sábado, 13 de julho de 2024

A Filha do Pescador (La Estrategia Del Mero) (The Fisherman's Daughter)

Que o mundo está mudado todos nós sabemos, porém existem ainda muitas comunidades sem acesso à informação aonde as pessoas já estão velhas e não aceitam bem os costumes e gostos atuais, de tal forma que pessoas trans dificilmente são bem recebidas, principalmente após separações complicadas, mas uma coisa que nunca vai mudar, mesmo que a pessoa seja contra as mudanças, é um pai defender seu filho quando esse está com problemas. E o longa "A Filha do Pescador", que é uma colaboração entre Colômbia, Porto-Rico, República Dominicana e Brasil, entra no circuito comercial dos cinemas a partir da próxima quinta 18/07, trazendo bem essa pegada densa das relações familiares, da fuga por motivos pessoais e diferentes ou de crimes em outro local, e ainda ousando trabalhar a discussão de aceitação pós anos sem se ver e/ou de personalidades bem diferentes. Diria que a trama é ousada por introduzir esse tipo de discussão num mundo tão conturbado como anda atualmente, mas também precisa de estilo, pois não se alonga nem se aprofunda no que não é necessário, deixando apenas a forma bruta do miolo acontecer, para ter ao final algo tão singelo que consegue dizer mais do que mil palavras, além claro da forma poética e bonita para incorporar tudo. Ou seja, é um filme que muitos vão ver e achar simples demais, e outros irão se emocionar e apaixonar com o resultado completo, e alguns nem darão a chance de conferir sabendo do que se trata a trama, mas é inegável que a equipe foi sucinta e brilhou em não alongar a trama para que ficasse novelesca e sem sal como acontece em muitos casos do estilo.

A sinopse nos conta que Samuel mora sozinho numa ilha isolada em algum lugar do Caribe colombiano. Exímio mergulhador, ele vive da quase extinta prática da pesca submarina em mergulho livre. Um dia, o filho Samuelito, que ele não via há 15 anos, bate à sua porta. Agora uma mulher trans, conhecida como Priscila e em fuga, ela é forçada a voltar ao lar para se esconder. Seus mundos não poderiam ser mais distantes. Samuel não consegue aceitar Priscila, e ela não consegue perdoá-lo por eventos do passado. Mas acontecimentos dramáticos acabam obrigando os dois a se reaproximarem. Com eles, mergulhamos nas águas cristalinas do Mar do Caribe, mas também em uma bela história de relações familiares, diversidade, aceitação e amor.

A estreia do diretor e roteirista Edgar Alberto Deluque Jacome foi bem certeira, pois fez com que seu filme tivesse polêmica para ser discutida, mas também tivesse dinâmicas emocionais bem contextualizadas, e o melhor, sem precisar fazer algo de duas horas que inserisse mil personagens e acabasse virando uma novelona, ou seja, ele foi múltiplo no que desejava passar, mas de uma forma mais simples e coesa, de tal forma que seu filme não tem cenas que enroscam, não tem repetições, e se desenvolve bem facilmente na tela, que claro dava para impactar mais se alongasse talvez trabalhando um pouco do passado e do futuro da relação ali desenvolvida, mas não era necessário para a proposta, e o resultado funcionou bem dessa forma, ou seja, o famoso menos é mais que agrada.

Quanto das atuações, Roamir Pineda trouxe um ar meio que rancoroso demais para seu Samuel, entregando uma personalidade bem crua que retrata bem pessoas isoladas com uma vida simples de comunidades ribeirinhas, e esse estilão seco funcionou bem para o que o protagonista trabalhasse a essência do personagem e não desapontasse. Nathalia Rincón também trabalhou muitos trejeitos marcantes para que sua Priscila/Samuelito tivesse densidade e emoção na forma de trabalhar o sentido dramático da trama, se envolveu fácil com os demais personagens, e soube dosar o teor de olhares com uma dinâmica bem precisa para tudo. Os demais atores também foram bem selecionados para os papeis, mas como a tensão ficou maior somente entre os dois protagonistas, quase não tiveram dinâmicas para acertar, valendo leves destaques para o jovem Jesús Romero com seu Miguelito e Henry Barrios com seu Grimaldo.

Visualmente a locação acaba sendo bem marcante, com uma casa simples, inteira bagunçada, afinal são 15 anos que o pescador vive sozinho na ilha, tendo apenas os demais amigos pescadores que passam por ali, mas com a chegada da protagonista, ela coloca fotos, e monta o cantinho do velho de um jeito mais "charmoso", embora ainda bem rústico, não sendo um ambiente com muitos detalhes, mas que justamente dessa forma a equipe de arte conseguiu ser marcante e densa como a proposta pedia, além claro de belas cenas de mergulho.

Enfim, é um filme que tem uma pegada mais seca e direta, que vai trabalhar boas discussões do tema, e que mostra uma desenvoltura bem dramática por parte dos protagonistas, de modo que o filme tem um ar com muita presença na tela, que mesmo não sendo perfeito consegue agradar bastante com o que é mostrado, e sendo assim vale a indicação para que confiram o longa nos cinemas selecionados a partir do dia 18/07. E é isso meus amigos, eu fico por aqui agradecendo o pessoal da Bretz Filmes e da Primeiro Plano pela cabine de imprensa, e volto mais tarde com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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