Diria que o estilo do diretor Leonel Vieira não foi tão cru como um filme do estilo pedia, porém ele soube segurar bem suas dinâmicas, foi criativo em algumas desenvolturas, e principalmente soube fazer com que seu filme mesmo pairando sobre ares novelescos não recaísse para esse estilo, aonde subtramas teriam a mesma importância que o mote geral, muitos personagens secundários fariam mais sentido em tudo, e o resultado não agradaria tanto, e além disso a grande sacada foi a de fazer um Rio de Janeiro atemporal, afinal o jogo do bicho ainda manda na cidade, nas favelas, nas escolas de samba, no agenciamento de jogadores de futebol, e por aí vai, e as brigas por um dinheiro que não tem dedução de impostos sempre será gigante, e dessa forma ele criou as artimanhas, colocou muitos diálogos em inglês (aliás o pessoal brasileiro é bem fluente na língua), e não desapontou quem conhece bem o estilo, ao ponto que dava para impactar mais com uma história mais fechada, mas teria de mudar tudo, e essa não era a ideia, então foi bem no que queria fazer.
Quanto das atuações, o jovem Junior Vieira soube criar trejeitos fortes e bem encaixados nos vários tipos de envolvimentos que teve na trama com seu Didi, oscilando bem entre desapontamentos e felicidades, imponências e submissões, e com isso segurou bem o protagonismo, e claro, a narração da trama, de tal forma que não se repreendeu com atores mais velhos e até com certo renome, sabendo exatamente como chamar atenção e agradando bastante com isso. Duran Fulton Brown trabalhou seu Alex com um ar meio que canastrão demais, quase como um agenciador viciado na cocaína, e bem presunçoso de que as leis para ele não se verteriam, chegando a se portar até com ares meio que arrogantes, mas que não o fizeram sair de seu papel. Ainda tivemos atos bem clássicos entre o português Joaquim de Almeida fazendo bem seu Ciro, bicheiro tradicional, presidente de escola de samba e cheio de malemolência para todos seus atos, Joe Renteria fazendo um Frank bem clássico do estilo meio que mafioso e Marcello Gonçalves fazendo o tradicional policial que joga dos três lados da lei do país, mas sem dúvida poderiam ter trabalhado um pouco mais as garotas Alejandra Toussaint com sua Emilia e Gabriela Loran com sua Paulinha, para que não fossem apenas personagens soltos fora da trama funcional que o filme tinha como base, aliás por causa delas, o longa quase saiu do rumo virando uma novela com subtramas, então o diretor arriscou bastante.
Visualmente a trama mostra o tradicional do filmes do estilo, misturando cenas nas casas das favelas, mostrando festas nas quadras de escola de samba, apartamentos riquíssimos e outros bem simples, muitos personagens cheirando pó, armas de vários calibres, agencias de contabilidade e de lavagem de dinheiro, sendo simples, porém efetivo no que precisava representar, só poderiam ter brincado mais com o lance do jogo do bicho na tela, que apenas tendo algumas transparências e mostrando alguns dos animais acaba não sendo marcante como poderia.
Enfim, é um filme interessante, com uma boa pegada, e que mostra que esse gênero/estilo de filmes não vai morrer tão cedo, sendo algo que tem uma boa profundidade e entrega que a corrupção é eterna nesse nosso país. Recomendo o longa para quem curte o estilo conferir nos cinemas à partir do dia 07/03, e fico por aqui agora agradecendo o pessoal da Cinecolor pela cabine de imprensa, então abraços e até logo mais.
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