Fúria Primitiva (Monkey Man)

5/25/2024 02:48:00 AM |

Costumo sempre falar que tem de ser muito maluco de iniciar na carreira de diretor enfrentando um longa de ação e pancadaria, e se isso fosse pouco alguns ainda resolvem atuar dentro do próprio filme como protagonista, o que beira a insanidade máxima, e um dos atores que mais impressionaram em diversos filmes resolveu fazer dessa forma sua inserção no mundo da direção dos longas, entregando algo que pode parecer com um "John Wick", mas que fez de sua "Fúria Primitiva" algo mais puxado para o lado social de uma Índia corrupta, suja e sem escrúpulos, do que um conflito com uma máfia organizada como é o caso da trama americana. Ou seja, o que vemos na tela é algo bem imponente, violento, mas cheio de simbolismo e reflexão política usando uma opressão nos mais carentes e diferentes e a famosa busca por vingança de um crime, que facilmente poderia ter se tornado um dos filmes mais marcantes dos últimos anos, e a resposta para isso não ter acontecido é tão ingênua quanto o início da maioria dos diretores: cortar pedaços do filho, pois a trama que tem 121 minutos com 100 ficaria perfeita, não teria tantos atos repetitivos e ainda assim entregaria o mesmo teor, só que melhorado.

O longa é um conto de vingança e redenção que segue a jornada de um jovem anônimo, conhecido apenas como Kid, que ganha a vida em um brutal clube de luta underground. Noite após noite, sob uma máscara de gorila, Kid é espancado por lutadores mais populares em troca de dinheiro. No entanto, após anos de repressão, sua raiva acumulada explode quando ele encontra uma maneira de se infiltrar na elite sinistra da cidade. Inspirado na lenda hindu de Hanuman, que representa força e coragem, Kid emerge como um símbolo de determinação implacável. À medida que um trauma de sua infância ressurge, suas mãos misteriosamente marcadas tornam-se instrumentos de justiça, desencadeando uma saga explosiva de vingança contra aqueles que tiraram tudo dele. Com uma narrativa intensa e repleta de ação, Fúria Primitiva explora os limites da dor, da redenção e da capacidade de superação. Este filme promete uma montanha-russa emocional, enquanto acompanha Kid em sua busca por justiça e paz interior em meio ao caos da vida urbana.

Tirando o fator de economia de cortes, diria que a estreia de Dev Patel na direção foi algo bem positivo, pois conseguiu criar um longa dinâmico, imponente e claro crítico ao Estado indiano, aonde claro mesmo tendo um cunho social real não podemos esperar cenas críveis dentro das lutas e intensidades, afinal nesse estilo permite-se maluquices com tiros que erram facilmente o protagonista, vilões que ao invés de alvejarem o protagonista com tiros resolvem partir para socos e facadas, e até mesmo a loucura de um roubo de carteira acabou sendo agigantado, ou seja, você tem de ver filmes desse estilo com a mente aberta e pronta para todo tipo de loucura em cena, e Dev não economizou nesse sentido, deixando tudo fluir como se fosse bem natural, o que sabemos que num dia a dia comum não ocorreria nada nem perto do que aparece na tela. Ou seja, se ele for seguir essa linha de ação como diretor, talvez a melhor recomendação possível é deixar a edição nem ficar perto dele para poder cortar, e mesmo sendo um excelente ator ficar somente atrás das câmeras, pois aí não precisa se expressar tão fortemente para se ver na tela, o que é bem notável que ocorreu aqui.

E falando das atuações, agora Dev Patel como ator trabalhou seu Kid com a explosão máxima possível, lutou bastante, apanhou bastante (ele ou o dublê!) e soube fazer trejeitos bem expressivos para que seu personagem mesmo não sendo um brucutu tradicional de filmes do estilo se jogasse na tela e mostrasse imponência, ou seja, fez bem o que sabe fazer. Sikandar Kher trabalhou o delegado Rana com trejeitos durões bem colocados, mas se desenvolvendo pouco em cena, o que talvez pudesse dar alguns ares mais marcantes com dinâmicas mais trabalhadas, o que aumentaria ainda mais a duração do longa, então melhor ficar com apenas o flashback e depois lutando contra o protagonista. O guru Baba Shakti foi bem interpretado com nuances calmas e marcantes por Makrand Deshpande, mas com o mesmo problema de Rana, pois sua introdução foi rápida e estranha demais, mesmo tendo uma quantidade grande de cenas, mas não decepcionou em cena. Ainda tivemos bons momentos com Pitobash com seu Alphonso vendendo muitos tipos de drogas na boate, Ashwini Kalsekar bem colocada como a dona do clube, e até Vipin Sharma bem marcante como a trans Alpha, mas foi Sharlto Copley quem conseguiu se destacar entre os secundários com seu Tiger bem marcado e imponente como um bom dono de ringue deve ser.

Visualmente a trama tem uma pegada meio que de cinema noir, com tons escuros e bem puxados para o vermelho, lembrando um pouco "Sin City", com muita sujeira nos ambientes contrapondo com o luxo do clube, muitas referências desenhadas para dar o tom da história, muito sangue cenográfico voando para todos os lados, e ambientes recheados de figurantes para criar algo ainda mais grandioso, mostrando que a equipe de arte trabalhou bem conectada com a equipe de coreografia para que o funcionamento cênico não ficasse bagunçado. Agora aceito muita coisa em filmes desse estilo, mas um tuktuk turbinado quase voando baixo foi abusar demais da minha mente.

Enfim, não é um longa perfeito como já expliquei bem, mas que empolga, diverte com alguns absurdos e funciona na tela mesmo sendo alongado demais, mas que para um primeiro trabalho de direção foi uma boa amostragem do que aprendeu vendo e fazendo muitos filmes, então veremos se vai manter essa essência nos próximos, e claro digo que vale a conferida. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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