O longa conta a história de uma mulher de 70 anos que não tem nenhum filho e nunca se casou, e acaba sendo convencida pelas irmãs, Vanda (Arlete Salles) e Valquíria (Louise Cardoso), a se mudar para outra cidade a fim de cuidar dos pais. Se passando em apenas um dia, o filme acompanha a preparação de Virginia para receber as irmãs que estão vindo até sua casa para celebrar o Natal.
Se no primeiro filme de Fábio Meira ("As Duas Irenes") eu reclamei que faltou ele ser mais subjetivo e não enfeitar tanto o doce enrolando a trama "enchendo linguiça", aqui ele já deixou praticamente tudo da forma mais subjetiva possível, aonde você praticamente tem de ir entendendo todas as nuances possíveis ou ter alguém meio que parecido na família para que a ideia como um todo chame você para o embate, pois seu filme é quase que algo tão imponente que fala sozinho, mas sem uma abertura para clichês ou jogadas clássicas dos gêneros que se propõe. Ou seja, o diretor e roteirista conseguiu fazer um longa sem ser explosivo, com nuances tão pesadas que não tem como esperar que fosse ficar leve de fechamento, e isso é algo brilhante, principalmente no cinema nacional, aonde tendem a deixar o lado pesado nos finais para que o filme fique mais "bonito", e aqui a pegada foi além e funcionou bastante.
Quanto das atuações, a trama mostra o motivo que Vera Holtz cai muito bem em personagens que tenham uma explosão dinâmica forte na tela, seja com vilãs ou personagens mais problemáticos, pois ela como alguns costumam falar "coringou" por completo com sua Virgínia, começando seu dia com alegria mesmo tendo trabalhado aos montes para deixar a casa perfeita para a noite de Natal com a família, cuidou de sua mãe para ficar apresentável para as irmãs, preparou tudo com muito envolvimento, mas quando começa a levar pancadas vai guardando tudo até a explosão máxima, e aí é que entrou em jogo todas as facetas da atriz que amamos ver na tela, dando seu show inicial no miolo como apenas uma palhinha, e voltando claro ao final com tanta personalidade e desenvoltura dançando uma música ignorando totalmente o diálogo dos demais personagens, ou seja, se jogou por completo. Ainda tivemos Arlete Salles bem imponente como sempre com sua Vanda, com ares encorpados bem trabalhados daqueles que querem fazer as coisas, mas mais atrapalham do que realmente fazem, vemos uma Louise Cardoso toda trabalhada na arrogância se achando por completo com sua Valquíria. O elenco se completa bem com Daniela Fontan como a sobrinha que botou peitos, Iuri Saraiva como o sobrinho que se formou em medicina e bebe aos montes, a empregada vivida por Amanda Lyra, além claro de Antonio Pitanga como o marido de Vanda já meio caduco e Vera Valdez fazendo a mãe das mulheres já quase morta no ambiente, mas com olhares e trejeitos bem imponentes para dar um bom destaque para tudo.
Visualmente a trama entrega uma casa simples, mas de uma família mais próxima da classe média em preparação para a ceia de Natal, vemos roupas marcantes, os vários quadros com fotos da família na parede, o tradicional presépio montado com luzes e tudo bem bonitinho, uma vitrola numa sala com um fundo de quadro bem representativo, alguns poucos quartos e dependências que dão briga para a noite, uma cozinha simples e organizada aonde também rolam algumas desavenças, ou seja, tudo em uma única locação bem utilizada pela equipe de arte para dar as devidas nuances que o filme precisava.
Enfim, é um filme que tem uma estrutura simples, mas que vai se abrindo cheio de personalidade em cima da protagonista, de tal forma que não tem como não se envolver com a protagonista, e claro com as demais personagens também, aonde alguns acabarão defendendo um lado, outros o outro, mas que no final de tudo o que vale realmente é a explosão da protagonista com tudo o que tinha preparado, sendo algo que vai muito além do simples, mas sim uma trama completa que vale muito a recomendação de conferida. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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