sábado, 22 de junho de 2024

Clube dos Vândalos (The Bikeriders)

Gosto muito de ir ao cinema sem saber nada ou quase nada de uma produção para me surpreender com o resultado, mas muitas vezes algumas tramas me deixam com o sentimento de não saber se era aquilo que eu desejava ver naquele dia, pois parece faltar com a ideia criativa de desenvolver uma história e criar vínculos com o público que está conferindo. E hoje com "Clube dos Vândalos" fiquei o tempo inteiro esperando alguma desenvoltura que mudasse o fluxo, ou que não fosse uma biografia do famoso grupo de motoqueiros que iniciou como um grupo de amigos e acabou virando uma gangue, só que pelo olhar da esposa de um deles, o que deixou o viés ainda mais fechado, sendo todo desenvolvido através das lembranças que a protagonista vai dando durante algumas entrevistas, e com tudo acontecendo dentro das devidas perspectivas. Ou seja, não é um longa ruim, pois tem a devida pegada, mas foi trabalhado de uma forma tão densa que acaba faltando as viradas e desenvolturas, o que acaba cansando dentro da exibição alongada.

Inspirado no icônico livro de fotografia de Danny Lyon, o longa nos faz mergulhar na estética, na atmosfera e nos sons da subcultura dos motociclistas despojados e cobertos de graxa da década de 1960. Kathy, integrante obstinada dos Vândalos e casada com o ousado e imprudente motociclista Benny, narra a evolução dos Vândalos ao longo de dez anos desde seu início como clube local de rebeldes unidos pelos bons momentos que partilham, pelo ronco de suas motos e pelo respeito que têm pelo seu forte líder Johnny. Com o passar dos anos, Kathy faz o possível para lidar com a natureza selvagem do marido e sua lealdade a Johnny, com quem sente que precisa competir pela atenção de Benny. À medida que a vida dos Vândalos se torna mais perigosa e o clube ameaça se tornar uma gangue mais sinistra, Kathy, Benny e Johnny devem tomar decisões sobre sua lealdade ao clube e entre si.

Diria que o diretor e roteirista Jeff Nichols foi bem pontual na forma que desejava ver seu longa na tela, pois ele não chega a ser uma versão documental/real da história, mas também não entrega uma ficção com desenvolturas e reviravoltas, e isso acabou pesando um pouco no ritmo, pois como falei no começo, o que é passado na tela é uma versão de alguém que não era 100% envolvido com o grupo, tendo claro suas conexões com tudo, mas a forma de enxergar é um dos pontos cruciais de uma trama embasada em alguém, e aqui essa influência acaba mostrando os motoqueiros como marmanjos briguentos e beberrões, o que certamente vai acabar incomodando muitos dos que forem conferir sendo dessa "seita", mas ainda assim ele soube trabalhar de forma intensa toda a sina de querer sair do grupo e ser julgado, o medo que muitos fora do clube sentiam ao ver passar as motos estrondosas e com personagens bem mal-encarados, e claro ainda trabalhou bem todo o processo dos anos desde a fundação para encontros e corridas, até virar algo no miolo com muitos passeios e conversas, até mudar completamente de estilo ao final quando já não seguia mais as regras iniciais nem o estilo de vida mesmo que foi criado, e tudo isso bem fluente através de uma entrevista microfonada que virou livro de fotos e histórias.

Quanto das atuações, se alguém ainda tinha dúvida do potencial de Austin Butler pode esquecer, pois ele além de ter um charme bem específico consegue trabalhar com uma seriedade e densidade tão forte para seu Benny que praticamente traz o filme consigo, a única coisa que não é falada é de onde surge dinheiro para seu personagem, já que parece que nem ele nem a esposa trabalham e só vivem andando de moto e em bares. E falando da esposa, Judie Comer é sem querer a protagonista da trama com sua Kathy, afinal o longa é sua visão do clube dos motoqueiros, já que está narrando a história toda do passado e do presente para o entrevistador, e consegue segurar nuances simbólicas tanto nas entrevistas quanto nas vivências com o grupo, demonstrando diversos sentimentos na tela, o que é bem legal de observar seu estilo. O entrevistador Danny vivido por Mike Faist é interessante de ver tanto por ter vivido um bom tempo com os motoqueiros, tirando fotos e entrevistando eles para conhecer mais o meio de vida deles, e consegue envolver trabalhando na tela como alguém muito interessado em tudo o que lhe é contado, o que acaba sendo gostoso de ver, meio como se nós estivéssemos ali no seu lugar. Já Tom Hardy mostra o quanto sabe criar intensidade cênica com seu Johnny, pois entrega liderança sem precisar ser autoritário e cria impacto cênico em todos os seus momentos de tela, levando o filme debaixo do seu braço com muita entrega e dimensão. Quanto aos demais, vale claro o destaque para o jovem Toby Wallace com seu moleque (Kid) cheio de vontade de entrar no grupo, mas claro voltando revoltado quando consegue, Michael Shannon com nuances bem próprias e densas de seu Zipco e o estranho, porém divertido de ver na tela Norman Reedus com seu Sonny, isso pegando apenas alguns, pois praticamente todos entregam ao menos um momento com os protagonistas e conseguiram desenvolver bem no que fizeram.

Visualmente o longa é bem interessante por mostrar esse mundo que muitos não conhecem dos motoqueiros de grandes motos barulhentas e intensas, com suas tradicionais jaquetas, almoços, bebidas, bares, quebra quebra e tudo mais, aonde deram boas nuances da vivência deles, dos piqueniques diferenciados, e claro da atração que acabam virando quando passam aos montes, isso no passado, já que como o filme mostra depois muitos viraram arruaceiros e membros de gangues próprias, embora sempre tiveram ares vingativos e marcantes, com cenas de incêndios, brigas com facas e até algumas mais intensas que chocam pela expressividade, então de certo modo a equipe soube colocar a época dos anos 60-70 na tela, e funcionou pela representação visual.

Enfim, é um filme que não chega a ser ruim, pois passa bem toda a mensagem na tela, conta sua história quase que completa, e que contando com grandes atores bem expressivos chamou a atenção sem precisar forçar, mas como disse é apenas um lado da história, e dava para ter fluido melhor como algo ficcional completo sem precisar focar em alguém propriamente marcado, que aí ganharia mais nuances e seria mais "agradável" de conferir. Então fica a dica para ver com essas ressalvas em mente, e eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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