Golpe de Sorte em Paris (Coup de Chance)

9/20/2024 09:31:00 PM |

Costumo dizer que tem diretores que vou conferir sabendo exatamente o que irei ver na tela, pois suas obras acabam tendo o seu estilo tão próprio que acaba não sendo mais uma novidade na tela, e isso não é algo ruim, muito pelo contrário, acaba sendo uma delícia quando no caso é um Woody Allen com seus quase 100 anos! E porque comecei o texto de "Golpe de Sorte em Paris" dessa forma? Pelo simples fato de que vemos um filme clássico do diretor, com suas boas sacadas, suas trilhas sonoras tradicionais, seus personagens típicos, mas com uma forma tão leve, sarcástica e deliciosa de ver que acabamos viajando pelo espaço cênico, e nos envolvemos tanto com os protagonistas que passamos a torcer e esperar pelo que vai ocorrer ao final, que por incrível que pareça é surpreendente, mesmo esperando por algo do tipo.

O longa nos apresenta a história de Fanny e Jean, dois parceiros que têm tudo o que um casal ideal parecem ter: são realizados na vida profissional, vivem em um apartamento que seria o sonho de qualquer pessoa, em um dos melhores bairros de Paris e parecem estar completamente apaixonados e felizes como se todos os dias fossem o primeiro dia juntos. No entanto, um dia Fanny têm os seus caminhos cruzados, pelo acaso, com Alain, um antigo amigo de colégio e que agora é escritor, ela é imediatamente rebatida ao encantamento. Eles se reencontram muito rapidamente e aos poucos vão se conhecendo cada vez mais, colocando a Fanny a entender que ela está vivendo uma vida da qual não gostaria, abrindo margem aos conflitos entre o controle e a imprevisibilidade.

Em seu primeiro filme não falado em inglês, o diretor e roteirista Woody Allen volta a Paris, aonde foi na minha opinião o seu melhor filme, para trazer com um frescor uma trama que acaba misturando traição, investigação e acaso, que de uma maneira tão imponente e bem colocadas na tela não acaba sendo incômoda, muito pelo contrário, ela floresce como dúvidas, se impõe como afirmações, e se desenvolve sem abusar do expectador como algo bem sacado e agradável de ver, ao ponto que vamos montando junto com o diretor a história na tela e esperando que tudo dê muito certo, ou não, e isso como é comum dele, acaba sendo brilhante de ver. Não sei se esse será seu último filme, mas ainda fazendo tão bem seu serviço, para nossa alegria, gostaria de ver outros mais.

Quanto das atuações, estava acostumado a ver Lou de Laâge com semblantes mais densos em outros filmes, que aqui sua Fanny estava tão solta na tela, que mesmo seus atos com trejeitos mais preocupados acabaram sendo leves e bem encaixados na tela, tendo graciosidade e também estilo, o que mostra um acerto da direção em escolher ela, de modo que funciona sem precisar apelar, e agrada com atos simples bem feitos. Já Melvil Poupaud trabalhou seu Jean com um semblante meio que sério e até meio que psicótico, que qualquer um realmente desconfiaria de todos os seus atos, e isso ele passou bem para que seu personagem chamasse atenção e fluísse na tela, ou seja, mesmo sendo estranho, agradou. Diria que Niels Schneider forçou um pouco com seu Alain, de modo que claro ficou nítido estar cantando a garota desde a primeira cena, mas dava para o personagem pegar mais leve na paixonite desenfreada, mas o ator entregou o papel bem e acabou chamando atenção dentro do seu tempo de tela, e assim acertou também. Ainda tivemos boas cenas com a mãe da protagonista e também com os investigadores, mas sem dúvida quem acabou chamando atenção foi Sâm Mirhosseini com seu Dragão brucutu pronto para resolver os problemas do rico e levar toda a culpa por dinheiro, ao ponto que soou até divertido na tela.

Visualmente a trama mostrou um apartamento riquíssimo, cheio de ambientes chiques, muitos elementos decorativos bem marcantes como a morada dos protagonistas, uma casa de campo também bem imponente, e o apartamento singelo e boêmio do escritor, juntando ainda muitas cenas em praças e numa floresta para as caçadas, além da ferrovia em miniatura do protagonista, mostrando algo bem requintado e até mimado demais, mas como costumo dizer ricos tem suas excentricidades, e os detalhes nos filmes do diretor sempre trazem algo a mais, e aqui não foi diferente.

Enfim, é um filme que é gostoso de ver, mas que tem um defeito até estranho, de mesmo não sendo longo demais, ele é alongado ao ponto de até parecer bem maior, e mesmo não cansando o espectador, acaba sendo esquisito nesse sentido, mas como não é nada que atrapalhe, não acaba sendo algo que muitos irão sentir, apenas achei que a musiquinha acabou ajudando a dar essa sensação na trama. Sendo assim, é claro que recomendo a conferida, pois pode ser o último filme do diretor da o que é uma pena, mas ainda com muita classe e diversão para quem gosta do seu estilo, então fica a dica. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto logo mais com outras dicas, afinal hoje é sexta, e um filme só é pouco para o Coelho sedento, então abraços e até daqui a pouco.



0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...