Diria que o diretor e roteirista Michele Placido foi bem esperto ao escolher o estilo para desenvolver sua trama, de tal maneira que ele optou por criar mais nuances abertas de cenas do que propriamente mostrar a vida do pintor, fazendo assim conversas e interrogatórios subjetivos para que o protagonista Sombra fosse conhecendo tudo sobre o pintor, as pessoas pobres, ricas, do clero e das mais baixas estafas sociais que ele se envolveu, e que com elas cada um foi contando suas versões e convivências de maneira que o retrato por completo do pintor firmasse na mente do investigador, até claro seu encontro cara a cara no final. Ou seja, não vemos propriamente um caminho de Caravaggio, mas sim tudo o que ele incorporou nas vidas das pessoas pelas quais passou, como fez grandes obras, e claro dentre as pessoas a maioria dos rostos que foram usados para retratar os grandes nomes bíblicos com sombras e nuances, as quais o diretor apenas colocou o diretor de fotografia Michele D'Attanasio para usar tudo o que estudou sobre o estilo barroco em sua vida para dar os tons e sombras na tela.
Quanto das atuações, é claro que o destaque principal fica para Riccardo Scamarcio que trouxe trejeitos fortes e muito vigor para seu Michele/Caravaggio, tendo muitas cenas sexuais e sensuais, desenvolturas com espadas, e claro muita pintura e envolvimento com todos, fazendo atos bem marcantes e intensos que mostraram mais uma vez como o ator tem personalidade e sabe desempenhar papeis que o desafiam com uma facilidade incrível, ou seja, deu show. E outro que deu show foi Louis Garrel, que tanto vejo no Festival Varilux de Cinema Francês, e agora veio dar em italiano muita imponência para seu Sombra, fazendo todo um ar denso e bem marcante característico dos inquisidores da Igreja, mas bem interessado em tudo e com olhares julgadores que só ele sabe fazer muito bem. Ainda tivemos atos bem colocados da também francesa, Isabelle Huppert como Constanza Collona, Lolita Chammah com sua Anna Bianchini e Micaela Ramazzoti como Lena, sendo as três mulheres que se envolveram com o pintor e trabalharam bem as dinâmicas mais sensuais e também de defesa dele. Além de valer destacar Breno Placido com seu Ranuccio bem imponente em todos os atos com quem o protagonista briga o filme inteiro, e claro é o motivo de Caravaggio estar sendo condenado à morte, e até mesmo o diretor aparece como ator fazendo um dos cardeais que mais foram aficionados pelas obras do pintor.
Visualmente posso dizer que a equipe de arte foi mais do que perfeita, pois usou material das várias igrejas e museus para as obras, e claro as recriou maravilhosamente com pessoas nas cenas, tendo uma Itália dos anos 1600 suja e escura, mas cheia de nuances, aonde claro as sombras clássicas do pintor deram o tom sejam nas lutas de espadas, nas orgias e festas, no seu estúdio, nos castelos e até mesmo nas capelas aonde vemos todas os olhares para as obras que eram aceitas ou escondidas para coleções pessoais, ou seja, um trabalho minucioso impecável de detalhes que agrada qualquer bom amante das artes.
Enfim, é um filme incrível, que poderia ser ainda melhor se fosse mais voltado para o olhar do pintor e sem tantas idas e vindas temporais, pois em determinados momentos acabamos meio que perdidos com tudo, com tantos personagens imponentes bem colocados, mas não tão bem usados, e assim sendo o resultado impressiona pela grandiosidade, mas peca um pouco nas dinâmicas, não sendo algo ruim, muito pelo contrário, mas dava para ser perfeito com bem poucos ajustes. Sendo assim, é claro que fica a dica para dar play nele na plataforma do Festival à partir do dia 08/11, e para os sortudos que moram nas cidades escolhidas para ter sessões presenciais, esse é uma boa pedida, eu ainda terei mais quatro cabines de imprensa de alguns filmes selecionados, e volto aqui em breve para falar sobre eles, mas claro que verei todos os demais assim que abrir. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até breve.
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