Zona de Interesse (The Zone of Interest)

2/08/2024 01:22:00 AM |

Quem me conhece sabe o quanto tenho alguns grandes pré-conceitos com filmes abstratos, mas confesso que algumas tramas quando bem desenvolvidas podem trazer certas sensações e chamar muita atenção, como é o caso do longa polonês-britânico "Zona de Interesse", pois já começou sendo algo que raspei a trave de sair correndo da sessão para falar que tinha algo errado com a imagem do cinema, afinal o longa começa com alguns barulhos de pássaros com a tela inteira preta por cerca de uns 3 a 4 minutos com o nome do filme se fechando aos poucos, numa quebra que para muitos já podem representar algo (o quê especificamente não vou entrar na discussão, já que será para cada um algo bem diferente), e o filme inteiro depois tem muitos atos com sensações e cenas bem enigmáticas, aonde a desenvoltura em si acaba não ocorrendo como em um longa tradicional. Ou seja, não sei bem o que eu realmente estava esperando do longa, mas dá para refletir sobre muitas coisas da época enquanto vê a família alemã vivendo como se nada estivesse acontecendo por trás dos muros ali, mesmo sabendo de tudo e ouvindo os tiros, gritos e tudo mais, contando com um cerne impactante como um todo, mas que acredito que uma história mais desenvolvida em atos e não tanto em símbolos ficaria bem melhor, sendo apenas uma questão de opinião.

A sinopse nos conta que Rudolf Höss, o comandante de Auschwitz, e sua esposa Hedwig, desfrutam de uma vida aparentemente bucólica em uma casa com um jardim ao lado do campo de concentração.

O mais engraçado de tudo é que o diretor e roteirista Jonathan Glazer já conseguiu fazer uma pegadinha em 2013 com seu longa "Sob a Pele", aonde algumas senhoras ao final do longa me perguntaram se eu tinha entendido algo, e nem sabia que esse novo era dele, senão teria ido mais preparado para ficar refletindo por quase 2 horas de projeção, pois o diretor é extremamente amante de coisas abstratas para pensarmos mais na esquete completa da história do que num filme com atos e desenvolturas propriamente dito, de tal forma que aqui tudo parece ser uma vida simples de uma família alemã rica por consequência do cargo do marido, com suas várias empregadas alemãs mesmo, alguns trabalhadores judeus fazendo tarefas mais fora da casa, e claro que mesmo sabendo e querendo que tudo ocorra por trás do muro, o resultado acaba se desenvolvendo mais com o som de lá, do que com o que rola de cá, pois tirando a reunião e a sensação do que o soldado sente em alguns momentos, é quase como vermos algo que não vai rolar nada, mas ao mesmo tempo, se você sintetizar e entrar no clima por completo irá entender os motivos das 154 indicações e 42 prêmios que o longa já levou até a data de hoje. Claro que não vou falar que foi o melhor filme que já vi sobre o tema, mas a ideia é boa e a reflexão também é interessante, e assim quem curtir algo mais abstrato e/ou não dormir com o ritmo lento da produção acabará gostando bastante de tudo.

Como é um filme abstrato, não diria que as atuações sejam magistrais e chamem tanta atenção, mas Christian Friedel deu alguns bons atos marcantes com seu Rudolf Höss, tendo uma expressão bem tradicionalmente fechada como a maioria dos comandantes da SS, e fazendo até um contraponto emocional em alguns atos com a esposa e os filhos, de forma que dava para ir além, mas soube segurar o que precisava fazer pelo menos. Já Sandra Hüller tem até recebido algumas indicações para prêmios com sua Hedwig Höss, e acredito que seja pela cena do rio e o que precede ela, pois ali entregou algumas boas nuances chamativas, mas nas demais ela foi bem normal de expressividades, como uma mulher tradicional em sua casa, fora que ela tem recebido mais indicações pelo seu outro filme do ano, ou seja, está bem em tudo o que faz.

Visualmente a trama mostra bem uma casa bem cheia de ambientes, afinal moram uma tonelada de filhos, trabalham várias empregadas, tendo piscina, flores e vegetais de todos os tipos, estufa de plantas, apiário e muito mais, tudo bem grudado ao muro de Auschwitz sendo um bom contraponto, vemos os empregados servindo à família com muito requinte, e depois ainda vemos algumas reuniões e festas da SS, suas discussões, e até uma imagem bem tensa do museu do Holocausto, ou seja, a equipe de arte soube brincar com figurinos e alegorias para ser bem chamativo com tudo.

Enfim, para quem curte uma trama abstrata ir ao cinema para refletir as dinâmicas de uma família representando bem como muitos alemães viveram sem ligar a mínima para o que estava acontecendo nos campos de concentração, na guerra e tudo mais, o longa acaba sendo incrível e vale todos os prêmios que tem conseguido, mas para quem não é desse time diria que vão acabar dormindo com o ritmo mais lento da produção, então fica a dica para ver se vai ou não conferir. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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