O Porteiro

9/03/2023 01:05:00 AM |

Gosto bastante de comédias que entregam suas piadas e gracejos com sutilezas para que nada fique forçado demais, que se desenvolvam e façam rir bastante e que ao final você esteja feliz com o resultado completo, e geralmente quando peças são transportadas para o cinema o resultado costuma funcionar bem dessa forma, e assim eis que fui conferir "O Porteiro", que é a adaptação de uma peça que já divertiu muitas cidades do Brasil por onde passou com o protagonista Alexandre Lino, e que transportada para a telona ainda fez homenagem à Dona Hermínia de Paulo Gustavo como antiga síndica do prédio aonde o protagonista trabalha, e posso dizer que o longa funciona de uma maneira bem simples, tem um carisma bacana pelo protagonista, e boas sacadas principalmente nas dinâmicas entre o porteiro e o delegado, numa conversa tão maluca que não tem como não se envolver, e também tendo boas sacadas no miolo que fazem rir com toda certeza, porém o filme como um todo é um pouco forçado de estilo, sendo resolvido aos gritos da esposa do protagonista, aos excessivos momentos de falas sobre o fedor de um morador e à brisa da velhinha que fuma quase transformando o apartamento em um mundo de fumaça completo, e assim sendo ficou parecendo mais um agrupamento de episódios do que um longa completo. Claro que passa bem longe de ser algo ruim, pois o carisma dos personagens consegue nos conectar e divertir, mas dava para ter ido um pouco mais além para pegar o público para rir do começo ao fim.

A sinopse nos conta que confusão é o que não falta no prédio onde Waldisney trabalha como porteiro. Todo dia é um bafafá entre os vizinhos, mas ao lado da zeladora Rosivalda, ele é craque em manter essa bagunça organizada. Tudo isso muda quando o prédio é assaltado e Waldisney agora precisa provar para o delegado que ele pode até ser meio atrapalhado, mas ladrão ele não é, não!

O diretor Paulo Fontenelle gosta demais de trabalhar longas com um grande número de personagens, e por vezes isso deu certo como "Apaixonados - O Filme" quanto já deu muito errado em "Divã a 2" e "Se Puder... Dirija!", e é inegável também que ele goste do que falei no começo que é brincar com as sutilezas que suas tramas podem entregar, de tal forma que fiquei até pensando como o longa seria se ele não tivesse colocado alguns exageros, e acredito que seria até chato de ver, pois essa pegada mais bagunçada é o que faz o prédio do protagonista ser conflituoso, e digo até mais, se um bom produtor pegar essa ideia do filme e da peça original e entregar para bons roteiristas, poderia virar uma série ou programa cômico bem colocado com histórias diferentes de cada morador novo ou antigo do prédio, o que poderia recair por vezes para o lado emocional com mais homenagens ou até mais engraçado com as confusões possíveis de ocorrer com os personagens base, e isso é algo que devam pensar bem, pois como filme apenas, diria que ele até me fez rir em alguns momentos, mas ficou parecendo mais uma confusão simples demais que nem deu tempo de desenvolver os personagens e quando vemos já acabou tudo.

Sobre as atuações, é fato que o longa é de Alexandre Lino, afinal já faz Waldisney há anos e domina o personagem como ninguém, sabendo segurar a barra, fazer olhares emotivos e divertidos, e convencer como ninguém em cena, correndo sempre de um lado para o outro e brincando com toda a situação de um modo tão sério e com gracejos que acaba indo muito além do papel. Cacau Protásio faz bem sua Rosivalda, entregando ares de sedução para todos que passem na sua frente, tem atos bem colocados e mesmo ficando em segundo plano várias vezes ainda consegue se destacar. Maurício Manfrini trabalhou bem o seu delegado, fazendo as perguntas de um modo bem característico que já vimos o comediante fazer em outros trabalhos seus, mas ousando sempre puxar boas sacadas, e principalmente se conectando com o protagonista e dando as deixas para o público se conectar também. Daniela Fontan gritou um pouco demais com sua Laurizete, mas a personagem pedia esse jeitão mais truculento, e acabou sendo engraçada com o que fez, valendo até o bom uso de trejeitos marcados. Ainda tivemos atos mais fechados de Aline Riscado como uma estudante de psicologia que quer estudar o protagonista, Heitor Martinez como um morador que não toma banho pôr a mulher gostar de seu fedor, e Bruno Ferrari como um síndico meio imponente, mas que está sempre em segundo plano. Já da turma que tem menos falas valem o destaque para Suely Franco como uma velhinha maconheira, Rosane Gofman como a dona dos cachorros que faz doces em troca das ajudas do porteiro, e o lutador José Aldo com medo de apanhar da mulher do porteiro.

A peça foca apenas no protagonista contando suas histórias, e aqui a equipe de arte precisou trabalhar muito para representar isso, já que tivemos vários apartamentos aonde acabam entrando além da portaria, e de uma sala de reuniões, além de cenas num elevador, e tudo isso foi muito bem representado cenicamente, tivemos toda a personalidade dos vários personagens usadas e determinadas para as devidas conexões, de tal forma que tudo tem um sentido e ficou bem colocado.

Enfim, é um longa que acaba sendo gostoso de ver, que tem uma boa pegada, mas que dava para ter ido muito mais além se os personagens secundários fossem melhor desenvolvidos ou então se o porteiro em si fosse colocado ainda mais num ponto central como ocorre na peça, de tal maneira que a ideia da série certamente funcionaria muito bem, então fica a dica para os produtores, e para o público diria que vale como um passatempo leve e divertido de certa forma, só não espere rir de sair passando mal, pois é mais tranquilo. E é isso pessoal, hoje foi um dia de cinema nacional com dois longas conferidos, e agora eu fico por aqui, voltando amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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