A sinopse nos conta que Francisca e Carlos lutam para se adaptar à nova realidade após o suicídio do único filho, Felipe. Mergulhados em fantasias, medos e melancolia, cada um a seu modo vivencia experiências radicais. Carlos se muda para o antigo apartamento de Felipe, alienando-se na vida do filho morto. Já Francisca, assombrada pela culpa, dedica-se a desvendar o enigma do suicídio.
Em sua estreia na direção de longas, Flavio Botelho usou como base sua experiência com a perda da irmã, e isso é algo bem notável na tela, pois sutilmente vemos sua sensibilidade para tratar o tema sem ser justamente um soco no estômago como costuma ocorrer em tramas desse estilo, e isso fez com que seu longa se diferenciasse tanto. Claro que temos uma montagem quase que teatral dos protagonistas, e isso dá um tom diferente para o longa, mas ainda assim a trama tem uma pegada bem densa aonde cada simples detalhe chama a atenção, e claro que os gestuais falam até mais do que o próprio roteiro em si, e dessa forma o acerto foi bem marcado na tela, mostrando um preparo meticuloso para que o filme tivesse algo a mais para mostrar.
Quanto das atuações, diria que Denise Weinberg puxou sua Francisca para um lado mais de revolta e explosão, procurando achar uma solução de culpa e identificação, aonde vemos olhares mais profundos e o pensamento a mil, contando com cenas aonde não consegue dormir, respirar e suas dinâmicas se voltam a alguém mais agitado, conseguindo passar tudo muito mais com o corpo do que com diálogos, o que é bem bacana de ver. Enquanto Cacá Amaral pegou para seu Carlos um lado mais afetivo, mais de necessidade de conversar com alguém, de encontrar um propósito moral e emocional, se desesperando e chorando pelos cantos, e sabendo captar uma essência que nem ele mesmo sabia que tinha, o que acaba dando ares diferentes, mas com muita sinceridade visual e expressiva. Quanto aos demais, apenas temos conexões e dinâmicas, sem grandes anseios maiores para que não perdesse realmente a essência dos pais, mas tivemos boas participações de Kelner Macêdo com seu Hugo e Henrique Schafer com seu Sérgio, que poderiam até ter rendido um pouco mais de imposição cênica na tela, mas que o diretor mesmo optou por deixar em segundo plano.
Visualmente a trama tem uma pegada simples, oscilando entre a casa dos protagonistas e o apartamento do filho, usando e abusando de detalhes de pinturas feitas pelo jovem, sua cachorra, e claro a rotina do casal de comer seu ovo pela manhã, ir nadar, e até mesmo a visita a um apartamento aonde pode se ver o médico do garoto, sendo tudo bem sutil, mas que ao mesmo tempo se abre para as discussões do tema da trama, e como disse ser algo bem teatral, os protagonistas conseguem pegar cada elemento cênico e tornar ele ainda maior do que é, o que mostra uma sintonia bem grande entre equipe e protagonistas.
Enfim, é o famoso filme simples muito bem feito, que tem pegada, tem estilo, e mais do que tudo faz o público refletir sobre o tema tão polêmico que é o suicídio, já que não traz apenas consequências para quem o comete, mas sim tudo e todos à sua volta que precisarão lidar com a vida que precisa seguir, mas que acaba sendo mais difícil do que já é naturalmente. Fica a dica então para conferirem o longa nos cinemas a partir do dia 30/05, e eu fico por aqui agora agradecendo ao pessoal da Sinny e da Pandora pela cabine. Volto mais tarde com mais dicas, então abraços e até logo mais.
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