Bandida - A Número Um

6/21/2024 09:18:00 PM |

Muito se falou quando Raquel de Oliveira lançou seu livro de como virou a dona do morro da Rocinha depois de muitas guerras por lá, e principalmente depois de quando criança ter sido vendida por sua avó para o bicheiro que comandava tudo por lá no final dos anos 70, mas o que ninguém esperava era que essa história viraria filme com "Bandida - A Número Um" nas mãos de um dos diretores que mais tem acertado nos últimos anos no país, mas eis que saiu, e a ideia de uma trama imponente cheia de atitude, tiros e desenvolturas até acaba sendo interessante de se ver na telona, porém acredito que dava para minimizar a quantidade de filtros na edição final, pois se queriam passar a ideia de alguém drogado filmando tudo, eles conseguiram, mas acaba não sendo marcante como poderia, ficando mais estranho do que bonito na tela. Ou seja, é um filme biográfico feito em vida ainda, que mostra uma mulher forte que não se escondeu, e dominou o tráfico de uma favela na bala realmente, que talvez tenha sido ficcional demais a forma entregue na tela, mas isso só quem viveu lá por perto saberá dizer.

O longa se passa no Rio de Janeiro da década de 80 e acompanha a história de Rebeca, vendida pela avó aos nove anos de idade para o homem que comandava a comunidade da Rocinha. Anos depois, em meio à incessante disputa de território entre os bicheiros e traficantes, as dinâmicas de poder do local passam por mudanças, e Rebeca - agora viúva do traficante-chefe - deve assumir o comando da Rocinha. Assim, se inicia uma eletrizante trajetória de crime, violência, drogas e amor.

O diretor e roteirista João Wainer tem chamado muita atenção pelo estilo que entrega em suas tramas, tanto que "A Jaula" e "Junho - O Mês Que Abalou o Brasil" foram dois grandes filmes que marcaram seus anos dentro do cinema nacional, e aqui baseado no livro de Raquel de Oliveira, ele fez o possível para que seu filme tivesse o melhor estilo do cinema favela como o gênero ficou conhecido, entregando uma versão de alguém de dentro do morro ao invés de uma versão policial como costumeiramente acontece, e o resultado acaba funcionando, pois é algo que mostra vários anos na tela, mas que não fica corrido, de tal forma que alguns até vão achar que faltou mostrar mais coisas, porém acabaria alongado com excessos, e isso não é bom para o gênero, ou seja, funcionou como deve ser, que certamente não vai agradar determinado grupo, mas apenas basta não conferir.

Quanto das atuações, particularmente gostei do estilo que Maria Bomani trabalhou para fazer sua Rebeca, de forma que não sei se ela se encontrou com a verdadeira personagem para compor tudo na tela ou seguiu apenas as orientações do diretor, mas conseguiu que o foco estivesse quase que na totalidade da trama em si, e assim chamou muita atenção pela personalidade entregue. Milhem Cortaz dispensa elogios, e mesmo que Seu Amoroso aparecesse somente no começo da trama trabalhou trejeitos fortes e chamativos que agrada na tela. Jean Luis Amorim também teve boas nuances com seu Pará, chamando atenção pelo jeito meio que bobão, extremamente chapado, mas que não ficou em segundo plano, o que funciona no estilo. Ainda tivemos alguns momentos soltos bem colocados com o cantor Otto como Del Rey, Natalia Lage com sua Joana, e claro Michely Gabriely como Rebeca jovem, mas nada que colocasse destaque para chamar atenção na tela.

Visualmente acredito que a equipe tenha trabalhado bastante com filtros para tentar maquiar a modernidade atual da Rocinha, afinal a trama se passa nos anos 70-90, então não daria para filmar tudo por lá hoje, mas usando de imagens de arquivo, texturas e claro muitos planos fechados realçando sempre o arsenal militar dos traficantes, conseguiram com muito sangue falso trabalhar bem todo o contexto de guerra que o longa pedia.

Musicalmente o longa contou claro com muitas canções da época, e claro funks e batidas, mas o destaque é claro para a canção "Deslize" de Fagner que deu o tom em sua voz tradicional e também do protagonista.

Enfim, é um filme biografia bem feito, mas que é simples demais, não mostrando todo o potencial que o diretor tem, e também não incrementando muito o que sabemos dos conflitos no morro, então para quem quiser conhecer um pouco mais dessa mulher que foi esposa de um dos maiores traficantes do morro, assumiu o lugar dele após sua morte, e ainda vive por lá, mesmo não sendo mais dona de tudo, mas que virou escritora e agora teve sua trama contada na tela. E é isso meus amigos, fica assim sendo a dica de uma recomendação com ressalvas, pois poderia ser bem melhor, e eu fico por aqui agora, já que vou conferir mais um longa hoje ainda, então abraços e até logo mais.


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