Netflix - Maestro

12/22/2023 12:26:00 AM |

Já disse muitas vezes que Bradley Cooper entregava algo exagerado demais para todos os seus papeis, e por vezes isso recaia de não funcionar como deveria realmente, mas esse seu exagero finalmente foi recompensado, pois "Maestro" pedia exatamente esse estilo de atuação, de direção e de produção, de tal forma que sem pensar duas vezes posso elencar como o melhor filme da carreira dele, e acho que será difícil ele conseguir se superar com o que fez aqui, pois a trama tem nuances tão bem encaixadas, atuações brilhantes e orquestradas (em todos os sentidos), uma maquiagem/cabelo perfeitos de tal maneira que se você pegar o filme no meio do caminho sem saber quem é o ator, irá ficar sem saber quem é ele, pois está irreconhecível, fora a emoção e a desenvoltura perfeita que teve uma cadência marcante e cheia de vida. Ou seja, posso estar errado, mas se ele não levar seu Oscar agora não leva nunca mais, seja como ator, diretor ou produtor, pois é de longe o seu filme mais completo e que só não diria que é perfeito por termos algumas cenas exageradamente paradas para dar mais emoção, e isso numa noite pós-trabalho acaba sendo cansativo de ver, mas aí entra algo que não é pensado na venda de um longa-metragem, e falando em venda, mesmo a trama sendo exageradamente artística ela tem um peso comercial tão bem trabalhado que certamente não vai deixar a distribuidora/produtora Netflix triste com o resultado, então pare tudo o que está fazendo e dê o play, que vai valer a pena.

O longa conta a história real da vida e carreira do compositor, músico e pianista Leonard Bernstein, responsável pela composição da trilha sonora de musicais aclamados da Broadway, como West Side Story, Peter Pan e Candice. Natural da cidade de Lawrence, Massachusetts, nos Estados Unidos, Bernstein ocupou o cargo de principal condutor da Orquestra Filarmônica de Nova York durante 18 anos, e se consagrou como um dos músicos mais importantes dos Estados Unidos. A produção também mostra sua complexa relação com a atriz de TV e teatro Felicia Montealegre, que se iniciou quando os dois se conheceram em uma festa, em 1946, passando pelo primeiro noivado do casal - que foi desmanchado - até chegar ao seu casamento de, ao todo, vinte e cinco anos de duração, que trouxe três filhos ao casal.

E como já falei no começo, como diretor Bradley Cooper soube pegar uma história de vida bem trabalhada aonde ele e Josh Singer montaram um belo roteiro, que muitos até podem falar que o olhar da trama foca mais em Felicia do que em Leonard, mas vejo como uma conexão conjunta bem estruturada, aonde vemos a paixão de ambos e claro as desenvolturas de Leonard com seu outro lado, e o melhor, sem ficar forçado, pois não era essa a pegada da trama, então vemos muita emoção nas traições, vemos muita emoção na doença, e principalmente vemos muita emoção sendo passada nos concertos e na forma de ensinar do personagem, pois ele foi belo de sentido em tudo o que passou, não deixou que a emoção fosse apenas uma segurança abstrata por ali, e mais do que isso deixou que o conteúdo artístico não sobrepusesse o comercial também, sendo uma biografia que qualquer um que sequer tenha ouvido uma obra de Bernstein, que não tenha a cultura comum de ouvir uma orquestra, ou principalmente que não tenha flerte com o estilo de vida do compositor conseguisse assistir e se envolver com tudo, e isso sim é cinema para todos como costumo dizer, e mais do que isso, é um longa fácil de ser premiado, pois tem tudo o que os votantes das premiações gosta, então é aguardar e ver o que vai rolar, pois volto a dizer, a trama tem assinatura de mestres do cinema (Scorsese e Spielberg por trás de tudo), então será visto por todos.

Costumo sempre dizer que atuar e dirigir é algo que raramente dá certo, pois uma coisa acaba ficando boa e a outra desanda, mas aqui brilhantemente Bradley Cooper deu tanta personalidade para seu Leonard Bernstein que junto de uma maquiagem incrível (que alguns reclamaram do nariz logo que saíram as primeiras fotos, mas que comparado com a foto original do músico ficou na medida) você ficará procurando cadê o Bradley Cooper que conhecemos, estando irreconhecível o ator, mas sim muito semelhante ao músico, e seus gestuais, seu porte, sua vontade nas cenas, tudo com uma precisão cênica merecedora de olhares e prêmios, ao ponto que chega a surpreender demais em cada ato melhor que o outro, fora a diferença intensa dos atos jovem e depois adulto, ou seja, deu show nas duas funções. E não por menos ficou Carey Mulligan com sua Felicia Montealegre, pois entregou emoção nos olhares e na personificação de uma mulher forte, apaixonada, mas também serena de quem era seu marido, de modo que a atriz trabalhou tanto sua atuação que não tem como não se envolver com ela e se emocionar com seus atos, sendo também um de seus melhores trabalhos. Quanto aos demais, diria que a maioria apenas deu conexões com os protagonistas, tendo leves destaques para os trejeitos bem marcados de Matt Bomer com seu David Oppenheim e principalmente Maya Hawke como Jamie Bernstein a filha mais velha do músico.

Visualmente o longa é um luxo completo tendo a juventude e o começo do músico todo com uma fotografia em preto e branco por vezes pensei que ficaria algo desnecessário, mas a equipe de arte soube passar muito simbolismo em todos os elementos, na sua primeira regência de uma grande orquestra, seu envolvimento com os demais personagens e tudo com muitas sombras e nuances em algo primoroso de ver, depois tivemos todo o segundo ato já em sua maturidade e velhice com maquiagens precisas, mostrando festas, sua casa riquíssima, a conexão com a filha e tudo muito bem passado na tela sem florear muito, mas sendo bem encaixado, tendo o ato mais imponente numa igreja com uma orquestra incrível e tudo muito bem representado ali na tela, além de alguns atos no hospital e na recuperação da esposa após a retirada do seio com câncer.

Enfim, é um filme riquíssimo em todos os sentidos, sendo uma biografia muito bem trabalhada na tela aonde você sente a presença da atuação, da direção e da produção, valendo cada minuto de tela, e falando em tempo, diria que os 129 minutos foram muito bem usados, principalmente para dar as devidas nuances emocionais, mas que recomendo ver sem estar muito cansado para aproveitar melhor tudo, pois vale a pena. E é isso pessoal, agora é esperar para ver se realmente vai explodir nas premiações do começo do ano, afinal já chega com 4 indicações ao Globo de Ouro e 8 indicações ao Critics Choice, o que já é um grande feito. Eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.

PS: Até pensei em tirar um ponto da nota por ter cansado um pouco no miolo, mas vi que o cansaço era meu e não do filme, então vou manter a nota máxima já que não tenho notas quebradas e um ponto seria muito para ele.


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