Três Tigres Tristes

8/26/2024 11:02:00 PM |

Já vi muito filme maluco nessa minha vida, mas hoje acredito que tenha achado o top 1 deles, pois "Três Tigres Tristes" até tem um começo interessante com algumas analogias bem colocadas em cima da loucura que foi a pandemia, e como foi para muitos viver sem saber o que realmente está rolando, vendo algumas coisas de perda de memória e tudo mais, de forma que estava me divertindo com a ideia toda, imaginando talvez alguma forma de fechamento irreverente para tudo, até os protagonistas entrarem na lojinha de objetos e tomarem um chazinho com a dona, aí meus amigos acredito que o diretor tomou o chazinho junto, e os personagens viraram do avesso literalmente em uma verdadeira mistura de tudo o que se possa imaginar, numa orgia insana e completamente fora da caixinha, que acredito que a ideia tenha sido bem essa mesmo de algum tipo de alucinógeno que botou tudo fora dos eixos e algumas coisas no caminho, mas convenhamos que não precisava apelar para tanto. Ou seja, não é um filme ruim, muito pelo contrário, tendo grandes sacadas e um desenvolvimento bem interessante, tanto que só vi ele hoje por estar na sessão do Prêmio Otelo que o UCI trouxe para as cidades aonde tem o cinema, mas que muitos entrarão na sessão pelo pôster (sem observar direito) e pelo nome e acabarão sem saber o que fazer quando o bicho pegar.

O longa conta a história de três jovens que vivem em uma kitnet na Liberdade, bairro de São Paulo: um aspirante a artista plástico, uma mulher trans e um performer e drag queen soropositivo. Juntos, eles cuidam do bichinho de estimação Intransmissível, um porquinho da índia. Um dia, são ameaçados de despejo - o aluguel está atrasado há três meses - e lutam para encontrar uma maneira de sair da situação. Cada um vai tentar, à sua maneira, conseguir parte do dinheiro, e através de suas relações, o longa aborda as histórias que os uniram e as violências e tragédias que os separaram de suas famílias.

Diria que o diretor e roteirista Gustavo Vinagre teve uma boa ideia ao combinar a sacada de doenças com o atormento que foi a pandemia, sabendo desenvolver bem uma história engraçada, mas ainda assim bem tematizada e claro colocando ainda a pegada sexual, de tal maneira que cada elo da história tem traquejos estranhos, porém bem marcados para que o filme fluísse corretamente na tela. Claro que dava para ele ter pegado mais leve nos atos finais para que tudo não saísse do eixo como acabou acontecendo, mas aí talvez perderia um pouco a originalidade da trama, e não chamaria tanta atenção, então talvez uma leve transição na grande orgia para o eixo de fechamento resultaria em algo ainda intenso, porém mais normal.

Quanto das atuações, diria que os jovens Isabella Pereira, Jonata Vieira e Pedro Ribeiro se jogaram por completo nas dinâmicas dos personagens que levam seus próprios nomes, de modo que usam de traquejos bem dominados do ambiente, se mostram confusos com algumas situações mais abstratas, mas não se deixam envergonhar com nada, liberando o corpo e os olhares para que tudo fosse convincente e divertido, mas sem dúvida as cenas com os coadjuvantes esquecendo o que acabaram de fazer foram as mais brilhantes.

Visualmente a trama trouxe desde o vício pandêmico de muitos usarem o álcool gel das formas mais imagináveis possíveis, o uso de máscaras, as medições de distância, mas também trabalhou bem os convívios e os ambientes mais estranhos possíveis como uma petshop que vende o combo completo obrigatório para levar o bichinho, o encontro casual na rua que depois com máscara nem sabe quem é a pessoa, e claro a fatídica cena com os mil objetos em orgia na loja de móveis usados, ou seja, a equipe de arte foi simples pela época de filmagem, porém bem representativa para mostrar a ideia na tela.

Enfim, é um filme bem diferente do usual, que tem muito mais cara de festivais do que algo vendável comercialmente, tanto que comparado aos outros candidatos do Prêmio Otelo (o resultado dos ganhadores sai quarta dia 28/08) esse foi o único que não saiu em diversas salas pelo país no seu lançamento, aparecendo apenas agora nessa semana que o UCI trouxe todos os indicados à melhor filme em suas salas, mas que quem conseguir conferir irá se divertir com a ideia, mesmo sendo uma temática não tão convencional. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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