Salamandra (La Salamandre) (The Salamander)

6/23/2024 06:05:00 PM |

Costumo falar que um diretor precisa ter muita ousadia para que seu filme crie toda uma tensão que prenda o público do começo ao fim, e termine sem um fechamento que marque ou alguma reviravolta que impressione realmente, mas também digo que é algo fácil de se fazer, afinal não estará presente quando a maioria verá o longa para lhe indagar o que realmente desejava passar com um fechamento simples em cima de uma trama toda densa, e dessa forma eu acabo classificando longas desse porte como uma trama que impressiona pela essência mais do que pela história, pois você imagina mil possibilidades, entra por completo no clima da trama, mas quando a história não evolui, você acaba apenas ficando no famoso "e, se?". Dito isso, o longa "Salamandra", que entra em cartaz nos cinemas do país a partir da próxima quinta 27/06, consegue trazer um olhar denso de uma pessoa enlutada que segue se envolvendo de forma errada, que cai nas armadilhas da vida de modo fácil, mas que por dentro gosta dessa autodestruição, de maneira que a barreira da língua até pode significar o mal entendimento das coisas, mas se permitir enganar por vezes é mais fácil do que agir, e assim o longa além de mostrar isso na protagonista, também diz muito do que fazemos no dia a dia.

A sinopse nos conta que depois de passar anos cuidando do pai, Catherine se sente sufocada pelo contraste entre seus sentimentos e a sua realidade. Ela foge para o Brasil esperando se reconectar com sua irmã. Nesse novo cenário, livre de responsabilidades, mas ainda desorientada, ela se vê envolvida num romance inesperado com Gil, um jovem carismático. Catherine é tocada pela fragilidade de Gil, e a atração mútua entre eles surge do desejo compartilhado de aceitação, ambos como estrangeiros nessa nova paisagem. Enquanto seus corpos se encontram, as tensões da cidade ecoam entre eles, intensificando cada contato e tornando a libertação uma miragem distante. Determinada a não olhar para trás, Catherine enfrenta a difícil escolha de seguir adiante com sua transformação, mesmo que isso a leve a um desfecho violento e irreversível.

Diria que a estreia do diretor Alex Carvalho foi ousada pelo lado de colocar o elo da interpretação linguística numa trama densa com possíveis vértices para muitos lados, em cima do texto de Jean-Christophe Rufin, e ainda colocando uma das principais atrizes francesas do momento para se jogar por completo na sua ideia, porém faltou para ele a desenvoltura correta para que seu filme tivesse um pouco mais de fechamento, não apenas fechando as densidades, mas talvez dando mais entrega para todos os vértices da trama. Claro que isso se aprende com o tempo, e também com o uso do tempo para que a trama siga firme, pois aqui dava para cortar fácil pelo menos uns 20 minutos de cenas abertas que não incrementam algo para o longa, mas como a densidade cênica escolhida era assim, o resultado até que funciona. Ou seja, é um filme que lendo um pouco mais sobre ele na sinopse até consegue se captar melhor a essência que desejavam entregar, porém apenas conferindo o filme acaba ficando subliminar demais, e isso dava para arrumar com uma edição um pouco melhor, o que faz dele aquela estreia quase perfeita do diretor, mas que muitos vão se apaixonar e outros odiar, e aí entra o olhar crítico de cada um nas palavras da trama.

Quanto das atuações, já havia elogiado muito o trabalho de Marina Foïs no longa "As Bestas", pois ela sabe segurar um drama tenso como ninguém, e é muito sábia em reviravoltas de estilo para mudar sua própria personalidade, e aqui talvez se o diretor lhe pedisse mais disso, sua Catherine poderia impactar e impressionar na medida mais ampla que ele nem saberia como controlar, então o que vemos na tela é novamente uma ótima entrega da atriz. Maicon Rodrigues foi bem desenvolto nos atos de seu Gil, trabalhando bem o lado emocional e também malandro na tela, criando alguns elos bem encaixados com a protagonista, e não simplificando a entrega para que seu personagem ficasse simples demais na tela, mas também poderia ter um final melhor fechado para que o longa marcasse mais, mas isso é com o roteiro e não com o ator, então fez bem o que precisava. O foco da trama é bem em cima dos dois protagonistas, com poucas cenas saindo do eixo deles, então nem vale destacar mais ninguém, de forma que talvez alguns dos personagens secundários marcassem um pouco mais para chamar mais atenção, mas ficaram abstratos demais em relação a trama completa.

Visualmente a trama flui por uma Recife não muito comum de ser vista nos longas, tendo alguns atos bem encaixados na praia, um apartamento luxuoso da irmã da protagonista, uma casa mais simples e reclusa, alguns atos em bares e clubes, e até num ateliê de arte sacra bem interessante, mas o grande chamariz do longa ficou para o vento sempre soprando e dando vez nos ambientes meio como algo abstrato para carregar a protagonista por rumos que ela não desejasse, mas que vai para se mudar por completo, e assim sendo diria que a equipe de arte aproveitou de elos simples para que o longa fluísse naturalmente na tela.

Enfim, é um filme que dava para ser entregue de diversas maneiras, mas que funciona dentro da proposta escolhida, que claro não é algo que muitos vão gostar, mas que tem a proposta bem alocada e cria intensidade no ambiente completo. Claro que como disse dava para cortar uns 20 minutos da trama que não fariam falta, e talvez um desfecho mais explosivo com alguma reviravolta marcante agradasse mais na tela, mas isso é algo que cada um que conferir irá tirar suas devidas conclusões, pois o que tenho para dizes apenas é que o longa é interessante e vale a indicação. E é isso meus amigos, fico por aqui agradecendo novamente o pessoal da Sinny e da Pandora pela cabine, e volto logo mais com outros textos, então abraços e até breve.


2 comentários:

Anônimo disse...

quando será q vai está disponível nos Stremings?

Fernando Coelho disse...

Rapaz... filme brasileiro cair no streaming é demorado viu... tem uns que nem chegam a entrar por lá... mas assim que souber eu volto aqui... abraços!

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