamativo. 

Enfim, é um filme bem interessante, que ainda não é perfeito e nem original por usar muito da base do primeiro longa e também não revelar muito sobre os seres, mas diria que a história foi mais chamativa e melhor desenvolvida aqui, faltando claro trabalhar mais o carisma e os personagens para que tudo ficasse melhor, então digo que vale o play com algumas ressalvas sendo bem chato com tudo, mas quem gosta de uma trama violenta, intensa e com polêmicas para discutir, aqui o prato está bem servido, então fica a dica. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.