Ninguém Sai Vivo Daqui

7/06/2024 07:19:00 PM |

Já vimos e ouvimos muitas histórias contando sobre pessoas que eram mandadas no passado para hospitais psiquiátricos, os famosos hospícios, sem ter nenhuma doença propriamente dita, apenas como eliminações de parentes por não seguirem as ordens dos patriarcas, ou até mesmo por saírem da linha, e claro que de lá nunca mais saiam, e raramente sequer uma visita recebiam, e baseado na trama do livro "Holocausto Brasileiro" conseguiram criar uma perspectiva bem densa e marcante no longa "Ninguém Sai Vivo Daqui", que estreia nos cinemas na próxima quinta 11/07, aonde vemos uma jovem que engravidou de alguém que o pai não queria que casasse, e que acaba jogada no Hospital Colônia, um dos piores de MG dos anos 70, e sua força de vontade para sobreviver e conseguir fugir dali. Como dito no começo do filme, as personagens são fictícias, mas as histórias colocadas no longa são reais, e o diretor soube aproveitar bem cada detalhe cênico para que seu filme tivesse presença e chamasse atenção, ainda mais usando uma fotografia em preto e branco belíssima, que efetivamente não seria necessária como já disse em outros filmes que usaram a técnica, mas que acabou dando um tom belíssimo e bem marcante na tela.

A sinopse nos conta que a jovem Elisa é internada a força pelo seu próprio pai no hospital psiquiátrico Colônia, um lugar onde aqueles que não se conformavam com as normas da sociedade, ou com a percepção que a sua família tinha dela, eram presos, torturados e mortos. O motivo que o pai de Elisa teve para interná-la foi por conta de ter ficado grávida de seu namorado por volta dos anos 70. O lugar é hostil e nada agradável, e após sofrer diversos abusos, Elisa, e outros colegas, que também foram internados injustamente, lutarão com toda a força que puderem pela sua liberdade, para fugirem daquele hospício infernal.

Diria que o diretor André Ristum soube usar bem o material do livro de Daniela Arbex para criar uma trama bem densa e marcante, que acabou virando série antes de ser reduzida para o formato de longa-metragem, pois aqui ele conseguiu fazer com que a ideia mais fechada entregasse uma forma mais presente da protagonista, fazendo com que o público se conectasse com a personagem Elisa e entendesse como foi jogada ali sem ter qualquer problema neurológico, desenhando o ambiente como algo ainda mais intenso para alguém normal, e mais do que isso, brincando mais rapidamente com cada um dos demais personagens apenas para ambientar tudo, o que não aconteceu na série que acabou tendo um episódio para cada personagem. Ou seja, ele conseguiu criar dois materiais diferentes ao ponto de que aqui no longa vemos mais a síntese de uma mulher normal que sofreu muito por não estar mais com o namorado, estar grávida e ali perder toda sua dignidade e muito mais, sobrevivendo e pensando em como não morrer ali, e ao trabalhar com planos-sequência bem amplos a trama acaba fluindo fácil e chamando atenção.

Quanto das atuações, Fernanda Marques soube segurar bem o protagonismo com sua Elisa, fazendo trejeitos fortes e intenções marcantes na tela, de modo que vemos realmente uma jovem meio que perdida sem saber o que fazer quando é colocada no trem e logo na sequência em sua entrada no hospital, mas que se desenvolve bem lá com as demais mulheres, e ao final já tem noção completa do seu desejo, o que mostra uma modelagem de personalidade bem trabalhada e interessante. O sobrenome de Augusto Madeira deveria ser Ator de Cinema, pois tem tantas obras em seu currículo que está na telona e na telinha quase que o ano inteiro, e o melhor é que não desaponta no que faz, sabendo segurar com imposição seus personagens por menores que sejam, e aqui seu Juraci é daqueles que você sabe que vai aprontar algo com a protagonista a qualquer momento, e consegue aparecer bem marcante nos atos que entrega, sendo daqueles ajudantes do hospital que nem podem ser chamados de enfermeiros, mas sim de brucutus prontos para abusar, ou seja, faz um personagem bem chamativo. Ainda tivemos bons atos de Rejane Faria com sua Wanda e Andreia Horta com sua Valeska, cada uma passando sentimentos diferentes nas cenas que trabalham, e também sendo marcantes na produção, mas quem acaba tendo um pouco mais de destaque nos atos finais é a enfermeira Laura que Naruna Costa consegue transparecer bem todo o sentimento de que não gosta das coisas erradas que acontecem naquele ambiente.

Embora eu não seja totalmente favorável à moda atual que muitos diretores andam escolhendo trabalhar com preto e branco sem que seja algo tão necessário para o filme, o resultado visualmente aqui foi uma das maiores sacadas que o diretor poderia ter escolhido, pois trouxe um aspecto de lugar morto para o ambiente, algo sem vida nenhuma, aonde todos andam igual zumbis, e os que tentam fugir do padrão acabam morrendo pelas mãos dos que estão ali para "ajudar", ou seja, conseguiram um hospital bem representativo, muitas cenas dos banhos com mangueiras de bombeiros, choques e tudo mais para desestabilizar os internos, e o resultado funciona bem com todos os pequenos, mas bem escolhidos elementos cênicos para cada personagem.

Enfim, é um filme denso e bem marcante que mostra que o diretor ainda segue sabendo escolher as obras para chamar toda a nuance para o seu estilo, e assim sendo acaba valendo a recomendação de conferida, principalmente pelo tema, já que muitos nem sabem dessa época estranha do nosso país, e que mesmo após a lei dos hospitais psiquiátricos ser promulgada, ainda tem alguns casos recorrentes atualmente. Então fica a dica para conferir ele nos cinemas a partir do dia 11/07, e eu fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Sinny Assessoria e da Gullane pela cabine de imprensa, então abraços e até logo mais.


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