O diretor Roger Michell tinha um estilo bem limpo de filmes, aonde na maioria das vezes ele usava bem da formatação tradicional e calma dos longas ingleses e vez ou outra colocava algumas sacadas de quebra para dar uma mexida no tom da trama, e aqui ele usou bem a base da história, criando poucos atos de virada, e deixando que os personagens falassem por si próprios, de modo que em diversos atos até vemos algo meio que teatral nas atuações dos protagonistas, e isso é algo que agrada de certa forma pela leveza cênica, e também acaba sendo um método para que artistas mais idosos possam se desenvolver melhor sem precisar seguir um roteiro mais seco, e o que acontece em cena é de um luxo e diversão que poucos conseguiram fazer tão bem. Ou seja, antes de morrer em 2021, o diretor fechou sua carreira com um comédia dramática de primeira linha, que brinca com uma história real maluca, e funciona como uma das defesas mais bizarras possíveis, aonde com muita certeza a maioria verá o longa e falará ser impossível ser real tudo que foi dito no tribunal.
Quanto as atuações é até fácil falar de Jim Broadbent, pois ele se joga tão fácil em seus personagens que você não sente ele atuando, parecendo que conheceu o personagem real em um jantar e apenas pegou os trejeitos e foi para o set filmar, de tal forma que seu Kempton se parece com qualquer senhorzinho ranheta que você conhece por aí que discute de tudo de acordo com seus ideais, e que ganha sempre no que tenta defender, ou seja, ele brinca com o personagem trabalhando sacadas e expressões bem encaixadas para que o filme fluísse bem fácil na tela. Da mesma forma, Helen Mirren pega sua Dorothy e entrega uma personagem tão diferente que ao pausar o filme logo no comecinho para ver os nomes (adoro essa funcionalidade da Prime Video!) vi seu nome e falei não é ela, não pode ser ela, mas é, e nossa eterna rainha se joga como uma senhora que mesmo bem velhinha continua fazendo faxinas, tendo uma presença cênica perfeita nas dinâmicas do longa, e claro trabalhando um carisma único para agradar na tela como sempre. Ainda tivemos o jovem Fionn Whitehead bem encaixado com seu Jackie cheio de nuances e expressividades mais simples, mas que encaixaram perfeitamente com a ideia da trama, e claro com os demais personagens.
Visualmente a trama tem uma pegada bem clássica, mostrando os ainda tradicionais julgamentos dos anos 60 na Inglaterra com todos os magistrados com suas perucas clássicas, vemos uma casa simples, e vem uma mensagem ao final do longa que me surpreendeu bastante, que a TV gratuita por lá só surgiu no começo dos anos 2000, ou seja, antes todos tinham de pagar licenças para ver até mesmo o canal de notícias na TV, e o senhorzinho brigando por isso lá nos anos 60, com uma casa simples, porém com sua TV bem colocada na sala, aonde gostava de passar suas noites de chá. A equipe de arte brincou bem com os elementos cênicos para que tudo funcionasse bem na tela, e cada detalhe marcou presença pelo set.
Enfim, é um filme simples, porém bem gostoso de conferir, com uma pegada clássica de humor e drama que os ingleses gostam de brincar na tela, aonde nada incomoda, e que vai agradar quem gosta de histórias reais malucas, que contadas de uma forma descontraída acaba funcionando ainda melhor. Ou seja, se você ainda não viu, já que não é um filme tão novo, vale a dica de play, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até amanhã com mais dicas.
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