Como um roteiro politizado envolvendo um pouco de discussão de meritocracia, de formas de fazer política e até mesmo de como encantar alguém e ao mesmo tempo ser ignorado, diria que o diretor e roteirista António Ferreira até que foi bem no que pretendia, porém faltou colocar um pouco mais de imposição nas suas cenas, e principalmente desenvolver melhor elas, pois ele nos leva a um crescente, quebra ele próximo ao fim, para depois derrubar tudo de novo, o que não é comum na maioria dos longas, e principalmente em tramas que usem a comicidade como pano de fundo, pois mesmo trabalhando com um humor ácido, é necessário pesar até onde deseja fluir, e ele meio que optou por dramatizar demais algo que já é dramático, e assim seu filme até tem um ápice, mas decai ao invés de fechar bem, o que é algo crítico demais para qualquer filme.
Quanto das atuações, diria que Estêvão Antunes trabalhou seu Lucas de uma forma bem interessante, pois ele deu as nuances tradicionais de jovens cozinheiros que sabem fazer coisas diferentes, possuem estilos e desenvolturas, mas que acabam não sendo vistos dessa forma por serem de classes inferiores demais as de grandes chefs de restaurantes, e o ator soube desenvolver um ar meio triste, meio confuso e passou bem esse sentimento de não ser visto, ou até mesmo de ser usado sem ser valorizado, servindo apenas para fazer uma boa comida e não aparecer, servir para se passar como o pobre coitadinho, mas não conseguir uma moradia melhor, e até mesmo para dar uma rapidinha, e não ter uma ligação maior, ou seja, expressou bem tudo o que precisava fazer para o papel, mas da mesma forma que o personagem, não elevou o filme para algo maior. Já São José Correia trabalhou suas nuances tradicionais de uma política, fazendo com que sua América fosse bem chamativa e interessante, mas também meio seca demais nas atitudes, o que dava para ser um pouco amenizado. Ainda tivemos alguns atos interessantes de Daniela Claro com sua Noémia meio que arrogante de entrega, João Castro Gomes com seu Vitor forçando a barra para todos os momentos, mas quem se entrega melhor dentro dos personagens secundários é Custódia Galego como a mãe do protagonista.
Visualmente o longa em si é bem simples, mostrando logo de cara o despejo do protagonista de sua casa, depois vemos ele sendo alojado em um barraco, vemos algumas festas e reuniões de campanha da candidata à presidência, mas também de forma bem simples, todo o sensacionalismo tradicional das campanhas, e claro um bom requinte nas refeições feitas pelo protagonista, mostrando que a equipe de arte até foi bem no que desejava passar, mas ir muito além, apenas representando bem tudo na tela.
Enfim, é um filme que tinha potencial para ir muito além, que teve a sacada da facada na campanha (algo que vimos acontecer em outro país que não é Portugal, mas também fala português, e claro que usaram como referência), mas que não se desenvolveu tão bem como poderia, e assim acabou ficando mediano demais, e exageradamente artístico para que o público se conecte com a trama, então fica a dica para quem gosta conferir. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até breve.
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