A trama mostra a vida de Iván Márquez, um jovem do bairro de Vallecas, em Madrid, cuja vida é drasticamente afetada pelas mudanças econômicas e políticas que varrem a Espanha após a introdução do euro. O filme se passa nos anos 90, durante os Jogos Olímpicos e a Expo em Barcelona, até os primeiros anos do século XXI. Conforme Iván observa sua família enfrentar dificuldades financeiras, ele se vê cada vez mais envolvido em esquemas de lavagem de dinheiro e corrupção. Inicialmente seria apenas uma "mula" transportando dinheiro sujo para o exterior, mas Iván logo se vê navegando entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e mafiosos na ensolarada Costa del Sol. O filme captura não apenas a ascensão de Iván ao topo da hierarquia criminosa, mas também a atmosfera turbulenta e a sensação de desilusão que permearam a sociedade espanhola da época.
Pessoalmente gosto muito do cinema espanhol, pois eles sabem brincar com temas sérios de uma forma bem próxima da nossa, ironizando e tentando fazer graça com ação, já que chorar seria o mais óbvio, e o diretor Daniel Calparsoro é daqueles que tem muito dessa pegada, e já ousou bastante em todos os seus longas (ao menos nos que vi), sabendo como extrair loucuras de seus protagonistas suficientes para juntar com partes documentais reais e entregar algo chamativo como o que fez aqui com a história escrita por Patxi Amezcua e Alejo Flah, mostrando que esse jeitinho que chamamos de brasileiro é algo que se tem mundo afora, com jovens "empreendedores" espertos que sabem aonde achar uma mina de dinheiro dando sopa para pegar. Ou seja, com uma sacada rápida e bem trabalhada, o longa que tem a duração ideal de 101 minutos (já falei outras vezes que um filme redondo sem erros se faz entre 100 e 120) e funciona parecendo ter até menos, trabalhando a personalidade do protagonista, e conectando ele com todo o restante sem precisar virar uma novela, e isso é brilhar na tela.
Quanto das atuações, não lembrava do jovem Arón Piper em algumas tramas que trabalhou, mas aqui entregou um Iván tão solto e fluido que parece já ter uns 20 anos de carreira pelo menos, segurando as intensidades dramáticas, trabalhando elos bem encaixados com todos os demais personagens sem ficar oculto (e olha que disputou diálogos com grandes nomes do cinema espanhol), e conseguiu ter um carisma suficiente para que mesmo sendo alguém que está roubando em jogadas o público se conectasse pelo fator melhoria de vida, e assim conseguiu ser marcante do começo ao fim, mesmo tendo atos seus narrando o que estava fazendo que por vezes acaba sendo cansativo, o que não ocorreu aqui. Laura Sepul entregou uma Anne Marie cheia de imposições, sensual e cheia de intensidade no traquejo com tudo, de tal forma que cada momento seu na tela acaba sendo bem chamativo, e junto com o protagonista passou olhares e tudo mais, ou seja, foi bem demais em cena. Falar de Luis Tosar é repetir a palavra excelência sempre, pois pode ser protagonista ou coadjuvante sempre vai chamar a atenção, e aqui seu Escámez aparece até que pouco, mas brilha para que olhássemos para o que faz em cena, deixando claro toda a conexão María Pedraza como sua filha e claro envolvimento do protagonista. Ainda tivemos muitos outros personagens marcantes, mas é claro o destaque para Nourdin Batan com seu Yannick e Luis Zahera como Comissário Roig, pois ambos tiveram atos imponentes e marcantes, com o primeiro sabendo aparecer tanto nos atos mais fechados quanto na tela principal.
Visualmente o longa foi bem trabalhado com muito luxo, carrões, apartamentos cheios de requinte, muitas festas abarrotadas de bebidas caras e muitas drogas, e claro muita negociação de bastidores, com fazendas, praias e tudo mais em segundo plano para as operações da polícia, mas tudo muito recheado de imagens reais dos casos acontecendo, dando uma boa base para a ficção usando o pano de fundo da realidade, o que acabou chamando muita atenção para a pesquisa da equipe de arte, que usou e abusou de locações em Madri, Málaga, Bruxelas, Genebra e até Hong Kong, ou seja, um trabalho pesado e bem demonstrado na tela.
Enfim, é um filme que se olharmos a fundo é bem simples, mas que consegue ter dinâmica e envolver tão bem que conseguiu mostrar tanto o lado real da coisa em si, como brincar com as facetas que foi esse mar de dinheiro roubado dos mais pobres, sendo marcante e também engraçado de ver, e assim sendo valendo muito a recomendação para todos. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.
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