20 Dias em Mariupol (20 днів у Маріуполі) (20 Days in Mariupol)

2/27/2024 10:19:00 PM |

Costumo dizer que falar sobre documentários já é algo muito difícil, afinal é vermos o olhar de um diretor sob algo que está sendo retratado, então não temos como imaginar o quão fictício é cada ato, analisar planos de câmeras escolhidos, atuações e tudo mais que sempre acabo observando, mas o mais engraçado ou triste no caso, é que todo o material que o jornalista Mstylav Chernov junto do cinegrafista Evgeniy Maloletka captaram da guerra foi classificado pelo presidente e ministros russos como uma montagem encenada por atores, ou seja, já vi muitos filmes de guerras, e posso dizer com toda certeza que jamais conseguiriam fazer uma guerra tão bem representada e com uma força tão marcante quanto o que acabou virando o documentário ucraniano "20 Dias em Mariupol", que estreia nos cinemas nacionais à partir do dia 07/03, e provavelmente será o ganhador da estatueta do Oscar no dia 10/03, afinal o longa é intenso, cru, e diria até seco ao ponto de não fazer com que chorássemos com as imagens na tela, mas sim que viesse outros tipos de emoções, como desespero pôr os jornalistas estarem captando tudo, mas conseguindo enviar quase nada para fora da zona de guerra por não ter sinal de internet em quase nenhum lugar, temor pela vida tanto dos jornalistas quanto do povo que estava ajudando eles, e claro raiva por ver ataques cruéis à civis apenas por atirar como acabou acontecendo. Ou seja, é daquelas obras tão precisas que certamente tiveram toneladas de material para entregar na tela, mas que conseguiram colocar as mais marcantes para que tivessem apenas uma excelente duração de 95 minutos, mas que representasse bem todos os 20 dias que os jornalistas demoraram para conseguir sair da cidade, que logo em seguida foi tomada e dominada pelos soldados.

A sinopse é bem simples e direta e nos mostra como uma equipe de jornalistas ucranianos da Associated Press (AP) presos na cidade sitiada de Mariupol lutaram para continuar o seu trabalho de documentação das atrocidades da invasão russa. Sendo os únicos repórteres internacionais que permaneceram na cidade, captam o que mais tarde se tornariam imagens definidoras da guerra: crianças moribundas, valas comuns, o bombardeamento de uma maternidade e muito mais.

Tendo mais de uma década cobrindo conflitos para Associated Press, o jornalista Mstyslav Chernov estreou na direção de um documentário junto das imagens de seu parceiro cinegrafista Evgeniy Maloletka não sabendo precisamente o que desejava mostrar num primeiro momento, apenas se vendo no meio de toda a confusão e não parando de captar tudo o que estava vendo acontecer, e enviando seus vários materiais para as diversas emissoras que acompanhavam a guerra, mas claro que depois das declarações dos russos de que tudo o que estava sendo mostrado não passava de atuações e montagens, decidiu ir a fundo e preparou um documentário tão precioso e cheio de nuances que só começou com o pé direito levando Sundance e depois muitos outros prêmios, que irão terminar talvez consagrados com o Oscar daqui alguns dias, mas muito mais do que prêmios, o material dos jornalistas serviu mais para que víssemos o quanto uma guerra não dizima só soldados que estão brigando por seus líderes, mas principalmente civis que estão em suas casas, hospitais e tentam sobreviver fugindo de bombas, tiros e tudo mais, ou seja, o longa acaba sendo dramático com tudo o que vemos na tela, pais e mães chorando por seus filhos, o último olhar de um jovem preso à escombros, muitas vidas sendo jogadas em valas por não ter como identificar nem sepultar propriamente, médicos desesperados para salvar os que chegavam vivos em seus cômodos (ou o que sobraram) dos hospitais, isso sem anestésicos e analgésicos, ou seja, na base do grito de dor, e muito mais que se eu for enumerar aqui acabarei estragando a conferida dos demais. 

Então, já que não tenho o que falar de atuações e cenários visuais, afinal volto a frisar que não estamos falando de uma ficção, vou falar um pouco das imagens e da edição, pois o trabalho é tão bem colocado na tela que se não fosse as telas escuras para dar as quebras de dias, o resultado da edição pareceria que o jornalista nem dormiu e foi seguindo filmando por 20 dias seguidos, e o melhor, sem entregar atos desesperados de imagens em correria como vemos em outros longas do estilo, ou seja, é uma edição tão bem trabalhada que o resultado acaba sendo algo que transporta o espectador para os 20 dias mostrados, fazendo algo tão intenso e marcante que vemos os ambientes destruídos, os jornalistas sem saber como falar com as pessoas ali presentes sem rumo, e muito mais que acaba chocando e envolvendo quem for conferir.

Enfim, poderia falar muito mais do longa, mas estragaria a experiência de quem for conferir ele, que mesmo forte e difícil de assistir, vale cada minuto de exibição, não sendo algo longo e nem cansativo, pois sendo algo mais jornalístico era o meu maior medo do que veria, e em momento algum me senti vendo um jornal na tela. Então é isso pessoal, recomendo demais ele para ver nos cinemas à partir do dia 07/03, e fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Synapse pela cabine de imprensa show, então abraços e até logo mais.


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