Diria que o diretor e roteirista Eduardo Albergaria conseguiu pegar toda a essência da época e transportar para o seu filme, de tal maneira que vemos tudo tão preciso, cheio de nuances e tudo mais, que acaba parecendo que estamos vivenciando todo o momento dos anos 90, todas as dinâmicas da dupla, e o mais bacana é que ele não quis mostrar muito dos programas que foram e que explodiram, usando mesmo o âmbito da comunidade e de tudo o que foram conquistando e criando juntos, claro que usou muito da consultoria de Buchecha e dos demais familiares da dupla para que o resultado não soasse falso e tudo tivesse limites, mas quando é para dar certo não precisa de muito, e dessa forma vemos um trabalho preciso do diretor, sendo emocional na medida, mas divertindo com uma boa precisão, e principalmente sabendo passar para os protagonistas toda a mensagem de como deveriam agir e se envolver para soarem certeiros. Ou seja, é daqueles filmes que você enxerga a direção funcionando sem ficar explícito na tela, e isso é algo bem raro principalmente no cinema nacional.
Agora para uma cinebiografia perfeita funcionar bem é claro que tem de ter bons atores, e se antes de ver o primeiro trailer eu não botava muita fé em Juan Paiva e Lucas Penteado, o que acabou mudando após o trailer, hoje eu posso dizer que não tinha ninguém melhor para os papéis, e que por incrível que pareça era para ser o inverso antes dos ensaios, principalmente pelas semelhanças visuais serem mais próximas de Lucas com Buchecha e Juan com Claudinho, mas não teve jeito pelas personalidades, de tal maneira que Juan Paiva foi minucioso no estilo de Buchecha, soube trabalhar olhares mais densos, ir mudando conforme os anos iam passando, e principalmente todo o sentimento para com seu pai sendo bem diferente do que com seu parceiro, ou seja, cuidou demais de cada detalhe e agradou bastante. Da mesma forma a energia de Lucas Penteado contagia demais do começo ao fim, de tal forma que mesmo nos atos mais emocionais seu Claudinho tem uma personalidade alegre e muito bem desenvolvida que agrada demais. Dentre os demais, todos foram muito bem como coadjuvantes bem encaixados nos devidos momentos da trama, com as garotas Lellê e Clara Moneke bem encaixadas como as namoradas/esposas dos protagonistas, Flávia Souza e Tatiana Tibúrcio bem trabalhadas e interessantes como a tia e a mãe de Buchecha, os garotos Boca de 09 e Gustavo Coelho cheios de emoção como os jovens Claudinho e Buchecha, Márcio Vito e Isabela Garcia foram interessantes e bem trabalhados como os primeiros patrões e amigos do jovem Buchecha, e até mesmo os funkeiros FP do Trem Bala e Gabriel do Borel foram simbólicos como Cidinho e Doca (uma das principais duplas do funk dos anos 90), mas sem dúvida tenho de falar do brilho e da personalidade destacada por Nando Cunha como seu Souza, pai de Buchecha, que foi imponente do começo ao fim sendo tão preciso de olhares e sentidos que acaba indo muito além de tudo, ou seja, deu show na tela, e raspa de pegar o protagonismo dos jovens.
Visualmente a trama mostra que mesmo estourando nas rádios e nos programas da TV, os cantores seguiram simples viajando de van, e casas sem serem luxuosas, conseguindo seus carros próprios e ajudar seus familiares, mostrando a realidade do morro nas chuvas, e principalmente seus shows com muitas luzes e seus nomes atrás bem colocados, detalhando bem os figurinos e acessórios que usavam, e mostrando seus crescimentos e intensidades, além de contextualizar bem os bairros Boaçu (1984) e Salgueiro (1993) de São Gonçalo e Copacabana (1995) e Ilha do Governador (1998) no Rio de Janeiro. Ou seja, a equipe de arte pesquisou muito material, usou algumas cenas de arquivo, e conseguiu criar o ambiente perfeito para nos levar para os anos 90 e consequentemente para os shows da dupla.
A trilha sonora conta com muitos clássicos do funk melody dos anos 90, alguns cantados pela dupla original, e outros pelos próprios atores que botaram a voz para jogo e conseguiram convencer bem com o timbre, lembrando bastante os cantores. Ou seja, o ritmo domina do começo ao fim dando um bom tom e uma cadência bem trabalhada que agrada bastante. Não divulgaram a trilha sonora completa do filme para soltar o link, mas assim que sair volto aqui e complemento.
Enfim, posso dizer sem dúvida que me diverti e emocionei demais com a trama, curti as músicas no volume máximo da TV (assisti via cabine digital), e com toda certeza recomendo demais o longa para todos que viveram nos anos 90 e conheceram a dupla de MCs, e também para a galera mais jovem que vai conhecer o que era um bom funk na época, ou seja, para todos, pois a cinebiografia tem todo um lado histórico, mas também funciona sozinho como um bom drama, então vá ao cinema no dia 21/09 e confira. E é isso pessoal, fico por aqui hoje agradecendo ao pessoal da distribuição da Manequim Filmes, pois esse sem dúvida era um dos filmes nacionais que mais queria ver esse ano (uma pena não ter sido o nosso escolhido para representar o país nas premiações mundo afora!) e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até breve.
PS: Só não darei a nota máxima para o filme por achar que poderiam ter desenvolvido um pouco mais a história de Claudinho, que ficou meio que subjetiva demais em alguns momentos, mas isso não atrapalha em nada o resultado final do longa, sendo apenas um apontamento técnico.
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