segunda-feira, 1 de abril de 2024

Instinto Materno (Mothers' Instinct)

Costumo dizer que filmes que envolvam distúrbios mentais com grandes vértices para a psicopatia não tem como não terem sido escritos e/ou dirigidos por alguém que não entenda perfeitamente esse mundo estranho, pois conseguem chegar em pontos que você fica pensando ser impossível alguém não ter vivenciado isso tão bem para passar uma "verdade" nas cenas que está entregando, e claro por vezes chegamos até ficar com medo de alguns atores/atrizes, pois também incorporam tão bem tudo que o resultado acaba ficando até mais tenso do que poderia ser. E desde que vi o trailer (umas 100x) de "Instinto Materno", tinha uma quase certeza do que iria ocorrer, e logo de cara já dá para sentir tudo o que está prestes a rolar, só que vai parecendo ser uma simples colocação com um apelo emocional após o trágico acidente, depois vai ficando como algo possessivo, depois vai só piorando até chegarmos nos atos finais, aonde você fica pensando: "não é possível que ela vai fazer isso", e vos digo, não apenas faz como ainda piora. Ou seja, é um filme que entrega tudo muito na sua cara para você apenas ficar indignado e com raiva da protagonista, que até dava para ter um pouco mais de subjetividade e suspense para causar ainda mais, mas que funciona dentro do que foi proposto, e acaba valendo a entrega toda.

A sinopse nos conta que a vida aparentemente perfeita das amigas Alice e Céline desmorona após um trágico acidente envolvendo um de seus filhos. O que começa como uma tragédia inimaginável acaba transformando a amizade entre elas em um jogo perigoso de segredos e mentiras. À medida que a culpa toma conta das famílias, a linha entre a maternidade e a obsessão se torna tênue, revelando o lado mais sombrio do instinto materno.

Depois de ser diretor de fotografia de uma tonelada de produções marcantes, Benoît Delhomme resolveu entrar para o cargo de diretor oficialmente, pegando para fazer a versão americana de um premiadíssimo longa francês de 2018, usando como base o livro da escritora Barbara Abel, ou seja, a trama tem as falhas tradicionais de um diretor de primeira viagem, como um ritmo que oscila muito, por vezes lento, outrora rápido demais, mas que consegue se manter bem na tela, criando situações que como disse no começo já tem todo um caminho clássico de psicopatia, e que funciona quando se tem bons artistas interpretando, não sendo algo tão dependente da mão do diretor, mas ele conseguiu criar os bons vértices do suspense/terror e não fez algo arrastado como o longa facilmente poderia ter decaído, então vejo como um bom primeiro trabalho, que infelizmente não tenho como comparar com a trama francesa, pois não vi, mas quem tiver conferido e quiser opinar, os comentários estão abertos.

E já que falei que as atuações foram bem intensas, não tinha como a trama ficar ruim, afinal algo com Jessica Chastain e Anne Hathaway juntas já se espera ao menos trejeitos marcantes para prender você até o final. E falando de Anne Hathaway, chega a ser tão intenso os olhares e a mudança de personalidade de sua Céline durante o decorrer da trama, que acabamos ficando realmente com medo dela da mesma forma que a outra protagonista, ao ponto de claro ficarmos na dúvida se nós (no caso a personagem de Chastain) que estamos malucos com tudo o que está ocorrendo, ou se a outra que é o cão mesmo, ou seja, um trabalho minucioso de personificação que chama muita atenção do começo ao fim. E do outro lado, Jessica Chastain não deixa por menos, fazendo uma Alice um pouco aflitiva demais, cheia de traquejos e cuidados excessivos, que até por vezes achamos que por já ter tido problemas no passado como diz, está voltando a ficar doente e maluca, mas já dizia bem o velho ditado que "o seguro morreu de velho", e já sabemos o final, então mostrou uma boa entrega e agradou também. O garotinho Eamon Patrick O'Connell entregou um Theo levemente irritante por não obedecer tanto sua mãe, e ser calminho demais para uma criança da idade, mas também com tudo o que rola na trama dá para entender o rapazinho. E quanto dos maridos, diria que ambos fizeram papeis de bobos e ingênuos demais pro meu gosto, de não pegarem no ato o que estava rolando ali, mas fez parte do roteiro, então fizeram o que precisava, valendo apenas a pontuação em cima de suas explosões cênicas para Josh Charles e Anders Danielsen Lie.

Visualmente o longa tem um bom conceito de época, mas chega a ser irritante ver as mulheres praticamente todos os dias em suas casas vestidas quase como se fossem para um culto ou uma festa, de salto alto o tempo inteiro, com vestidos e até chapeis, num bairro bem classe média-alta tradicional dos EUA, com casas interligadas pelos jardins, sacadas perigosas, e tudo mais de elementos cênicos clássicos para dar as devidas pistas para a história funcionar, de tal forma que o resultado mostra um trabalho interessante por parte da equipe de arte para retratar o momento ali, com a equipe de fotografia criando contraluzes bem chamativos, ao ponto de tudo funcionar dentro do esperado, então acaba valendo o resultado inteiro.

Enfim, é o famoso filme que tudo é muito óbvio, que ninguém ao redor acredita na "mocinha", que tudo de pior ocorre ao lado da "vilã" e ninguém sequer nota, e que vem carregado de clichês e pequenas falhas de uma primeira direção, mas que não incomoda, então quem curte o estilo irá curtir a trama por completo, valendo a recomendação. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto logo mais com outras dicas, então abraços e até logo mais.


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