A Viúva Clicquot (Widow Clicquot)

8/26/2024 12:49:00 AM |

Sempre digo que um filme que se passa em determinado país tem de ser produzido pelo país ou pelo menos falado com a língua do país, pois senão a trama não mantém a essência necessária e acaba entregando algo meio que engessado, mas como muitas vezes alguns países não dão tanto valor a algumas biografias, por vezes temos de assistir e se envolver com a história sendo contada por outros. Esse é o caso do longa "A Viúva Clicquot" que para quem é amante de um bom vinho com toda certeza já ouviu falar na história da jovem que o marido vinicultor morreu e ao invés de vender suas terras para outros produtores acabou inventando diversos processos e técnicas que até hoje são seguidos para determinar a qualidade do produto, e que como cinema até entrega uma boa história contada e desenvolvida na medida, porém ficou faltando o detalhe principal de ser uma trama francesa, pois certamente teríamos algo mais trabalhado cheio de notas frutadas e recortes amadeirados ao invés de algo mais seco e intenso como acabou ficando, mas como digo é o que tinha no mercado para hoje, então vamos beber!

A sinopse nos conta que depois da morte prematura do seu marido, Barbe-Nicole Ponsardin desrespeita as convenções legais e assume os negócios de vinho que mantinham juntos. Ela passa a conduzir a empresa com vertiginosas reversões políticas e financeiras e desafia os críticos ao revolucionar a indústria de champanhe se tornando uma das primeiras grandes empresárias do mundo.

Diria que o diretor Thomas Napper trabalhou até que bem o roteiro que foi baseado no livro de Tilar J. Mazzeo, pois vemos toda a essência da mulher forte que foi Barbe-Nicole, mas faltou para ele desenvolver as nuances do momento, um pouco de como era a produção dos champanhes, e até emocionar melhor as cenas mais dramáticas, pois tudo vai acontecendo e aos poucos sendo inseridos algumas lembranças ao ponto que ninguém entende do que o marido dela morreu, o motivo pelo qual Napoleão não destruiu as vinícolas, as diferenças de sabores e tipos de venda, e até mesmo a cena das explosões de bebidas ficou em segundo plano, de tal forma que é algo rápido demais para sentirmos a presença que um filme sobre vinhos merece, mas ao menos trouxe para a tela a ideia, e quem sabe mais para frente alguém pegue as nuances e as desenvolva melhor na tela, pois é algo bem válido já que existem milhões de fãs de vinhos mundo afora (embora um Veuve Clicquot não seja encontrado por menos de 200,00 uma garrafa!).

Quanto das atuações, Haley Bennett trabalhou sua Barbe-Nicole com um ar bem enlutado do começo ao fim, tendo alguns atos mais "alegres" nas lembranças junto do marido, mas sem ter grandes gracejos, ao ponto que pareceu ser uma mulher extremamente séria e de pulso firme, ou seja, não sei que estilo o diretor pediu que ela seguisse, mas poderia ter se soltado um pouco mais para que a personagem não ficasse tão pesada. Embora apareça praticamente só nos pensamentos da protagonista relembrando o passado, Tom Sturridge deu um tom bem emocional, levemente surtado com seu François, de modo que o ator soube dar personalidade para o papel, e com um pouco mais de desenvolvimento na história acabaria perfeito. Sam Riley soube segurar o charme de Louis Bohne quase como um personagem de "Os Três Mosqueteiros", sendo interessante de ver na tela, e trabalhando dinâmicas bem encaixadas de olhares com a protagonista. Ainda tivemos outros bons personagens secundários, mas entregando pouco na tela, afinal como disse a história não tem tanta abertura para os demais lados, e dessa forma vale apenas destacar Ben Miles com seu Phillippe imponente e bem duro com a nora, sendo marcante como um dono de terras deveria ser. 

Visualmente a trama trouxe bem a pegada do final dos anos 1800 na França, com uma paisagem bem bonita da vinícola ao fundo, sempre com contrastes do sol, mostrando em alguns atos o exército de Napoleão bombardeando também a distância, mas com tudo trepidando na casa principal, vemos um pouco da produção de vinho, da colheita das uvas, e muitas degustações, além claro de figurinos densos e bem marcados, aonde a viúva só usava preto e todo o ambiente do campo bem colocado. Ou seja, uma produção de época bem moldada, com uma fotografia escura, porém chamativa, muitas velas, e até tambores com fogo para evitar a perda da produção na época da geada, e assim a equipe de arte conseguiu entregar algo simples e bem feito.

Enfim, é um filme que facilmente poderia ter ido muito mais além, não precisando tanto de letreiros ao final se tivessem desenvolvido mais a história e as dinâmicas, mas ainda assim o resultado final embora simples acaba sendo agradável de ver, e valendo a indicação de conferida. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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