Ferrari

2/23/2024 01:47:00 AM |

Costumo dizer que o maior problema de fazer um longa sobre a história de alguém muito importante em diversos meios é saber aonde desenvolver mais para que a trama fique perfeita, e isso acaba pesando bastante no resultado final, tanto que acaba sendo gigante o conflito de momentos expressivos de "Ferrari", ao ponto que o diretor Michael Mann mesmo demorando 30 anos para tirar o projeto do papel ficou muito confuso se focava na vida pessoal bagunçada de Enzo Ferrari, se focava na corrida assustadora que foi a Mille Miglia de 1957 ou ainda se trabalharia a possibilidade de mostrar a quase falência da companhia no mesmo ano com tudo o que acabou acontecendo. E aí você me pergunta, o filme ficou ruim com toda essa dúvida no ar? E a resposta é de forma alguma, pois tudo acaba sendo bem trabalhado, e mesmo que não se aprofunde ao máximo em nenhuma das três tramas, o resultado acaba sendo impactante por mostrar as duas famílias de Enzo, seus conflitos de horário com as esposas, a dúvida de registrar o garotinho com o sobrenome famoso ou não, afinal após a guerra ganhou muita fama com seus carros, e aqui já está bem consolidado, porém vendendo e fabricando pouquíssimas unidades, e gastando muito dinheiro com tudo, mas o cerne maior sem dúvida é mostrar toda a vontade de vencer em todas as categorias da super prova com carros incríveis, mas que acaba ficando marcado por um acidente catastrófico (a cena mostrada no trailer é apenas o comecinho dele, e o diretor não quis entregar algo leve, sendo daqueles que todos vão se chocar muito!). Ou seja, é daqueles filmes que facilmente dava para ter umas 10 horas de história, mas que condensado agradará bastante quem for disposto a curtir. Agora um ponto que me incomodou é de estarmos falando de um personagem italiano fortíssimo, se passando na Itália dos anos 50 que não tinha o inglês como prioridade nenhuma, mas é inteiro gravado num "inglesiano" (misto de inglês com italiano) apenas usando de sotaques que acaba broxando um pouco no resultado completo.

O longa nos conta que em 1957, nos bastidores da Fórmula 1, o ex-piloto Enzo Ferrari está em crise. A falência assombra a empresa que ele e a esposa, Laura, construíram uma década atrás. Seu casamento instável é ainda mais abalado pela perda do único filho do casal e o relacionamento com Lina Lardi. Ele decide contrapor essas perdas apostando tudo em uma corrida - a icônica Mille Miglia, na Itália.

Como já falei no começo, o projeto demorou mais de 30 anos para sair da gaveta do diretor e virar um longa, tendo vários outros atores e ideias no meio do caminho, e com isso tenho toda a certeza que Michael Mann foi mexendo na ideia, separando o que melhor ficaria na tela e ampliando cada detalhe para que não virasse uma série (o que facilmente acabaria cansando, mas mostrando algo muito mais completo), nem que sumisse a essência que desejava mostrar na tela, e com isso vemos um filme que num primeiro momento muitos vão achar truncado e rápido demais, afinal mostra praticamente só alguns dias da vida do personagem na tela, mas que sem dúvida alguma são os dias mais intensos que a marca e seu dono viveram, mostrando que tinha uma mulher gênia dos negócios, uma amante/segunda esposa linda que lhe deu um herdeiro para ele pós-morte do filho com a primeira esposa, uma falência quase declarada com venda iminente para outra marca, e uma corrida aonde tudo que podia acontecer, aconteceu, desde os testes até a linha de chegada. Ou seja, o diretor foi bem intenso, maluco e direto com o que entregou, mas funcionou muito bem na tela, e acredito que só não tenha levado mais indicações aos prêmios pelo fator língua que mencionei no começo e por ser algo conflituoso que precisaria de um desenvolvimento maior, que os votantes não relevam de forma alguma.

Quanto das atuações, quem lê meus textos sabe que não sou muito fã do estilo de interpretação de Adam Driver, mas ainda assim digo que ele tem personalidade e sabe segurar bem o protagonismo na maioria de suas entregas, e aqui ele foi digamos honesto com a entrega que fez para seu Enzo Ferrari, não ficando caricato demais, mas também não entregando algo que chamasse tanta atenção, o que é uma pena, afinal sabemos o quanto o empresário foi polêmico e imponente. Penélope Cruz é e sempre será uma atriz que sabe como pegar um personagem secundário e jogar ele para explodir na tela, de modo que sua Laura é durona, cheia de traquejos, mete bala no marido, descobre a maior traição possível, faz caras e bocas, e ainda surpreende com um final que provavelmente se rolou dessa forma foi realmente algo digno de um filme, pois surpreende até mesmo o próprio Enzo com o que faz, e mostra que ainda tem banca, ou seja, garantiu sua indicação ao menos para o SAG. Sabemos bem que Shailene Woodley tem um estilo meio que explosivo, então não entendi a escolha dela como Lina Lardi, pois é uma mulher mais fechada, simples, e nem tão intensa como amante, que claro gerou um herdeiro para o personagem principal, mas talvez alguém mais simples mesmo daria um tom melhor. Agora quem entregou muito na tela, ganhando uma oportunidade de ouro foi o brasileiro Gabriel Leone, que fez o piloto espanhol Alfonso de Portago, trabalhando desde o começo para aparecer muito em todos os atos, e entregando muitos bons momentos cênicos para se desenvolver mais, o que acabou sendo bem bom na tela, aliás ele daqui a pouco vai virar piloto profissional, afinal viverá Airton Senna numa série que está para ser lançada. E falando em pilotos, ainda tivemos na tela Derek Hill (filho do piloto Phil Hill) fazendo Jean Behra e Patrick Dempsey fazendo Piero Taruffi. E ainda vale um rápido destaque para Sarah Gadon como a belíssima atriz mexicana Linda Christian que teve relações com Alfonso de Portago.

Visualmente a trama tem uma pegada bem interessante, mostrando um pouco das casas de Enzo em Modena e numa pequena cidade próxima aonde vivia a amante, vemos também a fábrica inicial da Ferrari, a pista de testes de Maranello, e claro muitos atos da corrida passando por várias cidadelas e vilas, isso tudo contando com muitos carros réplicas dos originais de corrida da época que marcaram todo o início das corridas que vemos hoje, e claro que naquela época não tinham a menor segurança para os pilotos. Agora sem dúvida alguma a equipe de arte fez algo muito marcante com a cena do acidente, pois dando um leve spoiler são muitos pedaços de corpos espalhados pelo caminho, fora toda a destruição do carro e tudo mais, ou seja, já vi filmes de terror amenizarem bem mais o que não fizeram aqui, então impactaram realmente.

Enfim, é um tremendo filmaço que tinha tudo para ser ainda melhor com poucos ajustes como falei no começo, mas que vale demais a conferida tanto para quem conhece a história toda da escuderia, quanto quem só deseja ver um bom filme biográfico cheio de intensidade, então fica a dica, e eu fico por aqui hoje deixando meus abraços junto da recomendação.


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