Dias Perfeitos (Perfect Days)

2/18/2024 01:05:00 AM |

Diria que nem dá para falar muito do longa "Dias Perfeitos", pois a base é repetida diversas vezes mudando pouquíssimas coisas dentro da rotina de vida e trabalho do protagonista, sendo algo que tem um olhar nosso sobre o filme, do diretor sobre sua ideia, e claro do personagem sobre o mundo ao seu redor, afinal vemos um senhor que é limpador de banheiros, com toda sua metodologia, falando somente o necessário, dormindo e sonhando com seu dia, acordando, arrumando a cama, escovando seus dentes, pegando um café na máquina e indo ouvindo grandes clássicos dos anos 70/80 em fita K7, limpando banheiros tecnológicos na Tóquio moderna, comendo seu lanche no almoço enquanto olha as árvores e as pessoas ao redor, voltando pra casa, indo para banheiros simples e restaurantes simples para ter seu jantar, isso rotineiramente e repetidamente várias vezes, tendo poucas nuances e atos diferenciados. Aí você me pergunta, mas como isso virou um filme? Não é ruim? E a resposta é muito pelo contrário, pois o protagonista/personagem consegue passar um ar de satisfação pelo que faz, ter uma vida tão simbólica e emocional, que acabamos nos envolvendo com ele, e isso acaba sendo gostoso de ver, até a quarta/quinta vez, depois da quebra da sobrinha, diria que acaba ficando meio que cansativo, mas ainda assim bonito de ver com o desenrolar de outras coisas. Ou seja, é daqueles filmes que quem conhece o estilo do diretor vai esperando essa essência bem colocada na tela, mas quem nunca viu um filme dele (o que é bem fácil acontecer, já que quase nenhum chega aos cinemas do interior!) talvez ache tudo meio estranho num primeiro momento e depois de pensar bastante acabe indo ver alguns outros.

A sinopse nos conta que Hirayama leva uma vida feliz, conciliando seu trabalho como zelador dos banheiros públicos de Tóquio com sua paixão por música, literatura e fotografia. Sua rotina estruturada é lentamente interrompida por encontros inesperados que o forçam a se reconectar com seu passado.

Diria que o diretor e roteirista Wim Wenders traduziu bem toda a síntese de solidão, de vivência com o passado e também de envolvimento com um mundo mudado, mas que você não deseja entrar, de tal forma que ele brinca com os vários dias do protagonista, transporta o público para aquele mundo pequeno dele, e floreia as devidas conexões artísticas de várias formas de se olhar, não sendo um filme difícil como muitos podem achar, nem abstrato como muitas vezes ele costuma trabalhar, mas sim uma obra visual reflexiva e bonita de assistir. Claro que dá para florear muitas ideias e possibilidades dentro da trama, dava para o filme ir por muitos outros rumos, mas da forma que foi trabalhado consegue emocionar e envolver bastante, principalmente pela excelente atuação do protagonista.

E falando na atuação do protagonista, Koji Yakusho ganhou o prêmio de melhor ator em Cannes com muito louvor pelo que faz com seu Hirayama quase sem palavras, mas expressivo, com olhares e trejeitos bem trabalhados e envolventes, cheio de disposição para com seu trabalho e com sua vida simples, porém bem marcada e que flui conforme vai sendo desenvolvida, não precisando de atos fortes, exagerados, nem nada, apenas o seu dia a dia, em que acaba emocionando e agradando bastante. Ainda tivemos atos mais cômicos e forçados com Tokio Emoto com seu Takashi, tivemos alguns atos simples e diretos com a sobrinha do personagem principal que Arisa Nakano consegue dar uma boa quebra na rotina do protagonista, e muitos outros tentaram dar algumas conexões, mas a base é o protagonista e sua vivência que agrada demais em cena.

Visualmente o longa mostra a casa simples do protagonista, tendo apenas o seu quarto com um colchonete, sua coberta, suas plantas, seus muitos livros e fitas K7 em cima, e embaixo uma pia, um fogareiro e seus apetrechos bem organizados na ordem que usa, tudo sendo bem simbólico e marcado, ainda tivemos muitos banheiros tecnológicos, com privadas de todos os tipos, vidros que mudam de cor para esconder a pessoa no reservado, vemos muitas vias da cidade, um local de banho público e muitos pequenos restaurantes bem simples que encaixam na rotina do protagonista, ou seja, é quase um passeio por uma Tóquio bem diferente dos grandiosos filmes, e claro com muitos objetos e elementos cênicos marcantes, afinal o protagonista tem seus próprios elementos para mostrar na tela.

Enfim, é um filme muito bonito, muito técnico e que permeia fácil por ideias e ideais que vemos muito ocorrer nos dias de hoje, de que cada um vive sua vida simples sem precisar de muito, e é feliz com isso, e quando confrontado com coisas do passado acaba desandando um pouco a rotina, mas saberá aonde ir para voltar ao prumo. E assim fica a dica de conferida desse que está concorrendo à vários prêmios na categoria de Melhor Filme Internacional, então não perca a chance, principalmente por ser bem raro um longa desse estilo chegar no interior. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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