Netflix - The Kitchen

1/21/2024 09:02:00 PM |

Outra coisa boa que as plataformas de streaming fizeram foi colocar o sonho de alguns atores de mudar de lado das câmeras e começar a investir também na direção, tendo claro orçamentos bem mais consideráveis do que pegar algo 100% independente, e com isso estrear com coisas bem chamativas. Claro que não posso dizer que muitos deram certo, mas ao menos entregaram tramas que mostram sua pegada, e que outros produtores e escritores podem ver e gostar para investir mais numa segunda tentativa. E qual o motivo de começar falando assim do lançamento da semana da Netflix, "The Kitchen", pois Daniel Kaluuya, que conhecemos por muitos longas intensos como ator, estreou na direção e na redação trazendo uma trama futurista bem interessante pela pegada intensa dentro de uma sociedade de ocupações e brigas com a polícia, juntamente com um drama familiar meio que de incógnita, mas que principalmente mostrou que ele gosta mesmo é de grandiosidade cênica, afinal o ambiente fala até mais do que os personagens em si, e isso mostra o quanto tudo pode ir muito além na tela. Ou seja, é um filme que tem pegada, que tem visual, mas que dava para causar e emocionar muito mais, pois acabou ficando simples com toda a dramaticidade fácil que tinha para ser trabalhada.

Numa Londres distópica, o fosso entre ricos e pobres foi levado ao limite. Todas as formas de habitação social foram erradicadas e apenas a Kitchen permanece. Uma comunidade que se recusa a sair do lugar que chama de lar. É aqui que conhecemos Izi, o solitário, que vive aqui por necessidade e tenta desesperadamente encontrar uma saída, e Benji, de 12 anos, que perdeu a mãe e está em busca de uma família. Seguimos nosso par improvável enquanto eles lutam para estabelecer um relacionamento em um sistema que está contra eles.

Claro que para dois estreantes em longas na direção diria que Daniel Kaluuya e Kibwe Tavares até conseguiram criar algo bem dinâmico e cheio de nuances, mas que faltou surpresas e imposições mais emocionais, de tal forma que você vai conferir o longa já sabendo bem aonde ele vai atingir, e isso acaba pegando um pouco, ou seja, a ideia de uma comunidade bem trabalhada num futuro é marcante, a ideia de funerais transformando os mortos em árvores é algo que já se vem falando há algum tempo, e claro que a dúvida paternal é algo que sempre tem elos funcionais dentro de um filme, então acabou faltando bem pouco para que tudo unido fizesse um algo a mais em nossa mente e nos colocasse num rumo mais trabalhado. Ou seja, acredito que potencialmente podem ir ainda mais além numa próxima empreitada, pois sabem o que querem e não é o simples apenas.

Quanto das atuações, Kane Robinson ou Kano como prefere ser chamado entregou um Izi meio que depressivo de um certo modo, sem grandes facetas ou marcas que fizesse ele aparecer mais na tela, com muitas dúvidas de sua vida, de sua paternidade, de tudo ao seu redor, parecendo faltar um algo a mais para viver realmente ali, de tal forma que não parece algo errado de se ver, mas também não encaixa como poderia, parecendo também um pouco de falha de direção de atores, o que pode ser representado por termos diretores inexperientes por ali. Já o jovem Jedaiah Bannerman mostrou muita personalidade em sua estreia, tendo olhares bem marcados, trejeitos bem aproveitados em cena e toda uma dinâmica precisa para alguns atos, que claro também demonstrou um certo luto cênico chamativo, mas não deixou que isso forçasse sua determinação na tela. Quanto aos demais diria que Ian Wright caiu muito bem como o locutor da rádio comunitária, fazendo boas congratulações, passando mensagens para todos ali, e claro tocando boas canções, sendo alguém bem amado e envolvido com todos, o que acaba sendo bem emocional em seus atos finais, e também tivemos Hope Ikpoku Jnr com um ar denso de líder com seu Staples, que funciona na tela, e dava até para os diretores terem arriscado mais com ele na tela.

Agora algo muito bem trabalhado, que é notável a computação gráfica, mas que foi bem desenvolvido nas cenas mais fechadas foi o conceito visual da trama, entregando um prédio bem amarrado, sendo praticamente uma favela vertical, tendo apenas o quarto e um armário aonde a pessoa vive e um banheiro coletivo, tendo algumas lojas embaixo no melhor estilo de camelôs, mas tudo com muita tecnologia em LEDs, valendo até o esquema de projeção do corte de cabelo que foi bem colocado, várias motos de ataque para assaltos, uma funerária diferenciada toda envolvida em árvores e algumas cenas com dinâmicas em outros ambientes que acabam não sendo muito definidos como bairros verticais de locação, e/ou bancos, mas tudo bem tecnológico e cheio de estilo.

Enfim, é um filme que tinha muito potencial para se desenvolver mais, mas que acaba sendo  apenas interessante dentro da proposta, sem ir muito além do que um visual intenso com resoluções confusas e simples, mas que mostra um início digamos promissor para os novos diretores além de apenas atuar, então vamos esperar o que farão mais para frente, e por enquanto a trama vale apenas como um passatempo bem colocado na tela do streaming. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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