O Deus Do Cinema (キネマの神様) (Kinema no Kamisama) (It's a Flickering Life)

7/13/2023 01:19:00 AM |

Uma coisa que me agrada muito no cinema japonês é que o estilo artístico funciona muito grudado no comercial, de tal forma que você vai ver um longa bem no estilo de festivais e sai apaixonado por tudo o que é entregue querendo que mais e mais pessoas vejam as boas sacadas colocadas, e um ótimo exemplar que estreia essa semana no SATO Cinema, no bairro da Liberdade em São Paulo-SP, é "O Deus do Cinema", que trabalha um envolvimento incrível da história no presente (inclusive mostrando os malefícios causados pela pandemia para o mundo das artes) e do passado de um senhorzinho viciado em bebidas e apostas e sua conexão com o mundo do cinema no passado quando trabalha em um estúdio de filmagens. E de uma maneira bem bonita, leve e bem colocada a trama consegue envolver a todos com muita sagacidade, mostrando que a idade é apenas um mero detalhe nesse mundo das luzes na telona, já que basta ter a paixão e escrever, pois quem tem talento não perde o estilo nunca.

O longa nos conta que Goh é um apostador apaixonado, mas um pai desocupado, e tanto sua esposa Yoshiko quanto os familiares desistiram dele. No entanto, existe uma coisa pela qual Go sempre se dedicou profundamente: filmes. Ele e Terashin, dono de um cinema especializado em clássicos, são velhos amigos desde os tempos em que trabalhavam num estúdio. Na juventude, Goh e seus colegas passavam cada momento perseguindo seus sonhos, cercados por grandes diretores e estrelas famosas que representavam a era de ouro do cinema japonês. Entretanto, quando Goh e Terashin se apaixonaram pela mesma garota, as rodas do destino entraram em colapso.

Não posso afirmar que o diretor e roteirista Yôji Yamada se inspirou um pouco em sua vida para escrever e dirigir a trama, afinal esse é quase o seu 100º trabalho chegando agora aos 91 anos, mas mostra que as vezes uma história bem guardada pode ser atualizada e virar algo memorável, mas também nos mostra que a devoção e a paixão são coisas que andam muito juntas, ao ponto de vermos isso em um emprego, em uma família e até mesmo em uma amizade, aonde souberam entregar símbolos para nos envolvermos com as dinâmicas e ir se emocionando sem grandes quebras, e assim tudo ir nos dizendo o quanto o cinema é mágico. Diria que o diretor soube brincar nas duas épocas para que tudo tivesse atos bem encaixados e fossem se desenvolvendo bem, pois não dá para entender muito bem logo de cara tudo o que aconteceu com os amigos, mas conforme a trama vai além tudo faz muito sentido e acaba sendo bem bonito tanto para o lado da magia do cinema em si, quanto para a devoção amorosa que muitas famílias acabam tendo.

Sobre as atuações diria que conseguiram trabalhar muito bem o estilão de Goh tanto jovem quanto velho, que Sawada Kenji entregou com muita disposição ao refilmar todas as cenas do personagem, afinal a maior parte já tinha sido gravada por Ken Shimura, que morreu de COVID, e o ator soube dosar bem seu semblante para passar um certo desdém com a vida já nos seus momentos finais, foi empolgante ver ele escrevendo com o neto, e deu boas conexões para tudo o que Suda Masaki fez no passado com o personagem jovem, que foi dinâmico, apaixonado pelo cinema e determinante nos atos bem encaixados com a proposta, o que acaba agradando bastante. Ainda tivemos Noda Yojiro e Kobayashi Nenji bem concentrados no papel de Terashin novo e velho, mostrando boas dinâmicas e desenvolturas. Nagano Mei trabalhou sua Yoshiko bem simpática e graciosa jovem, enquanto Miyamoto Nobuko fez ares mais sofridos já idosa. E ainda vale o destaque para Kitagawa Keiko como a atriz meteórica da época de ouro do cinema japonês Katsura Sonoko.

Visualmente a equipe de arte foi muito enxuta, mas mostrou bem as produções da época, todo o estilo bem coeso de ângulos e simplicidades que iam muito além de apenas uma história, mostrou um pouco das vivências que ocorriam ali nos estúdios, e vindo para o presente mostrou o público pequeno, porém cativo dos cinemas artísticos, a magia dos ambientes de uma projeção, e também toda a separação da época da pandemia, e também a vida sofrida da família com os gastos do protagonista em apostas. Ou seja, foram determinados a mostrar símbolos para conectar tudo e conseguiram.

Enfim, é um filme bem bonito, com um ar bem nostálgico e mágico para os fãs do cinema, e que trabalha bem a história dos protagonistas, de modo que poderia até ter sido melhor desenvolvido alguns atos, mas ainda assim é algo que vai agradar bastante quem for conferir. Então quem mora em São Paulo, vá conferir o longa no SATO Cinema que fica na Rua São Joaquim, 381 na Liberdade, e os demais de outras cidades em breve o longa deve entrar também para o acervo digital da SATO Company então aguardem que vale a conferida. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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