A sinopse nos conta que o futuro de Marguerite parece claro. Brilhante aluna de Matemática na renomada Escola Normal Superior de Paris e a única menina de sua classe, ela está finalizando uma tese que deverá apresentar diante de um público de pesquisadores. No grande dia, um erro abala todas as suas certezas e ela decide abandonar a faculdade, esquecer de vez a matemática e começar uma nova vida.
Diria que a diretora e roteirista Anna Novion estudou demais a vida de pesquisadores matemáticos, pois é notável tudo o que é entregue na tela, com resoluções de cálculos tão grandiosos quanto um apartamento inteiro (a cena que a amiga volta para casa e vê as paredes quase enfarta!), a forma da protagonista se portar curvada de tanto estudo, as dinâmicas e tudo mais que me lembrou demais amigos da área, fora todo o estilo que escolheu para o ar depressivo, o jogo ilegal, e até a forma de trabalhar, que acabou dando nuances tão marcantes que só com muita consultoria em cima de alguém da área para criar tudo, e o resultado se vê na tela, pois mesmo não sendo algo perfeito, os atos acabam impactando e agradando bastante.
Quanto das atuações, não conhecia Ella Rumpf, mas certamente passarei a olhar diferente para ela após o que fez aqui com sua Marguerite Hoffmann, pois sabemos que atores tem grandes capacidades de decorar textos, mas aqui são tantos termos técnicos para falar, e principalmente, para escrever na lousa, que vemos a atriz ali fazendo de frente para nós, não sendo uma dublê de corpo para mudar depois, ou seja, ela praticamente viveu todos os dias de gravação como uma aluna de Matemática aplicada, e trabalhou corpo para ficar mais curvada, fez olhares apaixonados pelos números e se doou por completo, sendo perfeita demais em tudo. Julien Frison deu boas nuances também para seu Lucas Savelli, criando dinâmicas bem colocadas de um par realmente, além de se entregar para uma vida fora da Matemática com música de uma forma bem colocada. Tivemos ainda atos de dança bem entregues por Sonia Bonny com sua Noa, atos de bronca mais marcados pela emoção com a mãe vivida por Clotilde Courau, mas sem dúvida tivemos bons atos de ciúmes no melhor estilo de orientadores de projetos com Jean-Pierre Darroussin com seu Laurent Werner, de modo que todos acabaram entregando suas propostas num nível bem convincente e marcante.
Visualmente a trama mostra bem uma faculdade de Matemática e também um congresso com lousas móveis que vão subindo até um terceiro andar (nunca tinha visto algo assim, e achei genial do professor não precisar ir apagando suas conclusões e raciocínios), vemos um apartamento bem simples que acabam pintando as paredes com tinta de lousa para a jovem ir trabalhando sua pesquisa nas paredes, vemos alguns bares e boates, e claro vemos também o famoso jogo de mahjong presente em vários clubes e mesas clandestinas aonde a protagonista vai ganhar um bom dinheiro com sua lógica, além de uma loja de produtos esportivos, ou seja, não foram necessários criar muitos ambientes, aonde a equipe de arte aproveitou bem as locações e colocou bagunça tradicional de jovens em apartamentos, e claro todas as nuances de universidades.
Enfim, é um filme de certo modo pesado pela estrutura em si, mas que envolve bastante e passa bem as mensagens na tela, que quem tem amigos da área matemática certamente já viu dissertações de problemas minúsculos que viram páginas e mais páginas, e aqui junto com a essência dramática de uma jovem que se levanta e muda por completo depois de uma queda resultou em um algo bem interessante de ver. Como disse no começo muitos não irão entender nada do que estão fazendo nas lousas, mas veja então como um filme de superação no que a pessoa é boa, e aí o rumo vai valer para todos a indicação. E é isso pessoal, esse foi apenas o primeiro dia do Festival Varilux de Cinema Francês, e volto amanhã com mais vários textos dos filmes do dia, então vamos acompanhando e até logo mais.
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