Ainda Somos os Mesmos

9/26/2024 01:31:00 AM |

Olha, se eu apostasse que nesse ano não veria mais longas com a temática da ditadura, certamente já estaria devendo algum dinheiro, pois já perdi até as contas de quantos foram, e sei que ainda tem mais alguns para lançar talvez ainda até o fim do ano, afinal como já disse nas outras vezes está completando 60 anos do famoso golpe que tivemos por aqui. E para não focar somente no país, o longa "Ainda Somos Os Mesmos", que estreia nessa quinta 26/09 em vários cinemas pelo país, foi para o Chile para mostrar a história de algumas pessoas que conseguiram fugir do Brasil no começo dos anos 70, indo para o país que tinha acabado de eleger um governo democrático, porém como foi dado um golpe também por lá, muitos acabaram escondidos dentro da embaixada argentina para não serem mortos. E assim a trama desenvolve os dias lá dentro da embaixada, as tentativas da ONU de tirar algumas pessoas de lá de dentro vivas, e claro o resgate dos brasileiros que estavam lá para asilos em outro país. Diria que a trama tem uma pegada densa bem interessante, mas que talvez pudesse ter ido ainda mais além na tela sem precisar de tantos textos escritos para explicar, o que certamente necessitaria de um orçamento maior e de mais tempo de tela, porém ainda assim é um filme bem marcante e que mostra algo que muitos ainda não enxergam.

O filme se passa em 1973 no Chile, quando o país era considerado um dos mais perigosos do mundo após o golpe de estado de Pinochet. E nos conta a história de Gabriel, que ao sair do Brasil para fugir da ditadura civil-militar em busca de liberdade e de uma nova vida, encontra um contexto de insegurança e violência dos militares e policiais chilenos. Na época, os únicos lugares seguros no país eram as embaixadas e, após três anos no Chile fugindo do exército, Gabriel encontra abrigo na Embaixada Argentina, onde conhece Clara e centenas de brasileiros que estão em busca da sobrevivência. O pai de Gabriel, Fernando, que permaneceu no Brasil, tem a missão de resgatá-los.

O diretor e roteirista Paulo Nascimento tem boas ideias para suas tramas, e consegue contar bem o que tem em sua mente, porém um defeito dele que já peguei nos três filmes dele que conferi é que acaba expandindo demais suas histórias para lados que talvez não precisasse ir, e encurtando outros momentos que talvez merecessem uma melhor atenção, e aqui ele repetiu esse feitio, de modo que dava para seu filme ter uns 20 a 30 minutos a mais para mostrar talvez o que aconteceu com a jovem que foi levada para o estádio, e talvez encurtar um pouco mais o drama ali dentro da embaixada, que aí o filme ficaria mais completo, sobraria tempo para desenvolver algo a mais, e ainda emocionar mais, pois embora o tema seja forte, tenha cenas impactantes bem trabalhadas, faltou o fator que botaria o público dentro do seu filme. Claro que em momento algum estou falando que o longa ficou ruim pela escolha feita, muito pelo contrário, aqui ele fez algo muito melhor que seus outros longas, porém faltou aquele ato que fizesse o público se desesperar, e infelizmente não foi o de Carol Castro como certamente ele e alguns imaginariam que fosse.

E já que comecei a falar das atuações, não lembro de ter visto nenhum dos filmes que o jovem Lucas Zaffari fez, mas aqui mostrou muita expressividade com seu Gabriel, conseguindo ter atos marcantes e cheios de traquejos, e se desenvolvendo bem na tela até chamou bastante atenção com o que fez, claro que com as muitas quebras e um excesso de personagens em cena se perdeu um pouco, mas agradou com o que precisava fazer. O personagem Fernando, pai do protagonista, que Edson Celulari faz é cheio de intensidade expressiva (até demais para um empresário), e por pouco não rouba as cenas do filme, de modo que poderia ter sido mais contido de trejeitos, mas a representação de alguém de sucesso que tinha muitas influências no governo e que acabou ajudando sempre é bacana de se mostrar, e isso o ator fez bem na tela. A personagem Clara de Carol Castro talvez tivesse um impacto maior se sua trama tivesse sido mais desenvolvida na tela, pois até nos é contado tudo o que aconteceu e o que ela vivenciou, mas isso falado por outro personagem não marca o público, de modo que acabou ficando apenas como uma mulher maluca que está ali no meio, e embora ela tenha feito isso brilhantemente, com uma cena final impactante e bem forte, faltou o ato emocional mesmo para quem confere. Ainda tivemos outros bons personagens vividos por Nicola Siri com seu Gonzaga sempre solicito e que praticamente conta tudo para o protagonista, e claro Néstor Guzzini como o embaixador argentino que foi direto e bem ciente da situação que virou a sua terra ali no meio do caos.

Visualmente a trama se passou quase que inteiramente dentro da embaixada argentina no Chile, mostrando o lado de fora sitiada de soldados prontos para invadir a qualquer momento, e lá dentro a superlotação de pessoas brasileiras e de outras nacionalidades, tendo controles paralelos, pouca comida, pessoas surtando, faixas de protestos e tudo mais, mostrando que a equipe de arte gastou pouco para que um ambiente caótico ficasse marcante na tela. Ainda tivemos algumas cenas no Brasil, mostrando um empresário bem rico visitando embaixadas, tendo contato com generais e tudo mais, e ainda algumas cenas espaçadas para lembrar o que rolou com o jovem e sua namorada ao chegarem no país., além de um último ato com um ônibus e um hangar bem simbólico para a trama.

Enfim, é um filme interessante e marcante que mostra uma perspectiva diferente dos demais longas que envolveram os anos da ditadura tanto brasileira quanto chilena, mostrando o meio do caminho, e assim acaba tendo seu valor histórico e claro uma representação bem trabalhada na tela, valendo então a recomendação de conferida nos cinemas à partir do dia 26/09. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje agradecendo claro o pessoal da Palavra Assessoria e da Paris Filmes pela disponibilidade da cabine de imprensa, e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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