Vai Ter Troco

8/22/2023 12:49:00 AM |

Costumo sempre falar que o gênero cômico é o mais difícil de agradar ao público, pois as vezes tem uma entrega tão ingênua e bem colocada que faz todos rirem na sessão até chorar, enquanto outros forçam até a última gota e você sai da sessão até desapontado com o resultado. E diria que o longa "Vai Ter Troco" se coloca bem próximo ao segundo exemplo, pois até consegue fazer rir com algumas cenas, mas ficou parecendo um programa especial do Porta dos Fundos, aonde exageram ao limite em todas as cenas e correm com tudo para entregar uma história completa. Ou seja, não digo que é algo ruim de ver, pois estaria generalizando, e mesmo que de forma forçada conseguiu tirar algumas risadas minhas e dos demais que estavam na sessão, porém dava para a história funcionar melhor sem precisar exagerar em tudo, mas para isso precisariam ter desenvolvido tudo de uma forma maior, e talvez não desse certo, e sendo assim, vamos ficar dessa forma e rir das cenas toscas mesmo, que era o que tinha para hoje.

O longa mostra as domésticas Tonha e Zildete, que trabalham para a família de Afonso, Sarita, John John e Miranda. Alegando estarem falidos, os patrões estão há meses sem pagar os salários de Tonha e Zildete - apesar disso, estão sempre esbanjando em festas e jantares da alta sociedade. Fartas da situação, as mulheres bolam um plano com a ajuda de Nivaldo, o motorista faz-tudo. Porém, as coisas não saem como o planejado e, logo, todos se veem em um cenário bem inesperado.

O diretor Mauricio Eça é daqueles que atira em todos os gêneros possíveis, mas que deu muito mais certo no drama do que na comédia, e aqui sua principal falha diria que foi num texto que precisaria de mais tempo e desenvolvimento, e que na finalização e nas filmagens lhe cobraram algo muito menor, pois a impressão que passa é que tudo precisou ser corrido na trama, não tendo espaço para desenvolver a prisão, não tendo espaço para as festanças, nem tendo muito tempo para desenvolver o conflito entre os personagens, ou seja, vemos um filme que foi amarrado pelos depoimentos na delegacia, aonde qualquer um que tenha visto qualquer outro filme no mundo inteiro sabe o desfecho, e tudo o que é mostrado meio que em câmera acelerada daquele estilo que você vê nas gravações para tentar achar um furto nas câmeras de segurança da empresa. Ou seja, faltou ritmo para que os espaçamentos cômicos funcionassem e os protagonistas não precisassem ficar gritando para aparecer, e isso desvalorizou um pouco o trabalho da direção, sendo que talvez o problema tenha sido na determinação do tempo de filme, e na edição, mas volto a frisar que não ficou ruim, apenas não temos respiros para que as comicidades fossem desenvolvidas ao invés de impostas.

Quanto das atuações, Evelyn Castro e Nany People praticamente puxam todos os olhares da trama para suas Tonha e Zildete, e isso faz com que o longa dependesse quase que na totalidade de seus trejeitos e exageros cômicos para funcionar, e diria que em alguns bons momentos elas conseguem, mas como disse no começo forçando a barra com trejeitos e gritarias, o que dava para ser mais contido. Edmilson Filho tenta usar das esquetes com um humor mais pesado, mas não consegue sair do tradicional motorista garanhão que já vimos em tantos outros filmes com seu Nivaldo. Miá Mello até teve um segundo ato bem engraçado com sua Sarita a base de remédios, e diria que deveria ter feito isso desde o começo para que ríssemos mais, pois foi um grande acerto bem melhor do que os atos como patroa forçada. Marcos Veras deveria ter abusado um pouco mais das piadas de dentro da prisão, pois ele tem um bom estilo, e seu Afonso como político e negociante de propinas não funcionou tanto. Nicholas Torres foi bem gracioso com seu John John, e diria que seu personagem é engraçado sendo leve, o que é bem interessante de ver, puxando um pouco mais para o emocional e contando com algumas cenas mais bobas quanto ao uso de drogas, mas foi o melhor em cena. E por fim Giovanna Grigio também melhorou demais nos últimos atos quando se colocou menos patricinha e mais pessoa, de forma que ganhou um estilo melhor colocado e trabalhou sem precisar gritar tanto. Quanto dos coadjuvantes da trama, só fizeram caras e bocas, então é melhor nem entrar em detalhes.

Visualmente a trama se passa em uma mansão inicialmente bem requintada para uma festa de noivado, mas que fica praticamente vazia após a ação da polícia federal, inclusive fazendo gracejos com a geladeira vazia e as pouquíssimas comidas que os donos passam a comer até as coisas dos funcionários, tivemos ainda algumas boas sacadas com as festas das velhinhas do condomínio, e algumas boas cenas nos bairros mais simples aonde os funcionários moram, com um lugar para compra/venda de objetos e também mostrando um pouco de uma escola aonde o filho surdo da protagonista estuda. Ao final ainda tivemos boas colocações de uso do dinheiro e claro a sacanagem com o nome do garotinho.

Enfim, é um filme que dava para ir mais além, que dá para rir um pouco, mas que passa longe de ser daquelas comédias que vamos lembrar daqui há alguns dias, diria que se tentarem transformar ele em esquetes menores talvez melhore e chame mais atenção. Ou seja, quem estiver sem nada e quiser ver algo mediano até vale a ida aos cinemas, mas como é uma produção da Star, em breve vai estar no streaming, então fica a dica. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto logo mais com outros textos, então abraços e até breve.


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