Amazon Prime Video - Entre Mulheres (Women Talking)

8/27/2023 11:58:00 PM |

O longa "Entre Mulheres" ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e passou em pouquíssimos cinemas do Brasil, e agora já pode ser conferido dentro da plataforma da Amazon Prime Video, e mesmo sendo uma ficção, a principal pauta da trama é a que muitos deveriam parar e pensar, afinal quem deveria criar leis que envolvam as mulheres? Os vários políticos machistas de sempre ou uma comissão própria feita exclusivamente por elas que sabem o que é melhor ou pior para elas? O longa em si não trabalha bem essa temática, mas mostra bem um grupo de mulheres que revoltadas após descobrir os abusos que sofriam eram por parte dos homens da colônia que as dopavam para abusar durante a noite, colocando a culpa em fantasmas e demônios, até o dia em que foram descobertos, mas que se encobriram pagando fianças e tudo mais, e além da discussão que propus no começo, outro ponto chama a atenção, como a crença religiosa pode dominar uma população, afinal todas ali estão discutindo sua sobrevivência e ainda pensando em como perdoar aqueles que lhe abusaram. Ou seja, é um filme forte, que tem um bom trabalho em cima do tema, e que é bem desenvolvido na tela, claro que dentro das quatro linhas do campo, não indo muito além, pois ao menos na minha opinião, eu seguiria com o longa mais alguns minutos para mostrar o pós da decisão delas, e não apenas até aonde vai, pois aí sim o filme ficaria completo, mas é apenas uma opinião, já que o livro provavelmente encerra assim, e toda a encenação fecha bem de certa forma como algo esperançoso, e assim sendo, mesmo sendo forte, acaba de uma forma bonita e emocional.

O longa é segue as mulheres da comunidade religiosa que lutam para conciliar sua fé com a realidade. Em 2010, as mulheres da comunidade isolada seguem a religião da igreja Menonita, e acabam descobrindo um segredo chocante sobre os homens da comunidade que controlaram suas vidas e fé. É revelado que os homens usaram anestésicos para drogar e estuprar mulheres e meninas durante a noite por muitos anos, às vezes resultando em gravidez. É tradição da comunidade quase menonita manter a mulher em um estado sem educação, sem escolaridade e analfabetismo, com o objetivo de ajudá-la a ser totalmente subserviente aos membros masculinos da comunidade e às suas necessidades.

Diria que a diretora e roteirista Sarah Polley foi bem enfática aonde desejava chegar com a trama do livro de Mirian Toews, que foi inspirado em tramas reais que aconteceram na Bolívia, mas que no filme a diretora preferiu não situar a localização, e fez bem isso, pois a trama acabou sendo mais abrangente, e claro crítica em relação aos cultos e modos de vida de algumas pessoas, e dessa forma embora muitos critiquem a trama como um feminismo exagerado, o filme pauta bem toda a situação que muitas mulheres vivenciam em suas vidas de abusos, de homens decidindo o que elas devem fazer, algumas não ligam e perdoam tudo continuando a viver com os mesmos abusadores, outras preferem te paz e sair de perto, e outras mais revoltadas querem lutar, mas não sabem como, e dessa maneira toda a didática da produção entrega ares pesados, com uma fotografia quase em preto e branco, mostrando que a maioria ali já perdeu suas cores, e dessa forma o texto junto com o desenvolvimento funcionam bem demais.

Quanto das atuações, temos atos marcantes de praticamente todas, mas ao mesmo tempo não temos grandes destaques expressivos, pois o filme é quase uma peça aonde todas as protagonistas só falam no mesmo ambiente e se desenvolvem ali, aliás tenho quase certeza que o longa irá fazer com que o texto vire peça facilmente, valendo claro chamar a atenção para Rooney Mara com sua Ona bem eloquente e certa das escolhas, com um ar mais emocional bem colocado; tivemos Jessie Bucley e Claire Foy mais explosiva com suas Mariche e Salome; as mais velhas foram bem centradas e diretas em suas opiniões, tendo Judith Ivey e Sheila McCarthy mais serenas com suas Agata e Greta, enquanto Frances McDormand foi mais dura e direta no tradicionalismo de sua Janz; e até mesmo as garotas mais jovens conseguiram ter bons atos com destaque para Emily Mitchell com sua Miep graciosa e bem colocada em cena. E claro sobrou para o único homem em cena passar toda a emoção de um professor bem colocado, aonde Ben Wishae soube conduzir toda a reunião com muito envolvimento e segurança de seu August.

Visualmente como já disse o filme pode virar facilmente uma peça e ser exibido em todos os teatros mundo afora, afinal como cenografia basta apenas montar um celeiro para as votações e discussões, e ali ambientar as mulheres distribuídas conversando e argumentando, com figurinos mais recatados claro para manter o tradicionalismo, e fora dali vemos as crianças brincando nas plantações e claro o ato final com muitas carroças, mas só, e isso foi o que chamo de ato cru, aonde ou o texto funciona bem, ou o longa vira um desastre, o que felizmente não aconteceu.

Enfim, é um filme bem seco que serve para muitas discussões, e acredito que muitos também vão odiar, pois mexe com toda a ideia tradicionalista que gira o mundo atual, e que muitos não aceitam mudar, além de ser uma trama um pouco lenta de atitudes, o que alguns não curtem, mas digo que é algo bem válido de se conferir, e claro pensar nas ideias que coloquei no primeiro parágrafo, pois vale a discussão, e consequentemente a conferida do longa. E minha única reclamação mesmo é que dava para fazer ele menos teatral com mais aberturas cênicas, e com um final mais desenvolvido com o que ocorre depois do ato mostrado na tela, mas isso é uma opinião minha apenas. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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