O Sequestro do Papa (Rapito) ( Kidnapped: The Abduction of Edgardo Mortara)

7/07/2024 08:58:00 PM |

Gosto bastante de ver filmes baseados em casos reais, porém gosto mais dos que são desconhecidos da maioria, pois você não sabe os rumos da história, o que aconteceu e toda a situação envolvida na época, ao ponto que acaba sendo quase uma ficção em nossa mente se desenvolvendo, e quando vi o título do longa "O Sequestro do Papa" antes mesmo de ler algo ou ver o trailer dele, fiquei imaginando que maluco teria sequestrado o líder da Igreja Católica que desde os primórdios sempre teve uma guarda bem imponente? Porém, quando fui conferir um pouco mais da trama, vi que foi o contrário, de um garoto judeu que foi retirado da família por ter sido batizado cristão por alguém e a denúncia ter chegado à Roma, ou seja, um abuso das leis na época em que quem as ditava era a própria Igreja, e que acabou sendo julgado e tudo mais não dando ganho para a família. Diria que a essência do filme é bem imponente, sendo baseada em um livro que fez muito sucesso na Itália, e que conseguiram fazer uma produção gigante cheia de detalhes marcantes na tela, com atuações fortes e todo um resultado que vale a conferida na tela, mas que abusou de um estilo extremamente tenso na tela, que pela duração alongada para mostrar muitos detalhes, acaba cansando um pouco, mas nada que desabone o resultado final impactante pelas escolhas do diretor.

O longa é baseado na escandalosa história verídica de um menino judeu, Edgardo Mortara, que foi sequestrado da casa de sua família em Bolonha, em 1858, por ordem do Papa Pio IX. Durante anos os pais dedicam seus esforços para recuperar seu filho, mas, apesar dos apelos desesperados da família e da indignação pública, o Papa permanece irredutível. A história deles revela um capítulo sombrio da tirania histórica na Igreja tendo como pano de fundo uma nação à beira da revolução.

Diria que o diretor e roteirista Marco Bellocchio foi bem centrado no que desejava desenvolver na tela do livro de Daniele Scalise, pois conseguiu trabalhar uma trama de época que fala com o mundo moderno, aonde a religião e a política se envolvia e criava conflitos, e que até hoje ainda causa muitos problemas mundo afora, e ele trabalhou bem a personalidade de ambos os lados da história, de modo que mesmo que você fique de um lado da história conseguirá entender bem o outro e com isso ele acabou fazendo um filme com estilo e propriedade sem precisar ser apenas de acusação. Ou seja, é daquelas tramas que você não irá defender o Papa da época pelo que fez, mas também não irá tirar conclusões precipitadas em cima da forma como tudo ocorreu, sendo algo bem intenso e próprio, que dentro de um filme de ficção (que mesmo sendo baseado em algo real, também sempre aumenta um pouco para dar uma impressionada melhor) funciona bastante.

Quanto das atuações, diria que o grande nome do filme é sem dúvidas o garotinho Enea Sala, que conseguiu fazer trejeitos emocionais tão bem colocados que seu Edgardo acaba emocionando na simplicidade dos seus atos, desenvolvendo um carisma próprio, e que claro no meio dos dois mundos opostos fez por bem seguir o que lhe pediam para não sofrer tanto, e com esse jeito doce e bem trabalhado chamou a responsabilidade para si em diversos momentos, não falhando nem se escondendo. Paolo Pierobon trabalhou seu Papa Pio IX com um ar meio que despojado, do tipo que manda em tudo e todos, e não está nem aí para quem lhe julgue, que não sei se foi realmente dessa forma o papado dele, mas provavelmente o ator estudou um pouco para compor o estilo, e chamou atenção. Fausto Russo Alesi foi bem imponente nos atos que trabalhou seu Momolo, dando claro as nuances tradicionais de um pai aflito, e usando todas as forças para conseguir que o filho não fosse levado pelos policiais, mostrando trejeitos marcantes e bem intensos. Quanto aos demais, diria que vale destacar Filippo Timi com seu Cardeal Antonelli e Fabrizio Gifuni com seu Padre Feletti, pois ambos foram bem responsáveis nos atos determinantes do filme, mas como ficaram em segundo plano acabaram não fluindo tanto na tela, deixando claro o maior destaque entre os secundários para Barbara Ronchi como Marianna, a mãe do garoto, explodindo desesperada pelo filho em diversos atos, e tendo um final bem marcante para fechar a essência do longa.

Visualmente a produção foi bem trabalhada, mostrando cenários amplos e ricos, que com certeza demandaram um orçamento grandioso, com cenas em missas, na escola dos garotos, em casas antigas da Bolonha, cenas com figurinos marcantes do Papa, e claro todas as roupas tradicionais dos garotos sequestrados que viveram dentro do ambiente religioso para virarem futuros padres, tudo com muitos detalhes e símbolos de ambas as religiões, e claro a luta dos povos na cidade. Ou seja, a equipe precisou escolher bem as locações para parecer bem a época, e conseguiu chamar atenção com as escolhas.

Enfim, é um filme imponente e marcante de uma época, que poderia ter ido talvez ser mais curto e direto, mas que quis ser bem representativo de como ocorreram as situações, e com isso acabou se alongando um pouco demais, porém ainda assim vale a conferida para conhecer um pouco mais de um dos "crimes" que a Igreja cometeu no passado, e claro ver que sempre que religião e política se juntam, não dá certo. Então fica a dica para conferir ele a partir do dia 18 nos cinemas de todo o país, embora alguns já tenham visto ele na Festa do Cinema Italiano que teve em algumas cidades, e eu fico por aqui agradecendo mais uma vez o pessoal da Sinny Assessoria e da Pandora Filmes pela cabine de imprensa, então abraços e até amanhã com mais textos.


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