Eu nem era nascido e o diretor Guel Arraes já fazia sucesso como diretor de novelas até ter a brilhante ideia de adaptar uma obra genial de Ariano Suassuna para mini-série e depois para filme e explodir como um gênio, mas depois andou desandando com alguns estilos diferentes do seu usual até voltar dois anos atrás como roteirista de um longa bem bacana chamado "O Debate", mas ainda estava faltando voltar com seu brilhantismo como diretor, e num mundo injusto como costumo dizer, eis que ele terá dois grandes longas no mesmo ano, a continuação de sua obra-prima no final do ano, e agora aonde pegou um livro complexo de João Guimarães Rosa que praticamente todo brasileiro já leu na escola ou apenas para vestibulares, e conseguiu trazer uma história de jagunços antiga para o vértice moderno do morro e sua guerra entre policiais, traficantes, moradores da comunidade e políticos, com algo tão bem pegado, tão intenso e demarcado que faz o público se envolver assim como no livro com o protagonista contando sua história de vida permeada entre a guerra e o amor. Ou seja, o diretor mostra que com quase 50 anos de carreira ainda pode surpreender transformando o básico em algo tão imponente, tão cheio de presença, que chega a ser difícil reclamar de algo na tela, pois o diretor fez muito bem a parte dele, a produção foi impecável e gigantesca, e os atores destruíram em cena, fazendo os papeis de sua vida.
Como já falei acima, todos os protagonistas entregaram personagens tão bons, tão bem desenvolvidos, com tanta personalidade e expressividade que chega a ser difícil expressar o resultado em palavras, pois não tem falha em uma vírgula do que fizeram. Vou começar por Caio Blat, afinal é o protagonista Riobaldo, e já tinha sido destaque tanto na peça/filme que fez o mesmo papel em uma outra roupagem, ou seja, já sabia como dar boas nuances para o personagem, e aqui foi usado em três situações bem diferentes, como narrador/entrevistado bem velho, porém expressivo e cheio de traquejos, como um jovem professor entusiasta das histórias do Brasil colonial, emotivo e cheio de simplicidades, e como um guerrilheiro assustado que vai mudando suas nuances expressivas de forma a dominar o ambiente, ou seja, deu show. Da mesma forma a filha do diretor, Luisa Arraes, sendo dirigida pela primeira vez por seu pai, também já tinha participado da peça/filme do ano passado, só que em outro papel, e aqui sinceramente não consigo pensar em outra atriz para fazer Diadorim, tendo força, traquejos, expressividades na medida máxima, praticamente chamando a câmera para si do começo ao fim em uma êxtase perfeita demais. Agora meus amigos, se antes o diretor era chamado de gênio com uma câmera, agora ele pode ser chamado de santo milagreiro, pois fez dois comediantes virarem atores de um nível tão grande, mas tão grande que se eu fosse eles colocaria todos os frames do filme que aparecem colados pela casa, afinal Eduardo Sterblitch já vem numa crescente expressiva, mostrando personalidade em seus papeis e tudo mais, mas o que fez aqui com seu Hermógenes é algo que não tem como falar, tem de olhar, tem de arrepiar, tem de aplaudir e tudo mais, pois o ator deu show, e não por menos o meu maior medo do trailer era Luis Miranda como o truculento general Zé Bebelo, afinal sabemos que suas façanhas estranhas, mas aqui ele pegou o papel e se expressou, se jogou, trabalhou trejeitos fortes, e agradou demais, ou seja, fez por merecer o personagem. Ainda tivemos atos bem imponentes de Rodrigo Lombardi cheio de entonações e imposições com seu Joca Ramiro marcante, mas vale um grande destaque entre os secundários o show que Mariana Nunes deu para sua Otacília nas cenas iniciais, sendo impactante e tão bem colocada que quase rouba a cena do filme para si, ou seja, um elenco que arrasou.
Outra faceta incrível da trama foi fazer uma favela/comunidade meio que futurista, meio que exótica para representar a comunidade do Grande Sertão, trabalhando inicialmente em um modelo quase computacional ou de maquetes bem trabalhado, para depois ir para o chão mesmo com ambientes rústicos e bem trabalhados, com muitas armas de todos os estilos e calibres, muita sujeira, muito sangue e cortes para marcar algo diferenciado na tela, sendo bem representativo de figurinos rasgados ou desnudos, com uma ambientação bem alocada entre os policiais, entre os líderes do tráfico, com motos e dinâmicas fortes de invasão, ou seja, a equipe de arte trabalhou muito para que o filme ficasse na medida certa entre o correto e o quase exagero, mas que agrada demais.
Enfim, posso estar até exagerando um pouco na nota que vou dar para o longa, mas fazia tempo que um filme não me arrepiava tanto com uma expressividade cênica marcante na tela, de modo que dava para tirar alguns pontos por uma ou outra cena desnecessária que daria para cortar um pouco, mas acaba tendo contexto, então recomendo demais para todos verem uma grande obra nacional aonde merece ser vista que é no cinema. E assim sendo fica a dica, e eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.
PS: Como falei, talvez tiraria um ponto ou meio de alguma coisa, mas vou manter a nota máxima na expectativa que o diretor não me decepcione em Dezembro, afinal volto a frisar que "O Auto da Compadecida" ainda um dos melhores longas nacionais que já foram feitos, e se estragarem na continuação mais esperada por todos os brasileiros vai sair morte!
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