A Musa de Bonnard (Bonnard, Pierre et Marthe)

11/12/2023 07:51:00 PM |

Introdução Costumo dizer que filmes envolvendo artistas é algo bem complexo, que mostra a vida deles com suas boêmias, seus conflitos interiores e suas inspirações, mas chega a ser bem difícil falar da vida das esposas e/ou mulheres que viveram com eles. E sem dúvida a vida de Marthe de Méligny foi bem sofrida, pois mesmo inspirando as pinturas de Bonnard, vemos que ele nunca foi santo no filme "A Musa de Bonnard", que está em cartaz na programação do Festival Varilux. Claro que a fotografia do longa é lindíssima, mostrando os estúdios do pintor, a casa deles no campo, e claro a vivência deles com vários artistas da época, numa ode interessante para conhecer o artista e sua musa, mas que por ser uma época de guerra aonde a maioria ficava em casa recluso, a trama acaba sendo meio que cansativa demais. Mas o mais engraçado do filme em si nem foi algo que o diretor previu acontecer, pois com o calor da cidade de Ribeirão Preto, faltando uns 5 a 10 minutos do final do longa, ao aparecer o fantasma da amante, eis que acaba a energia do cinema, dando uma experiência diferente para o longa. Quanto ao filme geral diria que é mais cansativo do que envolvente, mas que vale por mostrar a vida de uma mulher que aceitou esse sofrimento de viver com um homem bon-vivant, mas que foi bem inspirado pela mulher que teve.

O longa nos conta a vida do pintor francês Pierre Bonnard (1867-1947) e de sua esposa, Marthe de Méligny (1869-1942), ao longo de cinco décadas. O homem que seu país natal apelidou de “pintor da felicidade” não seria o pintor que todos conhecem sem a enigmática Marthe que sozinha ocupa quase um terço da sua obra.

Diria que o estilo do diretor e roteirista Martin Provost ("A Boa Esposa", "Reencontro") é desses que gosta de retratar personagens como uma pintura realmente, valorizando bem a cenografia e trabalhando bastante com detalhes cênicos, mas sem criar grandes desenvolturas na tela, o que acaba mais cansando do que agradando na forma integral da trama. Ou seja, ele trabalhou bem todo o resultado do filme, mostrando bem como viveu o artista e tudo mais, mas não conseguiu ir muito além do que uma obra biográfica bem desenvolvida.

Quanto das atuações, diria que Cécile de France trabalhou muito bem sua Marthe Bonnard, entregando algo até que bem interessante de desenvoltura, criando trejeitos fortes e intensos, e se desenvolvendo bastante conforme os anos vão mudando na tela, desde uma donzela bem esperta no começo até uma mulher que passou a pintar e depois uma senhora que vê fantasmas, e isso mostrou que ela tem muita potência artística, sendo precisa e interessante de acompanhar seus traços. Já Vincent Macaigne fez um Pierre Bonnard bem intenso, trabalhando bem as mãos e olhares para passar o ar de estar pintando mesmo, e claro como um bom amante de suas musas acabou tendo flertes com todas. Stacy Martin deu um ar sedutor para sua Renée Monchaty, criando cenas marcantes e muitas aberturas emocionais para a trama, mostrando estilo e presença na tela. Quanto aos demais, vale citar muitos artistas marcantes da época, como Anouk Grinberg que viveu Misia Godebska, e André Marcon que fez Claude Monet, dando boas intensidades para as cenas junto dos protagonistas.

Visualmente a trama é incrível, retratando bem o fim do século XIX e o começo do XX colocando a guerra meio que de pano de fundo, mas sem mostrar bombardeios ou soldados, e focando mais nas pinturas e na vida do protagonista, mostrando seu pequeno estúdio em Paris, as festas na casa de Mísia Godeska, depois sua bela casa a beira do rio aonde acontecem várias cenas bem bonitas, inclusive com Monet usando o local para várias de suas pinturas também, vemos algumas cenas num prédio na Itália com a amante, e claro as pinturas de Marthe depois, ou seja, um filme com uma liberdade poética bem visual da vida do pintor e de sua musa.

Enfim, é um filme que até entrega algo bem interessante, e escrevi claro o texto com 10 minutos a menos, sem saber o final que irei ver na terça quando for conferir outro e este estiver no finalzinho, mas já dava para imaginar o que aconteceria ali, e nos atos seguintes, então digo que poderia ter um ritmo mais trabalhado para não soar cansativo, pois assisti 110 minutos do longa que pareceram pelo menos umas três horas, mas não chega a ser ruim de ver, então fica a dica. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas vou agora ver uma das estreias do streaming, já que hoje não voltará a luz no cinema do Festival, então volto mais tarde com mais um texto, então abraços e até breve.


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