Os Observadores (The Watchers)

6/08/2024 01:39:00 AM |

Costumo dizer que sou um dos poucos críticos que gosta que o diretor deixe sua opinião na tela ao invés de deixar a trama aberta para que o público interprete da forma que quiser, e fico muito feliz quando se permeia toda a história em cima de algo que você vá imaginando sem entender tudo o que está ocorrendo e no final tudo faz muito sentido. Dito isso, confesso que estava com muito medo do que veria no longa "Os Observadores", pois o trailer entregou pouquíssimo do que seria realmente a trama, a diretora era estreante na função, e ainda por cima vinha com o peso de ser a filha de um dos grandes nomes do mistério/terror mundial, ou seja, poderia facilmente derrapar entregando algo confuso que levasse nada a lugar algum, e ainda sairia super bem falada pelo mundo afora, mas muito pelo contrário, entregou uma trama densa, com boas pitadas de terror para causar algo nos espectadores, mas não se prendeu a isso, deixando muito mais o lado de suspense misterioso dominar na tela, criando vértices confusos para que o público interpretasse quem seria os observadores (Aliens? Monstros? Espíritos? Pessoas ruins? Coisas da mente dos personagens? Ou nada disso?) para que quase chegando ao final tudo fosse minimamente explicado para todos, e ainda sobrasse espaço para uma reviravolta surpreendente, ou seja, é raro eu elogiar um diretor estreante, mas Ishana Night Shyamalan começou com os dois pés direito na porta falando que vai honrar seguir ou suceder o legado do pai (que vem errando um pouco ultimamente, mas que sabe como agradar quem gosta de seu estilo também!).

O longa acompanha a tensa jornada de Mina, uma artista de 28 anos. Mina, ao se aventurar pelo oeste da Irlanda, se vê perdida em uma imensa e assustadora floresta natural. Desesperada por abrigo, ela finalmente encontra um refúgio, mas a segurança é apenas aparente. Dentro deste abrigo, Mina se junta a três estranhos, todos igualmente apavorados. À noite, eles são vigiados e perseguidos por criaturas misteriosas, que eles nunca conseguem ver, mas que parecem saber tudo sobre eles. A atmosfera é de constante tensão e paranoia, onde cada ruído na escuridão pode ser uma ameaça. Enquanto Mina e os outros tentam sobreviver e entender a natureza dessas entidades invisíveis, o filme mergulha o espectador em um suspense psicológico profundo, explorando o medo do desconhecido e a luta pela sobrevivência. 

Infelizmente agora em sua estreia na direção e roteiro, Ishana Shyamalan, será comparada com seu pai, muitos vão falar apenas disso, mas se seguir o estilo que entregou nesse filme em seus próximos facilmente logo esquecerão desse detalhe, pois ela pegou o livro de A.M. Shine, e junto dele conseguiu transportar as ideias para uma trama que brinca muito entre ser real ou imaginária na tela, deixando que a protagonista não saísse de foco, mas que também deixasse os demais fluírem e aparecerem bem para serem desenvolvidos, e mais do que isso, não querendo ser a dona da verdade jogando com o abstrato, pois sendo um fã desse estilo de direção, sempre acredito que o diretor tem de dar sua opinião na tela, no seu próprio filme, e não em entrevistas e análises de jornalistas, afinal o longa é seu, então que você diga o que é o certo ou errado de se imaginar, e aqui a sacada explicativa foi bem clara nos três atos finais que considero ter o longa (a descoberta do material do professor na floresta, o complementar do tema todo na faculdade, e a reviravolta final), mostrando que a diretora tem personalidade e estilo, o que é um mérito para começar chutando a porta dos cinemas, e mostrar que seu DNA é bom demais para ser chamada apenas como a filha do fulano, mas sim como Ishana Night Shyamalan.

Quanto das atuações, o mais engraçado de ver Dakota Fanning na tela é que por ter começado bem criança nas telonas já oscilou desde o seu melhor até a sua bomba completa, e aqui com sua Mina, ela mostra que com apenas 30 anos já adquiriu uma boa maturidade expressiva, ao ponto que a todo momento acreditamos que ela vai fazer algo muito imprudente na tela, que está maluca, mas que mesmo protagonizando se abre para a ideia dos demais, e fazendo praticamente três papeis em um único filme conseguiu soar diferente e com personalidade, ou seja, acertou no que fez. Olwen Fouéré trabalhou sua Madeline ao mesmo tempo misteriosa, mas também imponente de atitudes, sendo intensa em todos seus atos e criando boas aberturas para que pensássemos de tudo sobre ela, até chegarmos ao final e entendermos melhor seu papel, ou seja, agradou bastante com o que fez, mesmo sendo seca demais na tela. Georgina Campbell com sua Ciara e Oliver Finnegan com seu Daniel trabalharam personagens mais doces dentro da trama, ao ponto que mesmo seus atos explosivos acabam soando leves de se ver, mas sem desapontar, que é o principal de acontecer. Quanto aos demais, Alistair Brammer praticamente apenas apareceu rápido com seu John no começo e depois em algumas cenas espalhadas sem ir muito além, e John Lynch fez de seu Kilmartin o explicador de tudo, afinal quando os personagens acham seu material acabam entendendo tudo, e o público também, ou seja, não foi tão expressivo quanto poderia, mas agradou no que fez.

Visualmente a trama foi simples com uma floresta labiríntica, daquelas que tudo parece ser o mesmo lugar, tendo apenas algumas placas para tentar ser diferenciado, algumas cavernas, uma sala de espelhos, uma loja de animais, um bunker, uma sala de faculdade e uma casa bem bonita, além de algumas lembranças de um acidente, aonde a equipe de arte não quis subverter ninguém criando abstrações demais, tendo apenas os antagonistas como formas gigantes misteriosas sem aparecerem muito na tela para não ficar esquisito e ter de explicar demais, porém no fechamento tudo faz bastante sentido e acaba sendo mostrado um trabalho bem primoroso da equipe.

Enfim, acabou sendo um filme que sinceramente esperava bem pouco, e até tinha medo de sair da sessão sem ter entendido uma cena sequer, mas que entrega algo complexo, místico e até bem incorporado dentro de lendas irlandesas e mundiais, ao ponto de até querermos talvez uma continuação desenvolvendo ainda mais na tela, afinal deram essa brecha. Então recomendo o longa para todos verem sem medo de ficarem traumatizados ou sem sono depois de ver, e fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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