Netflix - As Três Filhas (His Three Daughters)

9/24/2024 10:48:00 PM |

A maioria das pessoas têm o péssimo hábito de dar play em filmes introspectivos em momentos meio que errados, pois acabam não entrando por completo na ideia do longa, e isso é um erro gigantesco, afinal o diretor e/ou roteirista escreveram seu longa não apenas para ser visto, mas para dialogar com o espectador, mostrar algo que aconteceu com eles, e claro para que a reflexão flua na tela, então costumo dizer que o melhor momento para assistir filmes desse estilo é estar realmente num dia ruim, ou então pensativo com algo para que as energias batam, e isso muda muito as perspectivas do resultado final do longa. Dito essa ideologia maluca do Coelho, o filme "As Três Filhas" que entrou nessa semana na Netflix mostra bem a essência de conhecer mais a vida de outros familiares nos momentos finais de alguém próximo, aonde você passa a conhecer um pouco mais da vida tanto da pessoa que está indo, como daquela que você apenas julgou um dia sem conviver ou conhecer tudo o que fez no período que esteve ausente ou longe, e essa pegada que foi escolhida até envolve bem, traz alguns elos mais chamativos, e claro conta com boas atuações das protagonistas, mas voltando na minha ideia, se você não se conectar com a trama, a chance de apenas achar tudo cansativo é bem grande.

O longa apresenta a história emocionante e por vezes engraçada de um patriarca idoso e as suas três filhas adultas que deixaram suas vidas para ficar com o pai em seus últimos dias de vida. Katie é uma mãe controlada do Brooklyn que está enfrentando alguns embates com a sua filha adolescente e rebelde. Sua irmã, Christina já se encaixa em um outro padrão de mãe: ela é mais compreensiva e está separada dos seus filhos pela primeira vez. Completando o trio de irmãs está Rachel, diferente das suas outras irmãs, e para desgosto delas, esta nunca deixou a casa do pai e faz o uso da maconha como fuga. As irmãs seguem por três dias voláteis, enquanto a morte do alicerce delas se aproxima, as queixas irrompem e o amor se infiltra pelas rachaduras de um lar fraturado.

O diretor e roteirista Azazel Jacobs acabou criando uma trama tão fechada de ambientes que facilmente daria para qualquer outro diretor dirigi-la em um teatro caso queiram futuramente, pois a grande base da trama está nos diálogos das protagonistas, tendo algumas leves quebras com os enfermeiros, mas quase que todo sendo bem marcado pelas histórias das jovens, seus problemas atuais, passados e tudo que está acontecendo nas suas dinâmicas familiares ali no apartamento do pai que está falecendo, e também fora dali aonde algumas tem suas vidas e desenvolturas. Ou seja, a ideologia da trama foi bem concebida para não precisar depender do ambiente, de elementos cênicos ou de qualquer outra interação que não seja das protagonistas, e nesse formato ele se assegurou em não falhas com o que tinha em mãos, e principalmente não deixou que o longa cansasse o espectador com uma história meio que fúnebre demais, e assim o resultado acaba funcionando e agradando na tela.

Claro que em um filme que a dependência ficou toda a cargo das atuações, não poderiam ter escolhido simples atrizes sem uma explosão dialogal bem marcante, de modo que Carrie Coon coloca para sua Katie toda a explosão que está vivendo fora do ambiente com a preocupação da filha adolescente, aonde acaba projetando também as insatisfações na irmã que viveu sempre calmamente ali com o pai, aonde vemos traquejos densos e dinâmicas fortes por parte da atriz que segura bem toda a trama, e acaba agradando com o que entrega. Já Elisabeth Olsen trabalhou para que sua Christina fosse a base mais calma da trama, meditando e segurando o conflito entre as outras irmãs, experimentando um pouco o estar fora de seu ambiente tradicional, e sua respiração na tela entrega muito da personificação que escolheu, de modo que o único ato que ela sai do eixo, acaba chamando mais atenção ainda das demais, e mostrando que a atriz tem bem essa pegada dupla na maioria dos filmes que faz, ou seja, foi muito bem no que fez. Agora quem imagina que Natasha Lyonne se deixou solta e jogada não vê a personalidade que deu para que sua Rachel fosse densa também, afinal viveu muito mais com o pai do que as demais irmãs, e conhecendo muito mais ele, acaba passando sua visão para as outras, desenvolvendo algo mais marcante e intenso, claro que com uma amplitude bem diferente. Ainda tivemos boas sacadas com a ideia do anjo da morte para o personagem Angel que foi vivido por Rudy Galvan, mas claro tirando o trio de atrizes quem acaba chamando muita atenção no ato final foi Jay O. Sanders como o pai refletindo tudo o que fez em sua vida.

Visualmente o longa é todo fechado em cima de um apartamento simples, aonde ficamos quase que o tempo inteiro na sala com as protagonistas, tendo alguns atos rápidos na cozinha, e outros na rua em frente ao prédio aonde a mais jovem vai para fumar, e claro seu quarto bem bagunçado, de modo que a equipe teve apenas que se ater às roupas antigas, o caderninho aonde a protagonista tenta escrever o obituário do pai, e mais próximo do fim os fios dos equipamentos, mas nada que chamasse atenção ou fosse marcante realmente dentro da proposta artística da trama, tanto que como falei, facilmente o longa pode ser adaptado para uma peça teatral.

Enfim, é o famoso filme básico que vale a conferida mais para reflexões de como lidamos com a vida, com pessoas próximas e outras não tão próximas, e que acaba fluindo bem na tela para vermos as discussões que podem levar ou não a algum lugar, mas principalmente para conhecimento de proximidade, e assim agradar não apenas você, mas todos ao seu redor que precisem daquele algo a mais. Sendo assim fica a dica para verem o longa na plataforma não esperando tanto um filme que vá trazer grandes lições ou entretenimentos, mas que vai agradar ao pensarmos mais além. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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