A sinopse nos conta que desde o desaparecimento de sua irmã, Jax cuida, quase sem dinheiro, de sua sobrinha Roki na reserva indígena Seneca-Cayuga, em Oklahoma. Ela usa todo tempo livre para tentar encontrar sua irmã desaparecida e ajudar Roki a se preparar para o powwow, a tradicional reunião dos povos indígenas da América do Norte. Correndo o risco de perder a custódia de Roki para o avô da jovem, Frank, Jax viaja com a sobrinha em busca de pistas para encontrar sua irmã a tempo para o powwow. O que começa como uma busca torna-se aos poucos uma investigação mais profunda sobre as complexidades e contradições de mulheres indígenas vivendo em um mundo colonizado e à mercê de um sistema judicial falho.
A diretora e roteirista Erica Tremblay foi singela demais na escolha do estilo de seu filme, pois dava para facilmente transformar ele em um suspense policial de primeiríssima linha ainda mantendo toda a temática e o envolvimento dramático cultural, porém optou por segurar uma linha cultural e jogar somente com o drama do relacionamento familiar conturbado, das leis que não seguem os ritos dos povos, e claro do mundo aonde a miscigenação entre povos sempre causa conflitos, ou seja, quis ir por uma linha mais segura, porém bem mais densa, e com isso seu filme abre o leque de discussões em um ritmo que acaba soando cansativo, mas que de certa forma agrada pela pegada entregue. Como não conheço seus trabalhos anteriores, vi que já fez outra série indígena, e com isso demonstrou segurança com o tema, porém diria que ela precisa criar dinâmicas maiores com seus filmes, pois faltou emocionar realmente já que optou mais pelo arco dramático do que pelo suspense investigativo.
Quanto das atuações, Lily Gladstone já beirou de ganhar o Oscar esse ano, e se mostrou muito segura em trabalhar suas culturas dentro de diversas tramas, de modo que aqui foi bem densa com sua Jax, trabalhando personalidade e olhares com muita marcação, e principalmente sabendo segurar a dramaticidade sem forçar a tensão do ambiente, de modo que ficamos o longa inteiro tentando saber algo a mais da personagem e isso não é aberto, ou seja, ela leva consigo até o rascunho de como deveria agir e passar para o público, o que funciona em filmes assim, mas que um erro poderia ser fatal para que o filme cansasse o espectador. A jovem Isabel Deroy-Olson foi também cheia de espontaneidade para que sua Rox tivesse carisma e vontade de aparecer, fazendo bem todos os roubos da tia, e sendo bem direta nos atos mais fortes, o que acaba agradando pela personalidade chamativa. Ainda tivemos outros bons personagens, mas que acabam aparecendo pouco, afinal o longa é praticamente da dupla de garotas, valendo leves destaques para Shea Whigham meio que perdido em cena como o avô da garota, Blayne Allen como um traficante da reserva seco e direto demais, sobrando para dar realmente destaque mesmo Ryan Begay como o meio irmão da protagonista, e policial da reserva, mas sem grandes chamarizes expressivos.
Visualmente o longa tem quase que uma estrutura de road-movie, pois inicialmente vemos um pouco das jovens em um rio procurando coisas perdidas que possam dar algum lucro, e claro já mostrando suas mãos rápidas para dar golpes, vemos a casa simples delas na reserva com muitos detalhes mistos de cultura, o ferro-velho do traficante aonde vendem seus roubos, para depois vermos a garotinha na casa do avô com o famoso choque de cultura ao tentar impor algo que não é de sua personalidade, para depois termos toda a fuga pelo estado em busca de mais respostas, passando por golpes em postos, shoppings, e invadindo algumas casas para passar a noite, além de uma farmácia e um ritual de purificação pós-primeira menstruação, além do fechamento no festival com uma boa pegada emocional. Ou seja, a equipe de arte foi bem representativa no que desejavam passar e funcionou bem na tela, sem grandes explosões ou dinâmicas.
Enfim, é um filme bonito, porém simples de dinâmicas, que acabou sendo meio que fechado demais para a proposta, e que como disse no começo poderia ter ido bem mais além, mas ainda assim vale como algo cultural para conhecer um pouco mais do estilo escolhido na tela, então fica a dica para quem curte essa pegada e também estiver aproveitando os dias gratuitos da plataforma. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas ainda devo ver um último filme na AppleTV+ para completar a lista, então abraços e até logo mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...