Netflix - Rustin

11/18/2023 01:20:00 AM |

Costumo dizer que o cinema tem muitas pautas para trabalhar, e representar épocas é a principal delas, pois muito se fala sobre a segregação racista dos anos 50/60 nos EUA, e poucas vezes estudos algo bem rapidamente como tudo acabou mudando, e sempre que ouvimos falar do tema só vem um nome na cabeça Martin Luther King Jr., mas existiram muitos outros nomes por trás da grandiosa marcha e claro nas organizações das pautas para que as leis mudassem por lá, e um dos nomes é do ativista homossexual Bayard Rustin, que a trama da Netflix, "Rustin", traz para que conheçamos um pouco mais desse grandioso organizador que soube liderar muitas pessoas para que tudo explodisse da forma que foi a Marcha pela Liberdade de 1963. Claro que o filme poderia ter trabalhado mais sobre a Marcha em si, mas já tivemos também outros filmes que trabalharam isso, e aqui a sacada foi mostrar o homem por trás de tudo, e a sacada foi muito bem trabalhada pelos atores protagonistas para que o filme fosse bem imponente.

A sinopse é bem direta e nos conta que como arquiteto da importante marcha de 1963 em Washington, Rustin desafiou a autoridade e nunca se desculpou por quem ele era, mas foi esquecido apesar de ter feito história. Rustin destaca o homem que, ao lado de Martin Luther King Jr., ousou imaginar um mundo diferente e inspirou um movimento.

O diretor George C. Wolfe ficou muito conhecido com o longa "A Voz Suprema do Blues" que foi indicado a 5 Oscars e acabou levando 2 (Figurino e Maquiagem) em 2020, mas mais do que isso o longa ficou conhecido como o último filme de Chadwick Boseman, e com isso seu filme acabou sendo muito conferido, e se lá ele mostrou uma ginga bem trabalhada nos diálogos, aqui ele novamente entregou uma trama cheia de carisma em cima do protagonista, mostrou muita desenvoltura nos momentos mais próprios fechados e densos, mas principalmente soube ampliar mais o movimento de 1963, pois confesso que se hoje fizesse uma prova jamais falaria que um ativista negro homossexual estivesse envolvido em um movimento tão imponente dessa época, certamente marcando qualquer outra alternativa na prova, e o diretor soube dar voz ao personagem, desenvolveu bem cada síntese emocional, e ao ambientar bem o público na época conseguiu soar marcante na tela, pesando bem a mão em cima disso, o que traz um filme mais fechado dentro do tema, e ainda assim passando bastante carisma com toda a ideia.

Quanto das atuações, não ficaria surpreso se Colman Domingo fosse indicado à muitos prêmios, pois já tinha mostrado muita personalidade no outro longa do diretor, e aqui seu Rustin tem trejeitos fortes, tem dinâmicas bem encaixadas, e mais do que isso tem um carisma próprio que o ator conseguiu desenvolver com uma facilidade que nem parece estar atuando, mas sim brincando de dar voz ao personagem, ou seja, se jogou por completo, se "enfeiou" com uma maquiagem bem trabalhada nos dentes para mostrar o resultado de uma pancada policial, e deu show. Ainda tivemos atos bem imponentes de Aml Ameen como Martin Luther King Jr. bem fechado, mas cheio de presença, Chris Rock fazendo um Roy Wilkins determinado e direto no que desejava mostrar, entre muitos outros que trabalharam cada personagem importante no movimento, valendo dar um destaque para o elo emocional do protagonista com Gus Halper com seu Tom bem respeitoso e diria até apaixonado pelo personagem principal.

Visualmente vemos a organização do movimento em um escritório bem trabalhado, com muitos telefones, vemos as reuniões em um beco no fundo do prédio, as blitz em bares dos contrários ao movimento, vemos toda a preparação para ser algo com policiais desarmados, e claro todo o ambiente na frente da Casa Branca no dia do movimento sendo tudo muito bem representado, e ainda sobrou espaço para conhecemos o apartamento do protagonista, alguns cultos em igrejas que frequentava, e a casa de Martin Luther King Jr., com sua esposa e filhos, tudo bem representativo e com ótimas nuances da época.

Enfim, é uma trama histórica que poderia ter sido melhor trabalhada para mostrar um pouco mais do movimento, um pouco mais da marcha, e até mesmo um pouco mais dos relacionamentos complexos que o protagonista teve, mas aí acabaria ficando arrastado demais, de tal forma que tudo funciona da maneira simples que acabou ficando, sem ser algo pesado e tenso, e que ainda conta com a canção de fechamento de Lenny Kravitz, "Road to Freedom", que pode aparecer também entre as indicadas nas premiações, então fica a dica para conferirem, e eu fico por aqui hoje deixando meus abraços para todos.


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