Assassino Por Acaso (Hit Man)

6/16/2024 11:45:00 PM |

Costumo dizer que o cinema de Richard Linklater é algo completamente fora do que você espera ver na tela, pois quando você vai esperando ver um drama ele te joga algum tipo de comicidade, e quando você vai preparado para algo cômico-policial, ele inverte e trabalha toda a aura da análise filosófica da personalidade humana. Ou seja, muitos que forem conferir "Assassino Por Acaso" esperando uma comedinha romântica básica vão acabar se apaixonando ou odiando de vez o diretor, pois ele entrega algo completamente diferente disso, sendo algo que flui na tela como algo cheio de nuances da mente ao brincar com um professor universitário de filosofia que vai permeando tudo e mudando sua própria personalidade com o que passa a fazer para a polícia, e o melhor é que na faculdade os alunos vão vendo essa mudança também em suas aulas, ou seja, seu novo eu acaba sendo mais impulsivo e isso mostra o quanto uma pessoa pode ser várias durante sua vida, e claro fazer a performance ser aquela que mais gosta. Sendo assim, o filme vai até mais além do que uma simples trama policial, mas sim uma brincadeira intensa como um todo, do jeito que o diretor gosta de fazer com seu público.

O longa nos conta que Gary Johnson é o assassino profissional mais procurado de Nova Orleans. No entanto, nem tudo é o que parece: para os seus clientes, Gary passa como um assassino de aluguel comum, mas, na verdade, ele trabalha para a polícia. Como parte do seu trabalho, ele investiga a vida daqueles que o contratam para eliminar outra pessoa. Gary sempre seguiu a risca o protocolo do seu trabalho, até um dia em que ele precisou ajudar uma mulher desesperada tentando fugir do seu marido abusivo e se viu encarnando uma das suas falsas personas apaixonando-se pela mulher e flertando com a possibilidade de se tornar de fato um criminoso.

Quem já assistiu qualquer filme do diretor e roteirista Richard Linklater sabe que ele é um dos poucos que procuram sempre fugir do básico, e que por mais básico e comum que algum longa seu pareça, você irá se surpreender com algo entrando por completo na ideia, e aqui usando como base um artigo de Skip Hollandsworth sobre a história do verdadeiro Gary Johnson que infelizmente não sobreviveu para ver sua história contada na tela (morreu em 2022 aos 75 anos) o diretor conseguiu juntar ideias de Jung, Freud, id, ego, superego, e tudo mais intrigante que a psicologia e filosofia moderna nos permite analisar, colocando em pauta um tema complexo de se estudar e por vezes que muitos nem iriam entender numa aula da faculdade, mas em um bom exemplar policial o resultado acaba superando bem toda a ideia, e funcionando como algo inteligente de ser visto.

Quanto das atuações, o mais bacana de tudo é que o ator Glen Powell colaborou também nos diálogos do roteiro, e assim acabou creditado também como roteirista, mostrando uma personalidade bem cheia de nuances para com seu Gary, de tal forma que num primeiro momento parece apenas um professor simples e fechado, que trabalha como um simples operador de áudio da polícia, mas quando se verte para assassino de encomendas, vai mudando trejeitos, e virando praticamente um ator completo cheio de personalidades, o que acaba envolvendo e funcionando bastante na tela, mostrando também que o ator que esse ano já está aparecendo em tantos filmes por aqui tem estilo e ainda pode surpreender bastante. Adria Arjona também entrou com tudo para que sua Madison tivesse personalidade em cena e não ficasse apenas em segundo plano, de forma que criou um bom envolvimento com o seu par, tendo química e agradando com trejeitos interessantes e bem encaixados (aliás todas as moças que fazem par com o ator conseguem ter boa química com ele, será que é ele?). Ainda tivemos bons atos com Austin Amelio fazendo um Jasper bem sagaz e cheio de inveja na entrega, criando atos bem diretos com os protagonistas e agradando com estilo, e Retta e Sanjay Rao mais secundários com seus Claudette e Phil, mas que divertem bem dentro da proposta.

Visualmente a trama brincou bastante com os disfarces do protagonista, sendo bem diferente para cada tipo de captura, o que acabou sendo bem engraçado de ver, tivemos algumas cenas na delegacia, muitas cenas em cafeterias, e claro muitos atos na faculdade aonde o protagonista lecionava, com aulas bem trabalhadas e cheias de nuances, além de atos na casa da protagonista e alguns em bares e boates nas saídas dos dois, de modo que a equipe não forçou a barra para que o filme se prendesse no ambiente, mas sim nas personificações, o que acaba sendo bem completo para o resultado da trama.

Enfim, sabia que não iria me decepcionar com o filme, porém não achava que gostaria tanto dele, pois alguns filmes do Linklater costumam me irritar mais do que agradar, então posso dizer que com esse ele me ganhou bastante, e claro que vou recomendar para muita gente, porém como falei no começo quem for esperando ver uma comédia básica policial vai se decepcionar um pouquinho, então vá preparado. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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