sexta-feira, 29 de março de 2024

Descanse em Paz (Descansar En Paz) (Rest In Peace)

Quem me acompanha por aqui sabe o que mais incomoda em uma produção, que é um filme virar novela, pois a trama pode ter todo um envolvimento, mas se começa com enrolações, mudar o fluxo e tudo mais acaba completamente com a graça do resultado. Claro que considero como novelona tanto os filmes com múltiplos nichos de histórias que se desenvolvem sozinhos para um final mais marcante, quanto aqueles que são dramas bem marcados, mas com exageros cênicos expressivos que acabamos chamando de novela mexicana, em comparação com as expressões forçadas de algumas novelas de lá que chegaram por aqui. E o longa argentino da Netflix, "Descanse Em Paz", diria que é um misto dos dois estilos, pois inicialmente pareceu interessante, mas logo fica claro o rumo que vai tomar, e para piorar tem um final acelerado, do tipo que você vê que não tinham como finalizar de uma maneira bem trabalhada e aceleram o fim mais clichê possível com uma entrega fraca e sem grandes rumos, ou seja, confesso que esperava ver outra coisa e não fluiu.

A trama nos conta que Sergio é um homem de família cheio de dívidas e problemas de saúde que aproveita de uma circunstância improvável para desaparecer sob uma identidade falsa com a intenção de salvar a sua família dessa ruína. Após muitos anos longe de seu país, uma descoberta casual vem à tona fazendo com que a tentação e a curiosidade de saber como estão aqueles que ele deixou para trás falassem mais alto.

Não consigo acreditar que o diretor e roteirista Sebastián Borensztein queria entregar algo assim, pois em alguns atos parece fluir para alguns outros rumos que dariam bons frutos, mas ficou bem claro que na edição aceleraram as coisas para que o filme ficasse mais curto e sem muito envolvimento, de tal forma que parece que as relações ficaram frias demais, o protagonista sempre com caras meio que deprimidas demais, e assim o resultado acaba ficando mais cansativo do que expressivo realmente, fora que no final o principal motivo dele estar ali acabou nem acontecendo realmente, e assim diria que tem tanto falhas de roteiro, quanto de desenvolvimento, e ainda na conclusão, resultando algo que não chama atenção nem vai muito além.

Quanto das atuações, Joaquín Furriel até levou alguns prêmios pelo seu Sérgio, mas só consigo pensar que foi por melhor depressão demonstrada na tela, pois inicialmente estava bem doente com todas suas dívidas, depois quando muda de país fica sempre apático, morno, sem grandes entregas, e logo depois que vê a empregada então fica melancólico, ou seja, ele ajuda o público a desanimar com a trama, para quando parecia que faria algo maior, pronto, acaba de uma forma ainda mais lastimável, ou seja, não segura o longa para si. Da mesma forma, Gabriel Goity entrega seu Hugo Brenner com um ar inicial de um agiota imponente, depois fica sem palavras para com a mulher, e passados os anos aparentou também estar meio que depressivo, meio que sabendo de tudo, mas não passa isso na tela, o que acaba ficando estranho de ver, ou seja, falhou também. Ainda tivemos Griselda Siciliani bem colocada na tela com sua Estela e Lali Gonzalez com sua Ilu, mas nada que chamasse o filme para algo que fosse muito além.

Visualmente vemos uma família judia com uma grandiosa festa de bat mitzvá para a garota, mesmo estando completamente endividada, uma fábrica com funcionários em greve pela falta de pagamento, um escritório de agiotagem financeira, e depois uma grandiosa explosão que valeria ter usado mais tudo o que ocorre ali, pois ficou bem trabalhado na tela, mas não quiseram, e na sequência algumas cenas aparentemente no Paraguai, com uma loja de eletrônicos, mas que poderia acontecer em qualquer outro canto, ou seja, a equipe usou o básico para as cenas necessárias, e gastou muito para uma cena de nem dois minutos.

Enfim, é um filme que recomendo passar bem longe, a não ser que você curta tramas novelescas, pois leva nada a lugar algum, é fraco, cansativo e ainda por cima acelerado para um final bem clichê, o que não empolga para ao menos salvar tudo. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

PS: Estou dando essa nota mais pela explosão que foi bem marcante, e por ser uma pessoa boa que acha algo bom em um filme desse estilo, mas valeria bem menos.


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