Um dos pontos mais interessantes do estilo do diretor e roteirista Karim Aïnouz é que ele brinca muito fácil com suas tramas, de modo que aqui você passa o filme inteiro esperando pelo marido pegar a esposa e o rapaz juntos, fica o tempo inteiro achando que os traficantes que tem contato com todos na cidade vão aparecer ali para pegar ele, fica esperando que algum cliente do motel veja eles espiando suas transas, e assim sendo fica com as mesmas paranoias que o protagonista, afinal tudo tem câmeras, e tudo pode ocorrer, ao ponto que essa é o gracejo da trama, o da expectativa de estar fazendo algo "errado" e a qualquer momento poder ser pego, pois se o jovem quisesse já teria ido embora para outra cidade há muito tempo, e essa magia do simples por incrível que pareça não cansa, sendo algo bem trabalhado que facilmente poderia recair para o lado mais novelesco, mas não acontece. Claro que o filme passa bem longe do melhor filme do diretor que na minha humilde opinião é "A Vida Invisível", mas como também passa bem longe de outros bem ruins e aclamados seus do passado, o resultado mostra que ele tem escolhido não ser tão maluco, mesmo não ligando para o excesso.
Quanto das atuações, diria que Iago Xavier brilhou completamente solto com seu Heraldo, não ligando de forma alguma para cenas sem roupa, se jogando com traquejos de todos os estilos, e principalmente sabendo expressar a dúvida de tudo o que pode estar acontecendo, de forma que o público certamente vai se conectar com ele e ficar achando as mesmas coisas que ele está em seu pensamento, sendo assim o ponto chave para que o filme funcionasse, o que é claro a função de um bom protagonista, até mesmo para um estreante. Num primeiro momento acreditei que Nataly Rocha não iria render muito com sua Dayana, mas a atriz serviu bem como fio condutor da trama, dando as nuances certas para que cada personagem ao seu redor se desenvolvesse bem, e claro sendo segura de tudo o que fez com seus traquejos, além de não amarrar o filme em momento algum, o que costuma acontecer muito nesse estilo de trama. E claro tivemos um Fabio Assunção bem maluco com seu Elias, ao ponto que o dono do motel vive a base de bebidas e faz suas cenas tão balançadas que ao final você só consegue imaginar um fim próprio para ele, e com anos de estrada o ator soube segurar tudo para si, mesmo sendo praticamente um secundário na trama.
Visualmente a trama praticamente toda se passa dentro do motel que dá o nome ao filme, mostrando bem os "bastidores" que a maioria das pessoas que vai ao local não conhece, vendo um grande corredor que tem suas pequenas janelinhas de comunicação entre quarto e serviço, muito material de limpeza, roupas de cama, bebidas e tudo mais que se possa pedir, quartos simples e a suíte maior aonde o dono e sua esposa vivem com piscina, mastro de poledance e tudo mais, e uma pequena edícula aos fundos aonde o jovem vai morar, fazendo os devidos trabalhos, muitas cenas de sexo, e antes de sua chegada ao local vemos algo bem rápido de sua vida com o irmão no crime, mas sem grandes detalhes.
Enfim, é um filme até mais simples do que imaginava, que talvez alguns irão filosofar e enxergar muito mais coisa em alguns poucos símbolos da trama, mas que a entrega é básica, a coloração vermelha forte deu algumas nuances interessantes, e como disse no começo, mesmo sendo um filme sem grandes explosões de densidade, ele acaba não cansando, e assim sendo diria que muitos irão acabar gostando de tudo o que é entregue, valendo a recomendação de conferida principalmente para quem curte tramas mais propícias de festivais. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, afinal essa semana o que não falta são boas estreias na telona, então abraços e até logo mais.
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